O BomConsórcio — um marketplace de Salvador que digitalizou o mercado secundário de cotas de consórcio — acaba de levantar R$ 30 milhões com a Crescera Capital, numa rodada que vai permitir acelerar seu crescimento e lançar um FIDC próprio.
O investimento foi feito por um veículo cujo capital pertence a 15 sócios da gestora de venture capital — e marca a primeira vez que a Crescera faz um investimento deste tipo.
Um fundo da Crescera já havia investido no BomConsórcio em 2017, colocando R$ 6 milhões na fintech que havia acabado de ser fundada.
De lá para cá, o BomConsórcio se consolidou como líder de mercado com parcerias com as principais administradoras do Brasil — do Bradesco à Caixa, do Banco do Brasil ao Itaú.
A empresa fez um GMV de R$ 400 milhões ano passado e teve receita de R$ 7,5 milhões. Este ano, a expectativa é dobrar tanto o GMV quanto a receita.
O BomConsórcio está resolvendo um problema histórico dos consórcios. Um cliente que compra um consórcio de 60 meses, por exemplo, paga por 10 meses e depois perde o emprego e para de pagar precisa esperar até o vencimento do consórcio para reaver seu dinheiro.
O marketplace da fintech permite que esse cliente venda essa cota de imediato (e de forma segura) com um deságio em relação ao valor final.
O BomConsórcio não criou o mercado secundário do zero. Essas vendas de cotas canceladas e ativas já existiam há anos, mas eram feitas de forma desestruturada (e com muita fraude e ofertas abusivas).
A grande sacada do BomConsórcio foi digitalizar todo o processo de transferência das cotas, dando segurança às duas partes envolvidas na transação — colocando, por exemplo, a figura de um custodiante na jogada.
“Entendemos que conseguimos fazer a diferença baseado em dois pilares: segurança e processos muito bem definidos, e uma relação formal com as administradoras que permite validar todos os dados das cotas,” Jorge Freire, o CEO e cofundador, disse ao Brazil Journal. “Montamos essa operação para criar essa porta de saída para os consorciados.”
Já as administradoras “precisam ter um player como o BomConsórcio como parceiro porque a legislação proíbe que elas próprias comprem as cotas canceladas,” diz Fernando Silva, o gestor da Crescera.
Por enquanto, o marketplace do BomConsórcio conecta consorciados que querem vender suas cotas com fundos de direitos creditórios (FIDCs) interessados em comprar essa cota com um deságio e segurar o título até o vencimento do consórcio.
Com os recursos da rodada, a startup vai abrir o marketplace também para pessoas físicas, e começar ela própria a comprar as cotas, ficando com uma parcela muito maior do economics. Fernando diz que boa parte do capital vai ser usado para comprar as cotas subordinadas — a parcela de maior risco e retorno — de um novo FIDC que vai ser levantado agora.
O BomConsórcio foi fundado em Salvador por Jorge e Claudio Oliveira. Jorge era um empreendedor serial que já havia fundado diversas empresas antes: primeiro, uma companhia de call center vendida para a Atento em 1999; depois, uma empresa de pager em parceria com a Motorola; e mais recentemente a Faculdade de Tecnologia Empresarial.
Com o BomConsórcio, ele foi pioneiro num mercado que já ganhou concorrentes de peso. A Consorciei, fundada um ano depois, levantou R$ 30 milhões há alguns meses numa rodada com a Tera Capital — o family office dos fundadores do Pátria — e a Tarpon.
As duas empresas estão tentando abocanhar uma oportunidade de dar água na boca.
O mercado de consórcios movimenta R$ 100 bilhões por ano no Brasil, dos quais 30% são cotas canceladas (de pessoas que ficaram inadimplentes por mais de 3 meses).
“Obviamente nem todas essas cotas os proprietários querem vender. Mas se você colocar conservadoramente 20%, já dá R$ 6 bilhões/ano só de cotas canceladas, sem falar nas ativas,” diz o gestor da Crescera.
Fonte: Brazil Journal