Incentivadas pela possibilidade de ter o trabalho remoto como uma política duradoura na empresa, muitas famílias viram a chance de antecipar a meta de viver no interior do estado. Afinal, para que enfrentar o trânsito de uma grande cidade e problemas de mobilidade quando se é necessário ir ao escritório apenas alguns dias por semana?
O resultado foi uma explosão de preços: empreendimentos de médio e alto padrão em cidades fora da região metropolitana chegaram a custar até 108,9% mais em apenas 12 meses. É o que aponta um estudo da consultoria Brain, feito em 65 cidades de São Paulo que registram os maiores números de loteamentos disponíveis, para a EXAME. O estudo compara o segundo trimestre de 2021 com o mesmo período de 2020.
Segundo a pesquisa, entre loteamentos fechados, os condomínios, as cidades que mais registraram aumentos de preço foi Itu, a 98 km da capital, no qual o preço do metro quadrado passou de R$ 424 para R$ 886 no período, um crescimento de 108,9%. Em Monte Mor, localizada na região metropolitana de Campinas e onde o metro quadrado custava R$ 524 no segundo trimestre de 2020, já não há mais estoque de unidades em condomínios fechados.
Veja abaixo o ranking de alta dos preços de loteamentos fechados:
Município | 2T2020 | 2T2021 | Variação |
Monte Mor | 520 | Acabou o estoque | – |
Itu | 424 | 886 | 108,9% |
São José do Rio Preto | 509 | 858 | 68,6% |
Boituva | 360 | 488 | 35,6% |
Nova Odessa | 500 | 650 | 29,9% |
Indaiatuba | 780 | 1.004 | 28,8% |
Presidente Prudente | 649 | 795 | 22,5% |
Barretos | 463 | 559 | 20,6% |
Ribeirão Preto | 572 | 687 | 20,1% |
Franca | 699 | 800 | 14,5% |
Jundiaí | 971 | 1.089 | 12,2% |
Piracicaba | 595 | 658 | 10,6% |
Bauru | 609 | 665 | 9,2% |
São José dos Campos | 669 | 726 | 8,6% |
Salto | 413 | 440 | 6,7% |
Marília | 710 | 751 | 5,9% |
Sorocaba | 513 | 502 | -2,1% |
Já quando são analisados os loteamentos abertos, que são casas fora de condomínios, o preço subiu mais em Itapeva, a 286 km da capital, onde o metro quadrado passou de R$ 414 para R$ 681, uma alta de 64.4%. Em Boituva, a 116 km da cidade de São Paulo, empreendimentos ficaram em média 48% mais caros, e o metro quadrado passou de R$ 442 para R$ 654. Em Cotia, a 32 quilômetros da capital, os preços subiram 43,9%.
Veja abaixo as cidades nos quais os empreendimentos fora de condomínios mais subiram de preço:
Município | 2T2020 | 2T2021 | Variação |
Itapeva | 414 | 681 | 64,4% |
Boituva | 442 | 654 | 48,0% |
Cotia | 489 | 704 | 43,9% |
Ribeirão Preto | 481 | 642 | 33,5% |
Marília | 313 | 400 | 27,7% |
São José do Rio Preto | 424 | 532 | 25,6% |
Birigui | 322 | 403 | 25,2% |
Votuporanga | 383 | 479 | 25,2% |
Monte Mor | 469 | 587 | 25,2% |
Lins | 263 | 315 | 19,6% |
Jundiaí | 581 | 691 | 19,0% |
Franca | 531 | 628 | 18,3% |
Nova Odessa | 433 | 495 | 14,2% |
Taubaté | 440 | 468 | 6,2% |
Itapira | 471 | 490 | 4,1% |
Itu | 559 | 575 | 2,9% |
Serrana | 494 | 468 | -5,1% |
Segundo a Brain, um indicador claro do aquecimento do mercado, além da alta dos preços, é o estoque de imóveis disponíveis, o menor desde 2017. Existem 32 mil unidades à venda nas 65 cidades. Em 2017, eram 61 mil.
