As lideranças da União Europeia, entre elas o presidente francês Emmanuel Macron, vão reunir nesta quinta-feira, 1º de outubro, em Bruxelas, para um encontro especial para discutir sanções comerciais à Turquia. O motivo: as disputas do país liderado por Recep Tayyip Erdogan com a vizinha Grécia.
Os dois países vêm fazendo exercícios militares no mar do Mediterrâneo há meses, como forma de provocação de ambos os lados. Na origem da escamaruça está o interesse da Turquia em explorar reservas de gás natural numa região marítima que a Grécia diz que é dela.
Nos últimos meses, países da União Europeia como França e Chipre vêm pedindo aos demais membros da União Europeia para atender ao pleito da Grécia, membro do bloco econômico. No mês passado, o belga Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, um fórum deliberativo da UE aos assuntos mais sensíveis, disse que uma resposta aos turcos sairia ainda em setembro. Segundo Michel, “todas as opções estavam na mesa” para interromper a atividade da Turquia nas águas reclamadas pela Grécia. Inclusive, aí, sanções comerciais.
Só que as penalidades econômicas à Turquia estão longe de ser uma unanimidade entre as autoridades da União Europeia. O bloco mantém relações muito estreitas com a Turquia. Em 2019, o comércio entre as regiões chegou a 130 bilhões de euros (algo como 800 bilhões de reais).
Além disso, o governo de Erdogan tem a simpatia dos líderes europeus num tema bastante sensível ao bloco: o controle do fluxo imigratório à Europa. A Turquia tem recebido ajuda da União Europeia para acomodar boa parte dos refugiados da guerra civil na Síria, que vai completar dez anos em 2021.
Atualmente, 3,5 milhões de sírios vivem na Turquia. A grande maioria ganhou o direito de trabalhar no país. Em contrapartida, não podem deixar a Turquia em direção à Europa em busca de empregos com salários mais altos.
Com as sanções comerciais, o receio é de que o governo de Erdogan abra as fronteiras, provocando uma crise migratória maior que a de 2015, quando mais de 1 milhão de refugiados sírios cruzaram as fronteiras do bloco.
Tudo isso posto à mesa, a discussão sobre as sanções comerciais devem começar hoje e só terminar em 12 de outubro, data marcada para uma nova reunião sobre o tema. “Há ainda muitas dúvidas sobre que tipo de penalidade comercial poderia ser adotada neste caso”, diz Carlos Braga, Carlos Braga, professor de economia internacional na Fundação Dom Cabral e mediador de negociações com a UE quando trabalhou no Banco Mundial, nos anos 2000.
Fonte: Exame