Em um dos vídeos postados nas redes sociais, e que fizeram seu número de seguidores quintuplicar, o atleta brasileiro Douglas, da seleção de vôlei, pula e dança em cima da sua cama na Vila Olímpica de Tóquio, onde ficará hospedado durante as olimpíadas.
A brincadeira, na realidade, não era inédita e havia começado dias antes, quando os primeiros atletas chegaram para os jogos e encontraram em seus apartamentos camas de papelão.
Não é de hoje que correm histórias da agitada vida noturna das vilas olímpicas, onde os atletas buscam descarregar a tensão após as provas, coisa que o sexo resolve muito bem — e não dá para esperar celibato em um condomínio cheio de jovens no auge da sua forma física.
O boato que correu na comunidade esportiva era de que as camas de papelão seriam uma estratégia para dificultar o romance entre os participantes dos jogos. Douglas provou que não.
O mobiliário é perfeitamente seguro não apenas para dormir, mas também para praticar outras atividades que envolvem habilidades atléticas ou, até mesmo, acrobáticas. Se esse foi um requisito da organização da Olimpíada ao encomendar as camas junto ao fornecedor, provavelmente, nunca será revelado. A justificativa oficial para o mobiliário de papelão está na sustentabilidade.
De fato, os Jogos Olímpicos de Tóquio têm tudo para se tornar os mais sustentáveis da história. A organização do evento estabeleceu como um dos seus objetivos promover a economia circular como um legado a ser deixado para os 14 milhões de habitantes de Tóquio no futuro. A começar pelas medalhas.
Os símbolos das conquistas foram inteiramente feitos a partir de materiais preciosos extraídos de eletrônicos descartados. Segundo o site oficial dos Jogos Olímpicos de Tóquio, entre abril de 2017 e março de 2019, foram coletados mais de 6,21 milhões de aparelhos como celulares, laptops e câmeras digitais, que totalizaram quase 79 mil toneladas. Desse volume, foram extraídos 32 quilos de ouro, 3,5 quilos de prata e 2,2 quilos de bronze, o suficiente para produzir cerca de 5 mil medalhas.
Na hora de subir ao pódio, os atletas pisarão em plástico reciclado de rejeitos domésticos, iniciativa que teve o patrocínio da empresa de bens de consumo P&G. Nem a tocha olímpica escapou da circularidade: o alumínio utilizado veio de casas temporárias construídas para os desabrigados do terremoto de 2011.
“Ao mostrar para o mundo os resultados do nosso compromisso, esperamos gerar um impacto positivo nos jogos futuros e em outros eventos esportivos”, justifica o comitê organizador no relatório de sustentabilidade pré-jogo. Ao final das competições, o comitê organizador espera ter reciclado ou reutilizado 99% de todos os materiais empregados no evento.
Sem elefantes brancos
Ao contrário do que geralmente acontece em jogos olímpicos, Tóquio não se engajou em uma onda de construções ambiciosas, faraônicas e inúteis para qualquer outra atividade. Mais da metade das edificações que serão utilizadas já existiam, e ainda receberam novos equipamentos que aumentam a eficiência energética da construção.
Na Vila Olímpica, as construções são todas temporárias e serão desmontadas após o evento. Toda madeira utilizada foi doada por 60 prefeituras, por meio da operação BATON, que na sigla em inglês significa “construindo a vila dos atletas com madeira nacional”. O objetivo é evitar a emissão de carbono proveniente da importação de madeira.
As emissões de gases de efeito estufa, aliás, serão 100% neutralizadas. Mas isso já está se tornando um padrão das olimpíadas.
Energia de hidrogênio
Os jogos japoneses também estão sendo chamados de a Olimpíada do hidrogênio. As caldeiras da vila olímpica e a tocha estão sendo abastecidas com o combustível, considerado a próxima geração de energia renovável. Há uma verdadeira corrida pelo desenvolvimento do hidrogênio como combustível acontecendo no mundo inteiro.
A Alemanha espera investir 9 bilhões de euros (10,6 bilhões de dólares) até 2030; França e Portugal, 7 bilhões de euros cada (ou 8,25 bilhões de dólares); Reino Unido, 12 bilhões de libras (ou 16,5 bilhões de dólares); e Japão e China, US$ 3 bilhões e 16 bilhões de dólares, respectivamente, para criar uma maneira barata de obter o gás a partir de fontes renováveis — como, por exemplo, a cana-de-açúcar, que pode ser utilizada para gerar a eletrólise da água com a fonte energética, processo pelo qual se obtém o hidrogênio verde.
Não por acaso, o Comitê Olímpico Internacional declarou que Tóquio é a cidade mais bem preparada para sediar uma olimpíada na história. Essa edição dos jogos está repleta de marcos quebrados. Foi a primeira a ser adiada, a mais sustentável e, como é de se esperar, a mais cara.
A conta, até o momento, beira os 20 bilhões de dólares, 5 bilhões a mais do que a Olimpíada de Londres, em 2012, e quase 7 bilhões a mais do que a do Rio de Janeiro, em 2014. Resta esperar que os atletas também estejam afim de quebrar alguns recordes.
Fonte: Exame