Em Itu, restam apenas 1,7% do total de loteamentos fechados, foram disponibilizadas 1.236 unidades no mercado. Em Jundiaí, restam 2,4% de 7 empreendimentos lançados. Em Campinas, no final do trimestre haviam apenas 614 unidades em estoque, considerando loteamentos abertos e fechados, porque as vendas estão muito aquecidas na cidade, diz Fabio Tadeu Araújo, sócio diretor da Brain
Segundo Rodrigo Gordinho, CEO da plataforma de venda de loteamentos 1M2, municípios localizados de 100 quilômetros a 150 quilômetros da cidade de São Paulo, como Itupeva, Atibaia, Campinas, Itu, Bragança Paulista e Itatiba, são os mais buscados. “Eles atraem o paulista que pode fazer um bate e volta em uma reunião na cidade”. No caso de cidades que ficam a mais de 150 quilômetros da cidade, o perfil, conta Gordinho, é majoritariamente de busca por casas de temporada e finais de semana.
Cassia Castro, sócia da Eixo Inteligência Imobiliária, empresa que prospecta e negocia terrenos para incorporadoras no estado, aponta que a tendência atinge também empreendimentos de luxo. Condomínios como Quinta da Baroneza, Fazenda da Grama e Terras de São José, dentre outros, viram a venda de lotes e casas explodir. “Quem tinha imóveis prontos conseguiu vendê-los com ágio de até 50%, algo nunca imaginado no mercado”.
Perfil do público e empreendimentos
Jovens e casais com filhos pequenos ainda não se enquadram no perfil do comprador de imóveis no interior, diz o sócio diretor da Brain. “A pandemia acelerou a compra de um público que já vinha sondando unidades nas regiões, que é o de casal com filhos mais maduros, que têm seus próprios carros. São semi aposentados, executivos e gestores, a maioria na faixa dos 50 anos”.
O público busca majoritariamente cidades com estrutura de serviços próxima, inclusive varejo, com escola, atividades esportivas e estrutura de saúde. “A cadeia logística no país se sofisticou por conta do aumento do uso do e-commerce, muitos compradores viram que com tecnologia podem receber qualquer coisa, e não precisam estar em um centro urbano para isso”.
A loteadora Corpal desenvolve empreendimentos no interior de São Paulo e, ao criá-los, busca valorizar áreas verdes e o conceito de qualidade de vida fora das grandes cidades. “O trabalho remoto facilitou o objetivo de morar no interior e trabalhar em São Paulo. Há uma inversão: a segunda casa no interior se tornou a primeira moradia”, diz Fernando Fuziy, CEO da incorporadora.
Quem deseja fazer essa migração da grande cidade para o exterior busca, geralmente, empreendimentos de padrão mais alto, completa o executivo. “Vemos uma baixa quantidade de estoque de unidades mais caras, diferente das mais populares, que tem mais opções“. Segundo a 1M2, a busca se concentra em condomínios fechados com área de lazer para a família usufruir.
Sobre o aumento do preço do metro quadrado, Fuzuy ressalta que não foi causado apenas pela demanda, mas também pela explosão de preços dos insumos. “Em nossos empreendimentos aumentamos o preço em 30%. Consideramos um repasse da inflação de materiais”.
Outra questão que colabora para o aumento dos preços é um tempo maior para aprovação de projetos, que chegam a ter 700 unidades. “Isso valoriza os empreendimentos prontos, já que torna mais difícil suprir a demanda, que explodiu”.
