A companhia de saneamento BRK Ambiental acaba de bater o martelo sobre retomar seu IPO, para dar saída parcial às sócias Brookfield e FI-FGTS e colocar algum dinheiro no caixa, disseram três fontes. Curiosamente, a realização ou não do IPO vinha gerando desentendimento entre as acionistas nos últimos meses e o consenso para retomada acontece num momento desértico de ofertas iniciais no mercado local.
Para as fontes, a Brookfield quer testar o preço em bolsa para eventualmente se posicionar melhor numa transação privada, e conseguir pressionar a Caixa a aderir, caso o valuation seja maior. O Pipeline apurou que a Brookfield teve conversas recentes com os também canadenses CPPIB e Aimco, acionistas relevantes da concorrente de saneamento Iguá.
O CPPIB quer amarrar a aquisição da BRK pela Iguá, mas já ouviu da Brookfield que a decisão sobre o IPO está tomada. “Nessa estratégia, se o IPO não sair, já que o mercado está ruim, a Brookfield deixa o ônus com a Caixa, que estava pedindo a oferta, e consegue uma flexibilização de modelo de negócio”, avalia um executivo. “Se sair, ela ganhou também.”
A Caixa, que administra o FI-FGTS, quer se desfazer dos 30% de participação, avaliados em R$ 2,7 bilhões no balanço do fundo, como parte de seu plano de desinvestimentos. Como estatal, prefere o caminho de bolsa, menos sujeito a questionamentos do TCU por já ser uma espécie de leilão. A Caixa tentou emplacar o IPO pela primeira vez ainda em 2019, mas os sócios não entraram em consenso. O banco até cogitou iniciar o processo para estimular a própria Brookfield a comprar sua parte, como aconteceu na transação na saída do Pan (o sócio BTG Pactual ficou com os papéis), mas os canadenses não morderam a isca.
A Brookfield fez seu aporte na BRK por um veículo de private equity em 2017, não pelo veículo de infraestrutura, que tem prazo mais longo. Nesse fundo, não tem mais caixa e tem tempo de saída e, no momento, a gestora não pretende usar capital de um veículo mais novo para cobrir a demanda financeira. “O real estava mais valorizado quando a Brookfield fez a compra das mãos da Odebrecht. Acabou saindo relativamente caro, mas eles querem encerrar o ciclo de investimento”, diz uma fonte.
Numa listagem em bolsa, seria uma saída parcial, um acordo que as acionistas ainda terão que chegar – cada uma vende um pouco agora, ou a Brookfield deixa a Caixa sair primeiro.
Não fazer uma transação, pública ou privada, é cada vez menos uma opção para a BRK. A companhia está alavancada e os sócios, querendo desmontar posição, não farão aporte novo – o que pode afetar o ritmo de crescimento da BRK. A alavancagem no terceiro trimestre do ano passado, último publicado, estava em 7,6x Ebitda, com dívida líquida de R$ 6,7 bilhões.
No início de dezembro, a CEO da BRK, Teresa Vernaglia, enviou um comunicado interno à equipe para reconhecer o trabalho do time e estimulá-lo – circulando entre bancos e analistas, foi lido como um desabafo do management. “As decisões de investimento da companhia são determinadas pelo conselho de administração, composto por membros de seus acionistas Brookfield e FI-FGTS. E a decisão do conselho de administração, nesse momento, foi de não participar dos blocos B e C de Alagoas”, escreveu a presidente.
Divergência no conselho sobre critérios técnicos e sobre financiamento teriam definido a ausência da BRK no leilão. O texto segue com elogios à equipe que “atuou de forma intensa, dia e noite” na elaboração das propostas e destacando que há outras oportunidades no setor. “Ficou claro que houve frustração da equipe em não ter participado dos processos, complementares à concessão que ganharam em Maceió um ano antes”, diz uma fonte. A BRK também ficou de fora do leilão do bloco 3 da Cedae, no Rio, e tinha desistido de um lance com a Águas do Brasil naquele estado também.
No IPO, os coordenadores são BTG Pactual, Itaú BBA, Santander, Bradesco BBI e Citi. Apesar da janela aparentemente fechada para IPOs, executivos próximos à companhia acreditam que o setor tem apelo com investidores internacionais. Questionada sobre a decisão do IPO, a BRK não comentou.
Fonte: Pipeline Valor