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Como o caso Prevent Senior muda o futuro dos planos de saúde

Antes vista como um caso de sucesso na gestão de planos de saúde, a operadora Prevent Senior se tornou alvo de graves denúncias no âmbito da CPI da Covid-19. As suspeitas ainda precisam ser investigadas. No entanto, já foram suficientes para levantar o debate a respeito do funcionamento dos planos de saúde no país.

Focada no público idoso, a Prevent Senior cresceu baseada em um modelo de negócio que une operação verticalizada – ou seja, a operadora do plano é também dona dos hospitais usados pelos beneficiários – e foco na medicina preventiva. O modelo tornou possível a oferta de planos de saúde para idosos a preços mais acessíveis do que a maioria dos planos de outras operadoras.

Isso levou a Prevent a se tornar referência em um setor em que o aumento dos custos criava uma barreira para a aquisição de novos clientes, em especial de clientes idosos. Nos últimos anos, outras operadoras verticalizadas cresceram de forma vertiginosa oferecendo planos de saúde mais baratos. É o caso da Hapvida, maior operadora do país, com 45 bilhões de reais em valor de mercado, e da Notredame Intermédica, avaliada em 40 bilhões de reais na bolsa brasileira B3. As duas anunciaram fusão e o negócio aguarda aval do Cade.

No entanto, as denúncias envolvendo a Prevent Senior levantaram uma questão que pode afetar o futuro dessas e de outras empresas do setor. O modelo verticalizado, em que operadora do plano e hospitais pertencem à mesma empresa, foi colocado em dúvida. O argumento é de que, neste modelo, a economia de recursos poderia se sobrepor ao bem-estar do paciente em momentos críticos – em outras palavras: a empresa poderia adotar medidas para evitar internações necessárias, porém, caras.

A Prevent hoje é investigada sob suspeita de pressionar médicos a receitarem remédios sem eficácia comprovada contra a covid-19 e de ocultar mortes em um estudo realizado para testar a eficácia de medicamentos no tratamento da doença. A empresa nega.

EXAME ouviu especialistas no setor para entender como isso afeta os planos de saúde daqui em diante.

Mais fiscalização

A advogada Ana Carolina Navarrete, coordenadora do programa de Saúde do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), afirma que o modelo de operadoras verticalizadas precisa ser reavaliado. “O mercado precisa mudar para garantir que esse modelo tenha mecanismos para prevenir escolhas desastrosas. O problema do controle de custos no setor é real e existe. O que o caso da Prevent Senior revela é que um dos modelos que criamos para fazer esse controle pode ter impacto significativo no desfecho clínico”, afirma.

Na visão de Navarrete, essa mudança passa por uma fiscalização mais próxima da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). “Hoje, a agência não regula o prestador de serviço, ela foca apenas na operadora de plano. No caso das operadoras verticalizadas, isso faz com que só metade do negócio seja regulado. É preciso expandir essa competência da ANS”, diz.

Foco na gestão

Presidente da Associação Nacional das Administradoras de Benefícios (Anab), Alessandro Acayaba concorda que é necessário haver mais fiscalização por parte de órgãos como a ANS e os conselhos regionais de medicina. Para ele, no entanto, o problema não está no modelo de empresas verticalizadas, que é importante para manter uma gestão responsável dos custos.

“Existe um grande problema que é o preço do plano de saúde e seus reajustes. Com a verticalização, a empresa assume a gestão e adota procedimentos com foco em assistência de qualidade e sem desperdícios”, diz.

Acayaba exemplifica que, numa operadora verticalizada, quando um beneficiário tem um problema, ele pode ser atendido pelo médico da família que o encaminha a um especialista. Numa empresa que não faz esse acompanhamento, ele pode acabar procurando um pronto-socorro e realizar diversos exames, muitas vezes desnecessários, porque a equipe não conhece aquele paciente. Isso gera desperdício de recursos e desgaste para o paciente, diz.

Ainda que não comprometa o modelo de empresas verticalizadas, a discussão em torno da Prevent Senior deve servir de alerta para todas as operadoras, afirma. “Os fatos apontados na CPI são graves e, se confirmados, são passíveis de severas punições. É preciso que isso seja passado a limpo e sirva de alerta para todas as operadoras de mercado, para que elas possam rever sua gestão e avaliar se estão primando pela qualidade e não apenas pela economia.”

Atenção aos idosos

Outra questão levantada com o caso da Prevent Senior é o atendimento de saúde para idosos. O sucesso da operadora no atendimento desse público levou outras empresas a criarem produtos para essa faixa etária, historicamente rejeitada pelos planos. No entanto, com as denúncias na CPI, surgiram dúvidas sobre como fica o atendimento aos idosos no setor privado.

Marcelo Carnielo, diretor da consultoria de planejamento e gestão em saúde Planisa, reforça a importância de se olhar para essa fatia do mercado. “A população está envelhecendo. Teremos cada vez mais idosos. A saúde privada não pode ignorar essa população”, diz. “O que custa caro é o paciente que chega no hospital e faz cirurgias complexas. Então é preciso diminuir ao máximo as idas ao hospital. Para isso é preciso prevenção”, diz.

Na sua visão, o setor vai continuar a olhar para esse segmento. Outra tendência que deve continuar, segundo Carnielo, é a das fusões e aquisições. “A verticalização, as fusões e aquisições e o foco na prevenção continuam. Esse é um modelo já bem maduro, que vemos em diversas empresas. Não vejo mudança de rota por conta do caso da Prevent, que precisa ser esclarecido”, diz.

O grupo de pessoas com 59 anos ou mais foi o que mais cresceu dentre os beneficiários dos planos de saúde nos últimos anos. Aumentou 11% de 2016 a 2021, chegando a 7,3 milhões de beneficiários. Enquanto isso, o número total de beneficiários de planos estagnou — era de 48,3 milhões em 2016 e continua no mesmo lugar em 2021.

Isso mostra que, enquanto os idosos estão aderindo aos planos de saúde, as outras faixas etárias estão deixando os planos. O movimento se explica em parte pelo aumento do desemprego. A maior parte dos beneficiários têm planos coletivos empresariais, ou seja, aqueles oferecidos pelo empregador aos seus funcionários. A modalidade representa 68% do mercado, ante 18,5% dos planos individuais.

Uma coisa é certa: deixar milhões de clientes idosos sem acesso a atendimento a preços possíveis de serem pagos seria uma consequência nada desejável do caso Prevent.

Fonte: Exame

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