Condomínios fechados
Município | Total Lançado | Estoque | Disponibilidade sobre o total lançado | Preço Médio | m² | Preço/m² |
Cotia | 2.859 | 502 | 17,6% | 147.625 | 168 | 877 |
Indaiatuba | 3.956 | 430 | 10,9% | 354.587 | 353 | 1.004 |
Araçatuba | 3.408 | 413 | 12,1% | 140.066 | 292 | 480 |
Piracicaba | 1.489 | 382 | 25,7% | 224.492 | 341 | 658 |
Ribeirão Preto | 2.143 | 204 | 9,5% | 184.047 | 268 | 687 |
Bragança Paulista | 1.105 | 272 | 24,6% | 192.664 | 460 | 418 |
Jundiaí | 1.737 | 41 | 2,4% | 423.885 | 389 | 1.089 |
São José dos Campos | 1.794 | 71 | 4,0% | 371.107 | 511 | 726 |
Sorocaba | 1.433 | 215 | 15,0% | 257.743 | 514 | 502 |
Araraquara | 1.378 | 329 | 23,9% | 123.655 | 244 | 506 |
Boituva | 834 | 163 | 19,5% | 186.195 | 382 | 488 |
Campinas | 1.424 | 329 | 23,1% | 489.434 | 454 | 1.078 |
Leme | 1.742 | 620 | 35,6% | 199.016 | 346 | 575 |
Mogi Mirim | 1.510 | 448 | 29,7% | 138.445 | 280 | 495 |
Nova Odessa | 1.542 | 32 | 2,1% | 162.869 | 251 | 650 |
Araras | 1.293 | 116 | 9,0% | 157.880 | 324 | 487 |
Marília | 901 | 202 | 22,4% | 282.209 | 376 | 751 |
São José do Rio Preto | 2.294 | 258 | 11,2% | 234.780 | 274 | 858 |
Birigui | 1.145 | 221 | 19,3% | 113.844 | 279 | 408 |
Itu | 1.236 | 21 | 1,7% | 396.478 | 447 | 886 |
Loteamentos abertos
Município | Total Lançado | Estoque | Disponibilidade sobre total lançado | Preço Médio | m² | Preço/m² |
São José do Rio Preto | 6.269 | 797 | 12,7% | 94.053 | 200 | 470 |
Franca | 3.451 | 42 | 1,2% | 143.445 | 228 | 628 |
Fernandópolis | 3.151 | 304 | 9,6% | 68.994 | 270 | 256 |
Itapetininga | 3.703 | 824 | 22,3% | 69.146 | 175 | 395 |
Ribeirão Preto | 4.291 | 482 | 11,2% | 138.607 | 216 | 642 |
Bady Bassitt | 3.445 | 249 | 7,2% | 55.287 | 193 | 286 |
Campinas | 4.840 | 1.771 | 36,6% | 110.245 | 160 | 689 |
Cotia | 2.238 | 795 | 35,5% | 114.115 | 162 | 704 |
Matão | 3.800 | 622 | 16,4% | 78.293 | 206 | 380 |
Piracicaba | 3.466 | 291 | 8,4% | 116.627 | 179 | 651 |
Sertãozinho | 3.130 | 310 | 9,9% | 80.766 | 222 | 364 |
Araras | 2.021 | 516 | 25,5% | 102.917 | 226 | 456 |
Birigui | 1.672 | 337 | 20,2% | 81.517 | 252 | 323 |
Ibitinga | 2.720 | 306 | 11,3% | 66.434 | 195 | 340 |
Pirassununga | 3.222 | 639 | 19,8% | 59.257 | 209 | 283 |
Pitangueiras | 2.925 | 815 | 27,9% | 46.487 | 178 | 261 |
Salto | 3.434 | 961 | 28,0% | 99.923 | 179 | 558 |
Araraquara | 2.748 | 121 | 4,4% | 92.444 | 233 | 397 |
Barra Bonita | 973 | 99 | 10,2% | 62.250 | 186 | 335 |
Batatais | 2.285 | 353 | 15,4% | 58.278 | 250 | 233 |
Itápolis | 1.882 | 298 | 15,8% | 78.312 | 323 | 242 |
Penápolis | 1.457 | 132 | 9,1% | 68.590 | 278 | 246 |
Presidente Prudente | 3.933 | 1.295 | 32,9% | 68.631 | 161 | 427 |
Sorocaba | 2.739 | 642 | 23,4% | 111.125 | 179 | 619 |
Barretos | 2.151 | 485 | 22,5% | 86.003 | 235 | 367 |
Serrana | 2.162 | 53 | 2,5% | 96.747 | 207 | 468 |
Bragança Paulista | 2.016 | 175 | 8,7% | 103.665 | 179 | 581 |
São Manuel | 2.063 | 583 | 28,3% | 62.681 | 208 | 301 |
Catanduva | 1.820 | 141 | 7,7% | 75.926 | 202 | 376 |
Mococa | 1.765 | 152 | 8,6% | 58.792 | 248 | 237 |
Mogi Guaçu | 1.502 | 216 | 14,4% | 80.186 | 200 | 401 |
Assis | 1.444 | 76 | 5,3% | 81.544 | 250 | 326 |
Boituva | 1.223 | 334 | 27,3% | 112.652 | 172 | 654 |
Fonte: Exame