É estimado que haja no mínimo 6 milhões de mulheres trabalhando sem remuneração nos sistemas de saúde
Um novo relatório da organização Women in Global Health mostra que ainda temos um longo caminho a percorrer para alcançar a equidade de gênero, embora tenha havido avanços.
O relatório A Situação das Mulheres e a Liderança na Saúde Global aborda o “Paradoxo XX”: 70% dos profissionais da linha de frente da área da saúde são mulheres, mas elas representam apenas 25% dos cargos de liderança.
O papel das mulheres na prestação de cuidados de saúde é enorme – elas lideram o cuidado de 5 bilhões de pessoas e contribuem com US$ 3 trilhões (R$ 15,5 trilhões) para a saúde global. Injustamente, metade disso vem do trabalho não remunerado, em grande parte de profissionais de saúde comunitários que subsidiam o cuidado de suas comunidades. É estimado que haja no mínimo 6 milhões de mulheres trabalhando sem remuneração nos sistemas de saúde ao mesmo tempo em que tentam sustentar a si próprias e suas famílias.
Agentes de saúde comunitários muitas vezes arriscam suas vidas ao realizar esse trabalho geralmente não remunerado, fornecendo vacinas no Afeganistão ou no Paquistão, por exemplo. Eles também correm o risco de cuidar de pacientes com infecções agudas, embora muitas vezes não recebam EPIs (equipamentos de proteção individual), que são fornecidos com prioridade aos profissionais de alto escalão. Os EPIs, como luvas, geralmente são feitos com dimensões masculinas e não para mulheres, criando outro risco.
A Women in Global Health acredita que a liderança igualitária catalisará um “dividendo triplo de gênero”. Condições de trabalho melhores e igualitárias para as mulheres vão atrair mais mulheres para se tornarem profissionais de saúde, ajudando a diminuir a escassez de mais de 10 milhões de trabalhadores nessa área. Se as condições melhorarem, mais profissionais permanecerão, produzindo um “dividendo de saúde”. À medida que as mulheres são remuneradas e ganham autonomia, isso também melhora as condições dos seus filhos, o que faz parte do dividendo de gênero. E novos empregos no setor de saúde impulsionarão o crescimento econômico e terão um enorme efeito multiplicador.
Embora a situação das mulheres tenha melhorado gradualmente ao longo das décadas, o ritmo tem sido muito lento. Uma estimativa recente da ONU é que levará 140 anos para que as mulheres alcancem a equidade na representação de liderança. Além disso, durante a pandemia de Covid, muitas mulheres perderam espaço.
O avanço das mulheres têm sido travado por muitos fatores – como culturas que favorecem os filhos homens e oferecem a eles melhores oportunidades educacionais. As mulheres tendem a ser induzidas a empregos com salários mais baixos, como enfermagem, em vez de se tornarem médicas com melhores remunerações. E ainda há uma “penalidade de maternidade” e grande pressão para focar na casa e na família.
Com uma vasta experiência internacionalmente, da Nova Guiné ao Paquistão, Ann Keeling, membro sênior do Women in Global Health, se concentra na equidade de gênero na liderança “porque as mulheres são a maioria e têm uma perspectiva diversificada e conhecimentos diferentes”. Ela destaca, no entanto, a necessidade de líderes masculinos também terem um olhar de transformação em relação ao gênero para desafiar as normas atuais.
“Os homens são escolhidos de emprego em emprego e impulsionados por homens mais poderosos para ocupar outros cargos poderosos, e as mulheres não recebem esse tipo de apoio”, diz ela. “O treinamento mais importante que podemos dar às mulheres é em análise política para observar a dinâmica de poder das organizações nas quais elas estão trabalhando.” É claro que o mérito não é suficiente – é essencial que as mulheres consigam o apoio necessário para terem sucesso.
A equidade não é apenas o caminho moralmente correto a seguir; também é inteligente do ponto de vista comercial. “Essa não é apenas uma questão de mulheres marginalizadas. É uma questão de direitos”, disse Keeling. “Mas, se isso acontecer, teremos um enorme efeito multiplicador.”
Fonte: Forbes