Sempre que pensamos em moda é quase natural acabarmos puxando imagens mentais de grandes varejistas internacionais, algo que, no entanto, está mudando. Buscando valorizar mais as lojas brasileiras, e as grandes mulheres que estão por trás delas, preparamos uma lista especial com cinco marcas nacionais que você precisa conhecer.
Vale dizer que a moda ainda é um ambiente com forte presença masculina. No ano de 2019, foi observado pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups), que dos mais de 12 mil novos negócios, 84,3% eram liderados por homens e apenas 15,7% por mulheres. Ainda no mesmo ano, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) mostra que 51,8% da população brasileira é composta por mulheres e outros 48,2% homens. Se somos a maior parte do país, porque ainda não estamos ocupando mais lugares que também são nossos? Pensando nessa necessidade de mais mulheres liderando nas cadeiras executivas do mundo da moda, te apresentamos o perfil de cinco donas de marcas nacionais. Confira:
Omissoró
Afro empreendedora, natural de Tiradentes, em São Paulo, Jêniffer de Paula, é dona da Omissoró. A marca de moda começou com venda de turbantes e adornos de ankara africana e hoje também inclui no seu catálogo roupas com estampas bem coloridas e alegres como os povos que a marca homenageia sempre que pode.
“Eu comecei sem ter uma formação empreendedora e fui evoluindo pouco a pouco conforme fui estudando e ganhando aprendizado. As mudanças ainda continuam por aqui, estamos passando por uma reformulação geral, eu estou aprendendo a me ver também como uma designer de moda da marca e em breve teremos uma nova coleção bem diferente do que todo mundo já viu por aqui”, diz. ”Além disso, temos uma outra marca de moda feita de maneira colaborativa com outros empreendedores, a Kilombo Cultural, e estamos fazendo reformulações também por lá para que nossos parceiros também possam atingir com os seus trabalhos o maior número de pessoas”, destaca Jêniffer.
Santa Resistência
Natural do Recôncavo Baiano, Mônica Sampaio, ao sentir que chegou no auge de sua carreira de engenheira, decidiu ser dona do próprio negócio e abriu uma empresa de engenharia onde prestava serviços através de licitação. Porém, sempre teve dentro de si uma insatisfação e inquietude com o que era oferecido como moda no Brasil. Em um momento de instabilidade financeira, onde o setor de construção civil foi fortemente atingido, a empresária encerrou o negócio, mas não a sua vontade de empreender. Ela enxergou tudo isso como uma oportunidade de entrar finalmente no outro ramo.
“Busquei o SEBRAE, que super indico, pelas ferramentas acessíveis que incluem mentorias específicas, gestão financeira e gestão de negócios que foram primordiais para iniciar a Santa Resistência da forma ideal. Após ter essa ideia clara, criei o plano de negócios da empresa, para ter uma visão ao longo prazo de onde eu gostaria de chegar e fui literalmente à luta. Sempre tive bem nítido que a minha maior vitória estaria atrelada ao alcance da marca”, conta Mônica que já teve as roupas da Santa Resistência nos desfiles do São Paulo Fashion Week.
Com peças autorais e estampas que contam histórias por trás de suas memórias afetivas, a empreendedora sabia que para chegar onde queria era necessário muito mais que criatividade. “Fazer moda no Brasil nunca foi fácil por vários fatores e, para mim, uma mulher racializada, iniciando com quase 50 anos, sabia que os obstáculos seriam maiores. Criatividade e vontade não bastam para quem quer se destacar como um bom profissional, é preciso muita pesquisa. Temos que entender como a moda funciona e como ela nos influencia. Encaro a moda como forma de expressão, uma extensão da atitude de quem cria e do público que atinge. Muitas vezes a roupa que você usa é uma manifestação política. Eu levo muito a sério e por isso busquei me aperfeiçoar e aprimorar o meu conhecimento sobre o assunto”, revela. Hoje, Mônica se realiza vendo sua marca vestindo corpos múltiplos e pessoas que se identificam com ela.
Ateliê Blacksoul
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Da zona oeste de São Paulo, Ynara Rafaela, se apaixonou por moda vendo sua tia Neide costurar. Hoje elas trabalham juntas com confecção de acessórios de moda e beleza, como scrunchies e toucas de cetim.
“Minha primeira criação de moda foram algumas bolsas que minha tia me ajudou a costurar quando tinha oito anos, eu resolvi presentear minhas primas na época, que ficaram muito felizes pelo meu primeiro passo. Desde então fui fazendo cursos e me aperfeiçoando na área, em 2016 criei um bazar de moda dos anos 1990 e com o tempo passamos a vender de tudo lá, inclusive peças autorais”, lembra.
No começo da pandemia, sem saber a que pé ficaria o seu negócio, Ynara costurou uma touca de cetim a pedido de uma amiga e, ao postar nas redes sociais, percebeu que o pedido seria um sucesso.
“A touca de cetim acabou se tornando o carro chefe do ateliê e com o tempo fizemos uma coleção voltada para os cuidados com os cabelos contendo além da touca de cetim, a touca difusora, de banho, de hidratação, fronha, xuxinhas e o pente garfo”, conta. “A nossa meta daqui pra frente é trabalhar em coleções de roupa em uma moda acessível que possa atender a todos. Porém, a cada dia está difícil se imaginar tendo sucesso nesse meio. O cenário do mundo da moda no Brasil não é fácil e é pouco valorizado, ainda mais com o constante crescimento da produção fast fashion”, enfatiza.
Ray by Ray
De Sergipe, Raimara Santos Costa, entrou no mundo da moda em maio de 2021. Seu começo profissional foi na área de informática, mas não houve identificação com a profissão. Foi assim que ela decidiu migrar para um comércio de calçados, onde permaneceu como funcionária por oito anos.
“Eu era representante de calçados, mas não da minha marca própria. Já havia notado, antes da pandemia, que toda vez que eu precisava de um look diferente, dentro do meu estilo – sempre gostei de me vestir diferente – eu tinha que ir a Salvador, virar lojas para conseguir me vestir bem e os preços sempre muito altos, o que me decepcionava. Então durante a pandemia tive a ideia de montar um site, onde numa loja online eu pudesse ter peças diferentes e atender a mim e a minha região. E confesso que nem eu esperava tanto sucesso”, relata. Vendo a procura, ela decidiu montar uma loja física em tempo recorde para atender os clientes, onde vende desde roupas casuais até moda festa.
Le Soffist
Biancca Tenuta é cuiabense e empreendedora no ramo de semi-jóias. Ao buscar uma joia para comemorar a sua formatura em Psicologia, ela achou que não foi acolhida e tratada como esperava em um momento tão aguardado e acabou tendo a ideia de empreender. “Eu já vendia jóias na faculdade, mas foi a partir daí que resolvi criar a Le Soffist, pensando em uma curadoria diferenciada onde o cliente pudesse aproveitar toda experiência de comprar uma semi-jóia de uma maneira mais acolhedora e atenciosa. Me inspirei em altas joalherias do Brasil e exterior para tirar esse sonho do papel”, explica.
No ramo desde 2011, Biancca já atendeu muitos famosos, como Mari Saad, Gabriella Lenzi e Luciana Gimenez. “Nossas peças são semi-jóias de luxo e prata 925. Esse ano conseguimos finalmente montar um atacado com as nossas peças e isso trouxe muito valor e visibilidade para a empresa, temos a pretensão de crescer ainda mais no meio daqui para frente”, almeja.
Fonte: Cláudia