Supermercados com prateleiras vazias, pubs sem cerveja, McDonald’s sem milk-shake, KFC sem frango. Isso pode parecer uma cena de filme mas é, na verdade, a nova realidade do Reino Unido. Com a escassez de produtos e serviços aumentando a cada dia, o país passa por uma crise que vai muito além do que pode ser visto nas prateleiras — ou a falta disso — afetando toda uma cadeia de abastecimento.
As vagas de emprego cresceram 20% se comparadas ao nível pré-pandemia. A necessidade de mão de obra atingiu quase todas as profissões, incluindo programadores de computador, assistentes de saúde e trabalhadores agrícolas — já que é um momento chave para as colheitas e os alimentos estão apodrecendo nos campos.
No entanto, o Reino Unido também tem quase 250 mil desempregados a mais do que antes da pandemia. E isso sem contar os cerca de um milhão de pessoas que ainda têm licença — não trabalhando ou trabalhando meio período enquanto recebem subsídios salariais do governo. Muitos provavelmente perderão seus empregos quando o programa terminar neste mês.
O mercado de trabalho está em um impasse: os empregadores têm vagas para preencher e muitas pessoas estão procurando trabalho, mas as vagas não correspondem ao que as pessoas estão preparadas ou querem fazer. Os Estados Unidos estão passando pelo o mesmo problema e já ameaçam os enormes planos de construção de infraestrutura do presidente Biden.
Mas qual a explicação desse cenário? Para especialistas, é uma combinação do Brexit com a pandemia, que acabou contribuindo para a escassez de trabalhadores e introduziu novas barreiras comerciais com a União Europeia.
A pandemia pressionou os produtores de alimentos e restaurantes para encontrar trabalhadores. Nos últimos meses, a falta de funcionários foi reforçada pelas regras do Reino Unido — que foram derrubadas na última semana — que exigem que as pessoas se isolem se entrarem em contato com alguém que tenha sido infectado com o coronavírus.
Mesmo sem essa regra, outros fatores mostram que o problema não desapareceu, como a falta de motoristas de caminhão que contribuiu para a interrupção do fornecimento de produtos. Segundo a Road Haulage Association, faltam no Reino Unido cerca de 100.000 caminhoneiros, 20.000 dos quais são cidadãos da UE que deixaram o país após o Brexit.
Para driblar esse obstáculo, cada empresa tenta encontrar uma saída. A varejista Tesco, por exemplo, tem oferecido aos motoristas de caminhão um bônus de adesão de mil libras. Já a Morrisons, informou que está trabalhando para treinar funcionários que podem se tornar motoristas de caminhão.
E as empresas já começaram a sentir os impactos. Dados da produção de agosto, divulgados pla IHS Markit, mostraram uma forte desaceleração da economia do Reino Unido. As empresas relataram restrições generalizadas à atividade empresarial devido à falta de funcionários e problemas da cadeia de abastecimento, com problemas principalmente nos setores de manufatura e serviços.
“A análise da pesquisa sugeriu que as incidências de redução da produção devido à escassez de pessoal ou materiais foram 14 vezes maiores do que o normal e as maiores desde o início da pesquisa em janeiro de 1998”, afirmou a IHS Markit.
Fonte: Exame