Medo de infecção e incertezas
Os R$ 172 bilhões de vendas perdidas pelo comércio varejista brasileiro de meados de março até hoje por causa do período de isolamento social devem demorar para serem recuperados. Nas cidades onde a reabertura foi autorizada, lojas de shopping estão vendendo até 70% menos em relação ao período anterior à quarentena. No comércio de rua, a situação é menos pior, com queda de até 40%.
A falta de ação coordenada de reabertura de outros setores, como escolas e transporte coletivo, além do medo de contaminação da doença e a queda na renda da população frearam uma retomada mais forte do varejo onde ele foi liberado.
Em Florianópolis, por exemplo, onde o comércio reabriu há um mês os varejistas ainda estão cambaleantes. “Quem está bem vende hoje 20% do que vendia antes da pandemia”, conta Rodrigo Rossoni presidente da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (ACIF), mencionando o varejo em geral. Ele explica que o comércio foi reaberto, mas as escolas e o transporte público, não. Essa falta de coordenação entre os setores impede o fluxo de consumidores às ruas e às lojas.
Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostra que mesmo com a reabertura, as vendas do comércio de produtos não essenciais em Santa Catarina continuaram no vermelho em relação ao período pré-pandemia, embora com perdas bem menores comparadas a Estados que ainda enfrentam restrições. Nas contas do economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, nas últimas quatro semanas, já com o varejo autorizado a funcionar, o comércio catarinense deixou de vender R$ 3,4 bilhões. Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Goiás, onde está o Distrito Federal, Estados onde o comércio já foi liberado, também amargaram perdas.
Tito Bessa, dono da rede de artigos de vestuário TNG, com 165 lojas no País, das quais 25 abertas e espalhadas por Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Paraná e Distrito Federal, notou resultados distintos entre lojas de shopping e lojas de rua reabertas. Nos shoppings, a queda de vendas nas cidades onde o comércio foi reaberto chega a 70% e nas lojas de rua, a retração varia entre 30% e 40%.
“A céu aberto, a tendência é o consumidor se sentir mais seguro, mas não sei por que está acontecendo isso. Os empreendedores de shopping estão tomando muito cuidado”, diz Bessa, presidente da Associação Brasileira dos Lojistas satélites (Ablos). Nos quatro shoppings reabertos do grupo Multiplan, localizados em Canoas (RS), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR) e Brasília (DF), o movimento de consumidores está 50% menor do que o habitual, diz o vice-presidente institucional, Vander Giordano.
Nabil Sahyoun, presidente da Associação de lojistas de shoppings (Alshop) confirma o recuo. Nas suas contas, os shoppings que reabriram nos últimos 15 dias registram queda de 60% no número de pessoas circulando em relação a maio de 2019. Giordano vê um ponto positivo no menor fluxo de pessoas. “Isso ajuda a garantir o funcionamento das nossas medidas de preservação da saúde.” Um ponto levantado pelo executivo é o tempo de permanência de consumidores nos shoppings, que tem sido menor. O reflexo é uma conversão de vendas maior. Esse movimento também foi notado por Rossoni. “Quando as pessoas vão ao shopping, vão para comprar”.