No cenário agitado em torno da inclusão do aspartame na lista de substâncias potencialmente cancerígenas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o debate sobre alternativas mais saudáveis aos adoçantes artificiais ganha destaque.
Nesse contexto, surge um tipo de açúcar pouco conhecido para a maioria – a alulose. Pertencente ao grupo dos chamados açúcares raros, esse composto é encontrado em quantidades reduzidas em certos alimentos, como trigo, figos e passas.
Trata-se de um edulcorante de baixa caloria (0,2 a 0,4 kcal por grama) que é 70% tão doce quanto o açúcar comum. Além disso, a alulose não eleva os níveis de glicose no sangue e não é um alimento para as bactérias que causam cáries.
Em 2019, a rigorosa FDA, agência americana que controla remédios e alimentos, isentou a alulose da rotulagem de “adição de açúcar”. Além das questões de saúde, a substância não deixa um gosto amargo na boca, como é comum em muitos edulcorantes. Ela também pode ser utilizada no preparo de uma variedade de pratos, inclusive caramelo.
No entanto, há um detalhe que dificulta sua ampla utilização: a alulose é rara, o que torna difícil encontrá-la na natureza e reproduzi-la em laboratório. Um quilo de alulose custa cerca de R$ 100, enquanto o açúcar tradicional custa no máximo R$ 7 por quilo.
Embora muitos não tenham ouvido falar dessa substância, alguns inovadores no campo da foodtech têm trabalhado para torná-la mais acessível. Um deles é o bioquímico israelense Ziv Zwighaft, fundador da Ambrosia Bio em 2020, na cidade de Jerusalém. A Ambrosia, nome que remete ao manjar dos deuses na mitologia grega, tem como objetivo tornar a alulose mais disponível.
Tradicionalmente, a alulose é obtida a partir do amido de milho, isolando primeiro a frutose dos açúcares encontrados em frutas, mel e alguns cereais, através de uma enzima chamada epimerase. No entanto, esse composto é muito instável e tem um prazo de validade de apenas 20 a 24 horas.
Zwighaft desenvolveu uma cápsula especial que protege a epimerase, permitindo que a enzima seja utilizada várias vezes, por meses, possibilitando a produção mais eficiente de alulose. A parceria da Ambrosia com a biotech Ginkgo Bioworks visa utilizar avanços na biotecnologia e engenharia genética para programar bactérias específicas que atuem como microfábricas de epimerase.
Os consumidores estão cada vez mais interessados em alternativas mais saudáveis para adoçar seus pratos, como demonstrado no estudo “Sensibly Sweet” realizado pelo grupo alimentício irlandês Kerry. Cerca de 80% dos quase 3 mil entrevistados em 24 países estão convencidos de que os alimentos e bebidas com baixo teor de açúcar são os melhores.
Muitos estão dispostos a pagar mais por esses produtos e a restringir o uso de açúcar em suas vidas diárias. Não é surpresa, portanto, que o mercado de adoçantes naturais esteja crescendo mais rápido do que o de edulcorantes em geral, com uma previsão de alcançar US$ 732,57 bilhões até 2030, a uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 3,51%, enquanto o CAGR dos naturais é de 8%.
Com todos os seus benefícios, a alulose é vista como uma potencial revolução no setor de adoçantes. Um açúcar que pode ser consumido como o tradicional, mas sem causar ganho de peso, aumento de glicemia ou cáries. O único desafio agora é encontrar uma maneira de produzi-lo em larga escala, e empreendedores como Zwighaft estão trabalhando nisso.
Fonte: Neofeed