A aquicultura, termo utilizado para a produção de organismos em água, ficou em evidência neste começo de ano quando o Governo Federal anunciou a concessão de águas da União para a prática da atividade pesqueira e o fomento à aquicultura no Brasil. Com isso, ocorrerá a instalação da primeira piscicultura marinha em escala industrial regularizada no país.
A estimativa de investimento estrangeiro no Brasil é de 60 milhões de dólares, com geração de 500 empregos diretos e indiretos. A vigência do termo de cessão é de 20 anos, renováveis por mais 20 anos, a partir da publicação do contrato.
Atenta ao potencial desse mercado, a brasileira JBS, segunda maior empresa de alimentos do mundo e líder do setor de proteína, adquiriu recentemente 100% da Huon Aquaculture, segunda maior produtora de salmão da Austrália e listada na Bolsa de Valores do país. A transação teve valor de mercado de US$ 315 milhões (cerca de 1,6 bilhão de reais) e um “enterprise value” de 403 milhões de dólares (cerca de 2,1 bilhões de reais).
“Trata-se de um movimento estratégico, que marca a entrada da JBS no negócio de aquicultura”, disse em nota Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS. “Vamos repetir o que fizemos anteriormente com frango, suínos e produtos de valor agregado – para deixar nosso portfólio ainda mais abrangente. A aquicultura será uma nova plataforma de crescimento dos nossos negócios.”
Verticalmente integrada, a Huon marcará o início da produção própria de peixes pela JBS, que já conta com o processamento de bovinos, aves, suínos e ovinos em unidades espalhadas pelo mundo.
Em março do ano passado, a Seara, marca da JBS, anunciou o início da distribuição de produtos no segmento de peixes e frutos do mar, com produtos como salmão, tilápia e camarão, no Brasil. Com a aquisição na Austrália, a JBS passa a ter produção própria.
“São 33 anos de experiência da Huon com uma produção sustentável, de alta tecnologia, produtos de qualidade superior amplamente reconhecidos pelo consumidor australiano, num setor com ótimas perspectivas de crescimento no mundo todo”, diz Tomazoni. Além da participação expressiva no mercado australiano, 15% da produção da Huon é destinada para exportação.
Sustentabilidade na mesa
Tanto a pesca quanto a aquicultura podem ser consideradas sustentáveis desde que atendam aos requisitos particulares de cada cadeia produtiva. Quem afirma é a pesquisadora Flavia Tavares, da Embrapa.
“O termo sustentabilidade é muito amplo, por isso, para analisarmos a aquicultura e a pesca, é necessário esclarecermos alguns conceitos”, diz Flavia.
Apesar de ambas as atividades terem como foco o pescado, são distintas do ponto de vista ambiental, social e econômico. De forma geral, a pesca extrativista baseia-se na retirada de recursos pesqueiros do ambiente natural, ao contrário da aquicultura, que é baseada na produção de peixes de cultivo.
“Para se atingir o desenvolvimento sustentável da aquicultura não devemos considerar apenas o crescimento da atividade, mas sim o modo como ela é praticada. A aquicultura sustentável deve considerar indicadores econômicos, ambientais e sociais, podendo ser definida como a produção lucrativa de organismos aquáticos em harmonia com o meio ambiente e populações humanas locais.”
Do ponto de vista ambiental, afirma a pesquisadora, a atividade aquícola deve levar em consideração a capacidade suporte do meio ambiente, por meio de monitoramento constante da qualidade de água e sedimentos, além do devido tratamento dos efluentes.
Paralelamente, medidas de segurança devem ser tomadas no sentido de evitar escape, principalmente de espécies exóticas ou alóctones (não originário daquele espaço), que podem levar a um desequilíbrio da ictiofauna nativa, que é o conjunto de peixes de uma região.
“A aquicultura, para ser sustentável, deve ser praticada de maneira responsável, com o devido planejamento e apoio de técnicos qualificados”, afirma Flavia.
A atividade pesqueira também pode ser sustentável, diz ela, quando adotadas práticas de captura e manejo dos estoques pesqueiros considerando o ciclo reprodutivo dos peixes no intuito de manter o equilíbrio e garantir a sobrevivência das espécies.
Fonte: Exame