O porcentual de famílias com dívidas no País renovou recorde histórico em julho, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O cenário é pior para as famílias com renda de até dez salários mínimos. Entre os entrevistados, aumentou o número dos que afirmaram que estão com as contas atrasadas e dos que não terão como pagar a dívida.
Em julho, o total de endividados foi de 67,4%, frente a 64,1% em igual período do ano passado e a 67,1%, em junho. Já o porcentual dos que estão sem pagar contas é de 26,3% e o dos que não vão ter como quitar suas dívidas, de 12%.
O cartão de crédito segue liderando o ranking dos principais tipos de dívida, com 76,2% do total. Em seguida aparecem carnês, com 17,6%, e o financiamento de veículos, com 11,3%. Porém, nos últimos meses, na pandemia,ganharam relevância as dívidas com crédito consignado, crédito pessoal, carnês e as modalidades de financiamento.
O número de famílias com dívidas apresentou tendências diferentes entre as faixas de renda pesquisadas, tanto na comparação mensal quanto na anual. Para as famílias com renda de até dez salários mínimos, o porcentual de famílias endividadas alcançou o recorde de 69% em julho. Para as famílias com renda acima de dez salários mínimos, a proporção do endividamento diminuiu para 59,1% em julho.
O porcentual das famílias que se declararam muito endividadas diminuiu de 16,1% em junho para 15,5% em julho. Essa foi a primeira queda apresentada pelo indicador desde janeiro deste ano. Na comparação anual, porém, houve alta de 2,2 pontos percentuais. Já o número de famílias que disseram estar pouco endividadas aumentou para 27% em julho, ante 26,5% em junho, e se manteve estável em comparação aos 27% de julho de 2019.
Em relação à capacidade de pagamento, entre as famílias endividadas, a parcela média da renda comprometida com dívidas alcançou 30,3% da renda, ante 30,4%, em junho, e 29,9% em julho do ano passado. É a primeira queda apresentada pelo indicador também desde janeiro de 2020.
O tempo médio de comprometimento com dívidas entre as famílias endividadas tem aumentado, segundo a CNC, e chegou a 7,4 meses em julho, sendo que 21,2% delas estão comprometidas com dívidas até três meses; e 34,5%, por mais de um ano.
“Apesar do contexto negativo em relação ao mercado de trabalho e à renda, a queda das taxas de juros e a inflação controlada em níveis historicamente baixos são fatores que podem favorecer o poder de compra dos consumidores. Além disso, os benefícios emergenciais também têm impactado positivamente o consumo, especialmente dos itens considerados essenciais, e auxiliado o pagamento de despesas”, afirmou a CNC em nota.
A confederação defende ainda a ampliação do acesso ao crédito com custos mais baixos e o alongamento dos prazos de pagamento das dívidas, para, com isso, mitigar o risco do crédito no sistema financeiro.
Estadão Conteúdo