O risco de espionagem e ameaça à segurança cibernética levantado pelos EUA contra a participação da Huawei na infraestrutura do 5G é considerado um tema superado pela companhia chinesa de equipamentos de telecomunicações no Brasil.
Em entrevista ao GLOBO, o presidente da companhia no país, Sun Baocheng, afirma que a decisão do governo brasileiro de não criar restrições ao fornecimento de seus equipamentos às teles para a construção da rede 5G pode servir ainda de referência para outros países mundo afora, igualmente pressionados pelos americanos.
A Huawei sofre restrições nos EUA, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia e Japão. Diz ainda que já trabalha com as operadoras no Brasil em projetos para a implementação da nova rede e estuda a produção de celulares no país.
Como o senhor analisa o adiamento da publicação do edital do 5G pela Anatel?
O adiamento da publicação do edital não preocupa a Huawei, uma vez que já foi amplamente divulgado que não haverá restrição a nenhum fornecedor. Nós não acreditamos que o adiamento da publicação do edital esteja relacionado à Huawei, mas estamos convictos de que quanto antes o leilão ocorrer o país poderá usufruir dos benefícios que a tecnologia 5G irá proporcionar ao Brasil.
Quais foram os esforços que a Huawei fez para poder fornecer infraestrutura de 5G para as operadoras?
Nos últimos dois anos, a Huawei tentou o máximo possível se comunicar com o governo, o Ministério das Comunicações e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Nos últimos 26 anos, não ocorreu nenhum acidente de segurança cibernética. Em fevereiro, uma delegação brasileira visitou a China e a Huawei.
Nessa visita, eles analisaram a nossa tecnologia, visitaram o laboratório de segurança cibernética e chegaram à conclusão de que a Huawei não traz risco de segurança cibernética. E as principais operadoras de telecomunicações são nossas clientes.
O cenário do Brasil pode servir de referência para que outros países possam avaliar ou repensar a atuação da empresa?
O Brasil é o mercado mais importante para a Huawei entre os estrangeiros. No Brasil, temos investido em outras verticais, como o setor público, financeiro, infraestrutura e energia. Como é um país grande, a decisão do Brasil vai ser uma referência muito importante para outros países.
A mudança de discurso no governo brasileiro em relação aos riscos de segurança da empresa tem relação com a saída de Donald Trump da presidência dos EUA?
Os políticos americanos sempre criticaram a Huawei, mas nunca mostraram provas ou fatos para justificar a acusação de espionagem ou de segurança cibernética. Agora, a mudança do governo brasileiro e a escolha do governo não têm a ver com a mudança do presidente americano.
O Brasil está escolhendo a opção que é melhor para o país. Não é só para a sociedade brasileira. É também para as operadoras. Essa decisão mostra que o país está aberto para as empresas internacionais.
O senhor, então, considera essas acusações um assunto superado no Brasil?
Já foi superado. Quem acusa a Huawei são sempre os políticos americanos, sem nenhuma evidência.
E o senhor considera uma vitória para a Huawei?
Não é só uma vitória para a Huawei, mas para o setor, porque é algo que fará bem para todo mundo, pois vai criar um ambiente melhor de negócios. E isso mostra que o Brasil é um bom país para investir. Vamos aumentar os investimentos.
Com o lançamento da rede 5G, o governo quer ter sua rede privativa de telecomunicações. A Huawei pretende atuar nessa área se for permitido?
A rede privativa não está vinculada à rede 5G. A rede privativa é uma rede dedicada para o governo federal, e a de 5G será uma rede comercial e pública para todos. Até agora o governo ainda não publicou as regras para a construção dessa rede privativa. Vamos seguir todos os requerimentos do governo sobre segurança cibernética e estamos esperando as regras serem publicadas.
Já temos redes privativas para alguns segmentos, como o de energia e setor público (que atende cidades e estados, por exemplo).
De que forma o atraso na publicação do edital do 5G atrapalha o desenvolvimento da rede no país?
Já estamos trabalhando com os operadores para preparar a construção de rede 5G. No aspecto da tecnologia, não há problema em lançar os serviços neste ano. Mas o lançamento comercial é uma decisão das operadoras. Já fizemos alguns pilotos no Brasil, como na área agrícola e em centros de produção inteligente.
EUA, China, Japão, Coreia do Sul e alguns países da Europa já lançaram o 5G. Nesses dois anos, o ecossistema amadureceu lá fora, com o lançamento de aparelhos e redução de custos, por exemplo. E isso pode ser bom para o Brasil e reduzir esse atraso.
Quais são os principais planos de investimento em fábrica?
O nosso foco é a infraestrutura de telecomunicações, rede de transmissão e rede sem fio. Em 5G, lançamos um centro de inovação que recebeu investimentos de R$ 35 milhões.
Pretendem voltar a vender smartphones no Brasil?
Ainda estamos analisando essa possibilidade. A melhor forma para atuar no segmento é produzir localmente. Estamos vendo custos e receitas.
Fonte: O Globo