A invasão russa à Ucrânia, iniciada nessa quinta-feira, já tem gerado inúmeros desdobramentos no âmbito esportivo. Além da suspensão do Campeonato Ucraniano, confirmada pela Premier League Ucraniana (UPL), outras instituições estão tomando decisões importantes em consequência da tensão vivida no Leste Europeu, como a Fórmula 1.
Após reunião extraordinária do seu Comitê Executivo, a UEFA, entidade máxima do futebol na Europa, anunciou, nesta manhã desta sexta-feira, 25, a alteração no local da final da Champions League, que estava prevista para acontecer no dia 28 de maio, em São Petersburgo, na Rússia. O novo local da partida será o Stade de France, em Paris.
“É uma decisão de enorme relevância, em todos os sentidos. Umas das regras vigentes nos estatutos da FIFA e UEFA é a da neutralidade política e proteção das entidades esportivas contra a intervenção estatal, o que cria, ao menos formalmente, uma divisão entre os assuntos estatais e as questões esportivas. Ao tomar a decisão de retirar o jogo da Rússia, ainda que existem suficientes justificativas de segurança para isso, a UEFA manda um importante recado de que o futebol não está alheio ao mundo político“, analisa Eduardo Carlezzo, advogado especializado em direito esportivo.
Outra ação significativa ocorreu na Alemanha, onde o Schalke 04 divulgou que não mais estampará o logotipo do seu principal patrocinador nas camisas da equipe (que também é um dos patrocinadores da própria UEFA Champions League). O local, que era ocupado pela Gazprom – maior empresa russa do ramo de energia e maior exportadora de gás natural do mundo, com o qual tinha parceria havia 15 anos -, agora contará com os dizeres “Schalke 04”.
Efeitos na Fórmula 1
Fora do futebol também ocorreram manifestações contrárias à invasão russa. Em Barcelona, o tetracampeão Sebastian Vettel, presidente da associação de pilotos da Fórmula 1 e titular pela equipe Aston Martin, afirmou não disputaria o GP de Sochi, que estava previsto para acontecer no dia 25 de setembro.
“Da minha parte, na minha opinião, eu não deveria ir. Eu não vou. É errado correr naquele país (Rússia). Sinto muito pelas pessoas inocentes que estão perdendo suas vidas, sendo mortas por razões estúpidas”, disse Vettel em entrevista coletiva.
Na tarde de quinta-feira, 24, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), entidade organizadora e reguladora da categoria, anunciou o cancelamento da etapa que seria disputada na Rússia e pediu uma “resolução pacífica da situação” vivida na Ucrânia.
Na visão de Fábio Wolff, diretor da Wolff Sports & Marketing, o atual cenário mundial exige um posicionamento rápido dos agentes envolvidos no mercado, principalmente quando se trata de situações que afetam a população como um todo.
“As marcas têm se posicionado cada vez mais e elas são cobradas por isso. Ou elas fazem de forma natural ou serão cobradas por isso. Vivemos em um mundo em que a tecnologia tornou muito rápida a divulgação da informação. Estamos passando ainda por um período de pandemia. O mundo todo se estressou e ainda tem se estressado por causa dessa realidade.
Muitas pessoas perderam entes queridos. Ninguém quer uma guerra agora. O posicionamento deve ser coerente com aquilo que o mundo deseja, ou seja, queremos um momento de paz e não de guerra”, afirma o especialista em gestão e marketing esportivo.
Vale lembrar que, atualmente, a única equipe norte-americana a disputar a F1 tem como principal patrocinador a mineradora russa Uralkali – conhecida pela proximidade com presidente Vladmir Putin. Na negociação, o empresário Dmitry Mazepin também conseguiu uma vaga para o filho, Nikita Mazepin, como piloto titular e ainda estampou as cores da bandeira russa na carroceria do carro.
Durante a apresentação da pintura que seria utilizada em 2022, a Haas manteve praticamente o mesmo desenho dos anos anteriores, marcada pelas cores branca, azul e vermelha. Só que, desde a invasão russa à Ucrânia, a equipe adotou pintura completamente branca para realizar os testes de pré-temporada em Barcelona, sem nenhuma declaração de como ficou a relação com a Uralkali.
Atletas brasileiros pedem ajuda para deixar a Ucrânia
Para quem está trabalhando na Ucrânia, as consequências desse conflito são ainda piores. Com receio em relação ao que possa acontecer nos próximos dias, atletas brasileiros que atuam no futebol ucraniano se reuniram e, através das redes sociais, pediram ajuda às autoridades para deixar o país.
A suspensão do campeonato nacional por tempo indeterminado e a sensação de insegurança constante podem trazer inúmeros prejuízos aos clubes, aos atletas e a toda a cadeia de negócios do ramo esportivo, como explica Alex Santiago, advogado, professor de Direito Desportivo e vice-presidente de futebol do Fortaleza.
“Nós temos acompanhando o drama de alguns atletas brasileiros na Ucrânia que não conseguem deixar o país e não sabemos como ficará essa relação trabalhista daqui para frente, e isso é um ponto importante”, destaca.
“Que pese a Fifa resguardar o direito de rescisão nesses casos humanitários, mas existe toda a indefinição sobre a carreira de vários profissionais e sobre os compromissos que foram formados por esses clubes, que hoje estão em um país absolutamente inseguro. São essas as consequências que esse conflito pode trazer para o futebol da região”, finaliza.