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SUVs emitem mais CO2 que o Brasil e entram na mira dos ativistas

Entenda por que os utilitários, mais pesados e com aerodinâmica ruim, são tão poluentes

Os SUVs estão dominando o mercado automotivo global. Mais de 45% dos carros vendidos no mundo hoje pertencem a essa categoria, cuja frota já ultrapassa os 320 milhões de unidades. Imponentes e espaçosos, os modelos caíram no gosto do consumidor, mas também entraram na mira de outro grupo: os ativistas climáticos.

Movimentos contrários aos veículos utilitários esportivos vêm ganhando apelo ao redor do mundo —especialmente na Europa. Alguns, inclusive, apostam no vandalismo como forma de chamar a atenção para a grande pegada de carbono desses automóveis.

Os números de fato impressionam. Se a frota mundial de SUVs fosse um país, ela ocuparia a sexta posição entre os maiores emissores de CO2 do planeta, atrás apenas de China, Estados Unidos, Índia, Rússia e Japão —e à frente do Brasil.

De acordo com dados da IEA (Agência Internacional de Energia), os utilitários jogaram mais de 900 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera em 2021. O valor é quase o dobro da pegada de carbono brasileira que, segundo o Global Carbon Project, fica em torno de 467 milhões de toneladas. O cálculo não considera o desmatamento e outros gases de efeito estufa.

A explicação para emissões tão altas está no formato dos SUVs. Além de serem mais pesados que um carro popular, os utilitários têm uma aerodinâmica pior devido ao tamanho e desenho da carroceria, o que gera mais atrito com o ar e, consequentemente, exige maior potência do motor.

Estimativas da IEA indicam que um SUV consome cerca de 20% mais combustível do que um carro de tamanho médio.

A intensidade de carbono aliada ao crescimento exponencial da frota fez com que os utilitários se tornassem o segundo principal responsável pelo crescimento das emissões na última década.

Entre 2010 e 2021, a pegada ambiental dos SUVs piorou em 674 milhões de toneladas de CO2, superando a dos caminhões, navios, aviões e até indústrias pesadas.

Os veículos perdem apenas para o setor energético, que aumentou suas emissões em 1,3 bilhão de toneladas no mesmo período.

É nesse contexto que os movimentos anti-SUVs surgem. Um dos que vêm chamando mais atenção é o Tyre Extinguishers (algo como exterminadores de pneus, em inglês). Desde março deste ano, o grupo de ativistas climáticos sai às ruas para esvaziar pneus de SUVs.

“Estimamos que no Reino Unido, Alemanha, Nova Zelândia, Holanda, Suécia, Suíça, Colorado e Arizona (todos os lugares que atingimos até agora) esvaziamos um total de 4.000 SUVs”, diz Marion Walker, porta-voz do Tyre Extinguishers, em entrevista à Folha por email.

De acordo com o grupo, SUVs e veículos 4×4 são um desastre para a saúde, segurança pública e para o clima. O objetivo, portanto, é impossibilitar a posse desses modelos nas áreas urbanas.

“O planeta está pegando fogo, e se o governo não nos protege, então sabotar as máquinas poluidoras é legítimo”, diz Walker.

Segundo o antropólogo Jason Hickel, alguns acadêmicos argumentam que a sabotagem da infraestrutura de combustíveis fósseis é uma resposta legítima a uma crise climática que já está causando danos profundos. No entanto, ele acredita ser mais interessante focar no modelo econômico que impulsiona este problema.

Hickel é um dos principais pensadores do degrowth, movimento que prega o decrescimento econômico como solução para salvar o planeta de uma catástrofe climática.

Embora não seja a favor do uso de vandalismo contra os SUVs, ele defende reduzir as indústrias que considera ecologicamente destrutivas e menos necessárias, categoria onde encaixa os veículos utilitários.

“Os SUVs são um dos principais impulsionadores do aumento das emissões. Mas, na verdade, a produção total de todos os carros deve ser reduzida”, afirma.

?SUVs no Brasil são menos intensivos em carbono

O Tyre Extinguishers diz não ter nenhuma atuação no Brasil —pelo menos por enquanto. Segundo Walker, o movimento contra os SUVs está acontecendo no mundo todo e é inevitável que chegue ao país também.

No entanto, embora o mercado de utilitários esteja crescendo de forma acelerada no Brasil, o perfil de veículos mais vendidos por aqui é diferente se comparado a Europa e Estados Unidos.

Murilo Briganti, diretor da Bright Consulting, consultoria focada no setor automotivo, diz que há uma diferença de mercado importante. “No Brasil, estamos falando de um carro de 1.600 quilos —se considerarmos a média dos SUVs—, enquanto fora do país são veículos acima de 2 toneladas”, afirma.

Ele cita os modelos Tracker, da Chevrolet, e Renegade, da Jeep, que estão entre os mais vendidos no Brasil e pesam em torno de 1,4 tonelada. Já um Cadillac Escalade, bastante comum nos EUA, ultrapassa as 2,5 toneladas —quase um carro popular de diferença.

“Quando trazemos para o nosso contexto, [a pegada ambiental dos SUVs] acaba não sendo tão relevante. Obviamente tem um impacto maior do que os hatches —que são mais leves”, afirma.

Além da diferença de perfil dos veículos, Briganti diz que o Brasil tem a vantagem dos biocombustíveis. O etanol, por exemplo, é menos intensivo em carbono que a gasolina, considerando que uma parte do CO2 emitido é reabsorvida na plantação de cana.

SUVs elétricos podem não ser solução

A eletrificação dos utilitários é uma das apostas do mercado para cortar as emissões de carbono. Segundo a IEA, esse processo vem crescendo nos últimos anos e cerca de 55% dos carros elétricos no mercado em 2021 eram SUVs. Contudo, a grande maioria (98%) dos modelos que estão rodando pelas estradas hoje ainda depende de motores de combustão interna.

Para o antropólogo Jason Hickel, eletrificar a frota não é necessariamente a melhor opção. “Veículos elétricos são melhores que os carros movidos a combustível fóssil, mas eles também geram impacto ecológico, pois uma expansão dramática desses veículos exigirá um aumento na mineração de terras raras”, afirma.

Além disso, ele diz que o crescimento do mercado de veículos elétricos aumentaria a demanda agregada de energia, o que torna a descarbonização do setor energético mais difícil. “Devemos migrar dos carros para o transporte público e bicicletas, ao mesmo tempo em que tornamos as cidades mais fáceis de percorrer”, diz.

Na visão de Murilo Briganti, a eletrificação pode ser uma solução para diminuir o impacto ambiental das SUVs, mas nem sempre.

“Quando estamos falando de Europa, onde há uma matriz elétrica predominantemente suja, não faria tanto sentido ter um carro elétrico, porque essa energia vem suja. O que está sendo mitigado no escapamento, não compensa o que foi gasto de CO2 para gerar a energia”, afirma.

“O caminho que temos para mitigar é o biocombustível, porque já temos essa matriz, é algo que já podemos prover”, acrescenta.

Fonte: Folha

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