A Starbucks juntou-se à Apple e à Disney ao atrelar compromissos da agenda ESG à remuneração de 2021, segundo análise da provedora de dados Sentieo.
O pagamento vinculado à responsabilidade social cresceu acima de 20% nas empresas que compõem o índice Russell 3000 (que reúne as maiores companhias norte-americanas), de acordo com o Institutional Shareholder Services ESG, da consultoria ISS.
Em 2021, a Starbucks não conseguiu o apoio dos investidores para os bônus executivos do ano anterior, em parte por causa de um pagamento extra de US$ 50 milhões (R$ 253 milhões) oferecido ao presidente da empresa, Kevin Johnson. Em consequência, a rede de café reformulou seus pacotes de remuneração e adicionou novos critérios ambientais e de direitos humanos.
No caso de Johnson, 10% de seu bônus anual foi vinculado a questões ambientais, incluindo esforços para “eliminar canudos de plástico” e “redução de metano no nível agrícola”, entre outras coisas.
Outros 10% do pagamento foi atrelado à retenção de funcionários pertencentes a grupos minoritários e a metas relativas ao local de trabalho, disse a Starbucks.
Mas à medida que aumentam os bônus ligados a questões ESG, cresce a desconfiança dos acionistas. Investidores ficaram frustrados com grandes bônus concedidos com pouca prestação de contas.
Os gestores de ativos mostraram preocupação de que, se o pagamento ESG substituir as metas vinculadas ao desempenho das ações, executivos poderão proteger seus bônus em períodos turbulentos.
As métricas ESG para remuneração “são incrivelmente amplas e de alto nível, e quase sempre —pelo menos nos EUA— chegam ao programa [de remuneração] de curto prazo”, diz Caitlin McSherry, vice-presidente e diretora de administração de investimentos da Neuberger Berman.
“Mas é justo ser cético sobre o que realmente está em risco na remuneração baseada em desempenho, particularmente em relação aos elementos mais qualitativos que estão sendo trazidos”, afirma.
Segundo a ISS, a Apple incorporou em 2021 uma provisão de ESG aos bônus anuais em dinheiro dos executivos, que podem aumentar os salários em 10%. Entretanto, como os executivos da empresa atingiram metas para vendas e receita, esse elemento ESG não foi adicionado ao bônus, disse a empresa.
A ISS recomendou que os acionistas da Apple votassem contra o pagamento a seu executivo-chefe, Tim Cook, e a outros executivos do grupo no início deste mês.
Enquanto isso, a Disney incorporou metas de diversidade e inclusão, tornando esses critérios a métrica não financeira de maior peso no plano de bônus para 2021.
A Apple não quis comentar além de seus registros regulatórios. A Starbucks e a Disney não responderam a pedidos de comentários.
Robin Ferracone, fundadora da consultoria de remuneração Farient Advisors, diz que as empresas devem adotar métricas quantificáveis de pagamento ESG, como as aplicadas pela Starbucks.
Segundo ela, as companhias precisam ter “medo do tiro reverso” se pagarem bônus derivados de métricas imprecisas.
“Se uma medida [ESG] não for suportável, você poderá ter problemas com a Comissão de Valores Mobiliários”, diz. “Com mais quantificação, será cada vez mais difícil falsificar os resultados.”
Fonte: Folha