No acumulado do ano, a Carbonext gerou 2,45 milhões de créditos de carbono, movimentando cerca de US$ 30 milhões em transações de compensação no mercado voluntário, o que a coloca como líder nesse mercado no período. É mais do que o dobro da produção da segunda colocada e uma das maiores concorrentes, a Biofílica, empresa da Ambipar, que emitiu cerca de um milhão de créditos no semestre.
Os projetos são feitos em parceria com 48 proprietários de terras legais na floresta amazônica. Depois de identificar áreas em risco de desmatamento e calcular a potencial emissão de gases tóxicos com a destruição da região, a Carbonext incentiva financeiramente os moradores e passa um ano monitorando e preservando o local. Só depois de um ano, os créditos podem ser emitidos.
“Quase metade das emissões de carbono no Brasil vem de desmatamento e a Amazônia é um grande foco deste problema”, diz a engenheira florestal Janaína Dallan, fundadora e co-CEO da Carbonext. “Para piorar, nosso país ainda enfrente um problema de credibilidade aos olhos do exterior. Muitos projetos não são aprovados pelo regulador. Então nós precisamos ter muito cuidado com a integridade e a qualidade desses créditos”. Atualmente, a Carbonext preserva 1,8 milhão de hectares em 12 projetos vigentes.
A compensação das emissões de CO2 tem base no decreto 11.075/2022 e é certificada pela VERRA (Verified Carbon Standard), órgão internacional com sede em Washington especializado na questão florestal. Anualmente, o regulador recusa projetos brasileiros feitos com base em terras griladas e outros problemas de origem e execução.
Cerca de 70% do capital levantado com projetos de REDD+ (Reducing Emissions from Deforestation and forest Degradation) pela Carbonext fica investido na floresta amazônica. Isso porque 50% do faturamento com as vendas de créditos são destinados ao sustento dos proprietários locais, que trocam sua fonte de renda, antes obtida com a criação de gado, por exemplo, e outros 20% são gastos com a própria manutenção e preservação da área. Os outros 30% fazem a receita da empresa.
A Carbonext atende clientes como BNDES, Tim, C6, Uber e Raízen. Mais de 70% do faturamento vem dessa vertical. Mas tem sido bem sucedida também a iniciativa voltada a pessoas físicas. Preenchendo um formulário no site, é possível saber o quanto um indivíduo emite em CO2 mensalmente e, mediante uma mensalidade, compensar o impacto ambiental.
Ao chamar uma corrida pela Uber, por exemplo, o usuário tem a opção de pagar para compensar o carbono que vai emitir durante a viagem – optando pela tarifa Comfort Planet ao invés do UberX ou Comfort no app. Este é o chamado “crédito embarcado”, uma modalidade B2B2C. Em outro modelo, chamado de “spot”, as próprias companhias buscam por créditos para neutralizar as emissões que são obrigados por lei a compensar. Menos contratado, o modelo por assinatura oferece a possibilidade de compensar as emissões pessoais.
Em plena era do ESG, a Carbonext tem chamado a atenção de investidores. No cap table já constam firmas como Canary e Alexia Ventures, além da FitPart, o family office de Tom Freitas Valle. No ano passado, a empresa levantou R$ 30 milhões em sua Série A, na qual participaram cerca de 20 investidores.
O amadurecimento corporativo se deve em boa medida à chegada de Luciano Corrêa da Fonseca, que fez carreira no Pátria, há dois anos. Irmão da fundadora, o economista hoje divide o cargo de CEO da Cabonext. Desde que se tornou sócio, o executivo multiplicou por sete os times de análise e construção de projetos e trouxe nomes como Maurício Simões, da Suzano, e Felipe Viana, da XP, para reforçar a equipe.
“Conversando com a Jana, ficou muito claro que ela tinha um negócio em ritmo acelerado, em plena fase de expansão. Resolvemos virar sócios para fazer o desenvolvimento da empresa”, conta Fonseca. “Era uma equipe pequena, atuando em poucos projetos, porque o mercado ainda era um tanto moroso”.
A Carbonext foi fundada em 2010, quando ainda não eram claras as políticas de compensação de emissões. “Hoje, esse mercado é super demandado. Falta crédito”. Anualmente, são emitidas 60 bilhões de toneladas de carbono em todo o mundo. Menos de 30% desse volume é tratado no mercado regulado.
Fonte: Pipeline Valor