Ferramenta monitora todos os 5.570 municípios; todas as dez melhores estão no estado de São Paulo
Das 10 cidades com o pior desempenho sustentável do Brasil, 8 estão na região da Amazônia —mais precisamente nos estados do Pará e do Amazonas.
É o que mostra o IDSC (Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades), ferramenta lançada nesta sexta-feira (8) para monitorar o engajamento regional com o tema.
A iniciativa foi criada pelo ICS (Instituto Cidades Sustentáveis) e avalia a performance de todos os 5.570 municípios. Com isso, o Brasil se torna o primeiro país do mundo a fazer esse acompanhamento, segundo o instituto.
O ranking utiliza como critério os ODS, que são os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável elaborados pela ONU em 2015. Trata-se de um chamamento global para enfrentar os principais desafios da humanidade, como redução da desigualdade, proteção do planeta e promoção da paz e da prosperidade.
Cidades menos sustentáveis | Nota |
1º Santana do Araguaia (PA) | 30,10 |
2º Lábrea (AM) | 30,15 |
3º Boca do Acre (AM) | 30,71 |
4º Acará (PA) | 30,88 |
5º Cachoeira do Piriá (PA) | 30,95 |
6º Floresta do Araguaia (PA) | 30,98 |
7º Nova Esperança do Piriá (PA) | 31,04 |
8º Amarante do Maranhão (MA) | 31,10 |
9º Placas (PA) | 31,23 |
10º Bom Jesus das Selvas (MA) | 31,36 |
A partir de metodologia criada pelas Nações Unidas, o IDSC atribui uma pontuação para cada município, calculada com base em dados públicos. Entre os cem indicadores observados estão emissões de carbono, famílias inscritas em programas sociais, mortalidade infantil, acesso à internet nas escolas, e desigualdade salarial por gênero.
Cada variável é transformada em uma nota, que é usada para calcular a pontuação final, numa escala de 0 a 100. Quanto maior o valor, melhor o desempenho.
Santana do Araguaia, no Pará, é a cidade com os piores indicadores do país (30,10). Um dos fatores que mais pesaram na nota foi a escolarização. Apenas 8,8% dos jovens até 19 anos completaram o ensino médio. Além disso, o município tem uma taxa de feminicídio de 17,5 por 100 mil habitantes, sendo que o valor de referência é de 1 para cada 100 mil.
Os resultados apontam para disparidades regionais já conhecidas da realidade brasileira. Todos os cem municípios com o pior desempenho, por exemplo, estão nas regiões Norte e Nordeste do país. Além disso, as três capitais com menor nota estão na Amazônia Legal.
Macapá é a última capital no ranking (40,17). Só 37% da população recebe abastecimento de água potável, e a proporção de analfabetos com 15 anos ou mais é de 6,17%, o dobro da meta (3%).
Apesar dos números, a desigualdade de renda em Macapá consegue ser melhor do que a verificada em São Paulo, que teve a melhor performance entre as capitais (62,06).
Os destaques foram para os indicadores de abastecimento de água potável (99,3% da população é atendida) e de coleta seletiva (79%), além do orçamento com saúde.
São Caetano do Sul fica em 1º lugar
Enquanto 43 das 100 piores cidades ranqueadas ficam no estado do Pará, as dez melhores concentram-se no estado de São Paulo.
São Caetano do Sul foi a cidade que apresentou os melhores indicadores de ODS, com 100% da população atendida com abastecimento de água potável e coleta seletiva.
São Paulo não tem nenhum município com nível muito baixo de desenvolvimento. Apenas cinco estão abaixo da média nacional.
10 cidades mais sustentáveis | Nota |
1º São Caetano do Sul (SP) | 65,62 |
2º Jundiaí (SP) | 65,44 |
3º Valinhos (SP) | 65,16 |
4º Saltinho (SP) | 64,51 |
5º Taguaí (SP) | 64,35 |
6º Vinhedo (SP) | 63,78 |
7º Cerquilho (SP) | 63,76 |
8º Sertãozinho (SP) | 63,64 |
9º Limeira (SP) | 63,53 |
10º Borá (SP) | 63,45 |
Boa nota pode esconder problemas
Estar no topo do ranking não é necessariamente um atestado de excelência. O índice também permite ver o desempenho dos municípios em cada ODS, jogando luz para problemas que podem ficar escondidos pela boa nota.
Analisando o ODS 10, por exemplo, que diz respeito à redução das desigualdades, há fragilidades até mesmo entre os melhores colocados da lista.
A primeira colocada do ranking, São Caetano do Sul, tem um coeficiente de Gini (indicador que mede a desigualdade na distribuição da renda) de 0,54, o que indica maior assimetria —a meta da ONU para o indicador é, no máximo, é 0,3. Na capital paulista o valor é ainda maior: 0,62.
A pior classificação entre as cidades brasileiras nesse índice é São Gabriel da Cachoeira (AM), com 0,8. A título de comparação, a Namíbia é o país com pior nota do mundo (0,7), ainda assim melhor do que a cidade amazonense.
No site do IDSC, é possível pesquisar o desempenho de todos os 5.570 municípios brasileiros.
De acordo com o Instituto Cidades Sustentáveis, a ferramenta pretende gerar um movimento de transformação na gestão pública municipal.
A intenção é orientar a ação de prefeitos e prefeitas no sentido de definir metas com base em indicadores e facilitar o monitoramento dos ODS em nível local.
Capitais mais sustentáveis | Nota |
1º São Paulo | 62,06 |
2º Florianópolis | 60,37 |
3º Curitiba | 60,12 |
4º Belo Horizonte | 59,22 |
5º Goiânia | 58,32 |
6º Vitória | 58,18 |
7º Brasília | 57,52 |
8º Campo Grande | 56,6 |
9º Rio de Janeiro | 56,42 |
10º Porto Alegre | 55,53 |
11º Palmas | 55,09 |
12º João Pessoa | 54,53 |
13º Salvador | 54,52 |
14º Cuiabá | 52,41 |
15º Recife | 50,89 |
16º Fortaleza | 50,23 |
17º Manaus | 49,98 |
18º Aracaju | 49,59 |
19º Rio Branco | 48,85 |
20º Natal | 48,03 |
21º Teresina | 47,29 |
22º Maceió | 47,23 |
23º Boa Vista | 47,13 |
24º São Luís | 45,23 |
25º Belém | 42,58 |
26º Porto Velho | 40,92 |
27º Macapá | 40,17 |
Fonte: Folha