Artigo de Marcelo Pimenta*
Já desaprendeu alguma coisa hoje? Num primeiro momento, pode parecer que me confundi e troquei uma palavra da frase anterior, mas não. Minha ideia aqui é provocar uma reflexão sobre o desaprender. Embora esse conceito seja tão importante quanto o aprender, não é um tema tão explorado – e aceito – quanto o aprendizado. Mas deveria ser, porque desaprender é uma das características de que precisamos para inovar.
O corpo humano é, certamente, a máquina mais impressionante já inventada. E, comandando nossos muitos órgãos e sistemas, temos o cérebro, que possui capacidades incríveis de armazenamento. Nosso processo de aprendizagem tem como base as coisas que já armazenamos (nossas memórias), pois são elas que conectam o desconhecido (a novidade) a algo que já conhecemos, criando assim um novo aprendizado que, por sua vez, será guardado na memória e utilizado para aprendermos mais e mais.
O caminho inverso, o desaprender, acaba sendo bem mais difícil, pois envolve, mais do que a compreensão e aceitação do novo, a substituição de algo em que acreditávamos e que, muitas vezes, já estava enraizado em nossa mente. Imagine, por exemplo, que o João, um professor com décadas de carreira, sempre tenha baseado suas aulas em alguns livros e suas avaliações em textos que os alunos desenvolviam em sala de aula. Após a popularização dos computadores e da internet, João precisará, pelo menos, adequar seus métodos de ensino. Para começar, ele vai ter que aprender a usar um computador, a usar a internet, e, provavelmente, vai receber as tarefas dos alunos em arquivos digitais. Para isso, João terá que desaprender algumas coisas também, como ter apenas livros como base de seu curso; as aulas serão muito mais eficazes se ele combinar os livros, filmes, sites, jogos etc.
Para que João, ou qualquer um de nós, consiga desaprender, é preciso afiar nossa curiosidade e nos livrar de preconceitos. Se João acreditar que os computadores só servem para dispersar seus alunos, por exemplo, vai ser impossível desaprender; além disso, ele e seus alunos vão perder uma ótima ferramenta de aprendizagem. Aí está uma vantagem do desaprender: ele libera espaço para aprendermos novas maneiras, mais adequadas e modernas, para solucionar problemas.
Portanto, se você quer inovar, invista no desaprender. Esse é um exercício interessante, capaz de abrir nossos olhos para novos caminhos e soluções que antes não enxergávamos, por causa de lições e conceitos antigos, enraizados em nossa mente.
*Menta (Marcelo Pimenta) é jornalista com formação em marketing. Um dos precursores do empreendedorismo digital no Brasil, professor de inovação da pós graduação da ESPM, sócio da Conectt e do Laboratorium e criador do blog mentalidades