Nos últimos tempos, algumas movimentações notáveis ocorreram no mercado de fusões e aquisições (M&A). Destacam-se o fechamento de capital da Arco, a venda da Sinqia para a Evertec, a venda da Luizaseg, do Magazine Luiza, para a Cardif, a venda da Odata para a Aligned e a aquisição da Neurotech pela B3. Em todos esses negócios, um ator discreto, mas de grande influência, emerge, seja do lado do vendedor ou do comprador: a Seneca Evercore.
Em um ambiente altamente competitivo, onde bancos e consultores disputam oportunidades, essa boutique independente de M&A consolidou-se como uma das principais no setor. Segundo dados da Factset, nos últimos 12 meses, a Seneca Evercore realizou transações no valor de US$ 3,8 bilhões, ficando em segundo lugar, logo atrás do Morgan Stanley, que movimentou US$ 6 bilhões no mesmo período.
“Recentemente, assessoramos a venda da Magnetis para o BTG,” afirma Daniel Wainstein, sócio-fundador da Seneca Evercore, em entrevista ao NeoFeed. Atualmente, a equipe de 30 banqueiros da Seneca Evercore está envolvida em cerca de 35 negociações, a maioria prevista para se concretizar no próximo ano. Muitas transações foram adiadas devido às incertezas do mercado.
“Até abril, aconselhamos nossos clientes a adiar transações”, diz Wainstein. No entanto, as condições melhoraram à medida que o risco Brasil diminuiu e o interesse internacional cresceu, levando a uma mudança na recomendação. “Acredito que o primeiro semestre de 2024, se não houver uma catástrofe global ou graves problemas no Brasil, será um período de abundância”, prevê Wainstein.
Traduzindo essa “abundância” em números, significa passar de um mercado de US$ 8,2 bilhões em M&A no primeiro semestre de 2023 (o segundo pior da história, atrás apenas de 2020, durante a pandemia) para atingir US$ 30 bilhões em transações. Certamente, isso representa uma mudança significativa em relação ao cenário deste ano.
“Tivemos a maior crise de crédito que já vi em mais de 25 anos de carreira”, observa Wainstein. Isso se deve tanto ao aumento das taxas de juros, que saltaram de 2% para 13,75%, quanto a casos como o da Americanas e da Light. “Muitas transações que ocorreram sequer foram anunciadas, porque ninguém quer admitir que recebeu financiamento de um fundo voltado para situações de estresse”, explica.
Agora, com a esperada recuperação do mercado, muitos empreendedores que adiaram a busca por capital para crescimento ou para quitar dívidas estarão à procura de oportunidades. “As necessidades que as empresas tinham em 2022 ainda persistem, incluindo a necessidade de capital para reestruturar a dívida e retomar investimentos que foram adiados durante o processo”, destaca Wainstein.
No entanto, há um terceiro fator que promete impulsionar as fusões e aquisições no próximo ano: empresas enfraquecidas durante o período de escassez de crédito se tornarão alvos de grandes empresas com balanços mais robustos e acesso a capital. “Aqueles com acesso a capital desejam aproveitar essa oportunidade, enquanto aqueles que estão mais enfraquecidos muitas vezes consideram a venda como uma saída diante do susto sofrido”, observa Wainstein.
Embora Wainstein não possua uma bola de cristal, sua análise é digna de atenção. Ele é um dos profissionais mais experientes no mundo das fusões e aquisições, tendo sido presidente do investment banking do Goldman Sachs no Brasil e participado ativamente na construção da operação do banco nos territórios brasileiros.
Em 2013, deixou o banco para fundar sua própria empresa em parceria com Rodrigo Mello, outro ex-funcionário do Goldman, e Isaias Sznifer. “Eu cheguei a um ponto em que realmente queria construir nosso próprio negócio. A Goldman é uma escola excelente, mas, como todas as grandes corporações, não é necessariamente o ambiente mais adequado para o empreendedorismo”, diz Wainstein.
“Vir para cá nos permitiu oferecer um nível mais elevado de atenção ao cliente em sua transação mais importante”, destaca Wainstein. Além de ganhar a confiança de clientes recorrentes, a Seneca Evercore também construiu relações com parceiros que repetidamente voltam a trabalhar com eles. “Já realizamos cinco transações com a XP, por exemplo, e muitas outras com o BTG”, acrescenta.
Um exemplo é a assessoria da Seneca Evercore na venda da WHG para a XP. Outra operação envolveu a venda de participação na Monte Bravo para a XP, que na época era um escritório de agentes autônomos e atualmente é uma corretora. “Eles têm uma abordagem agressiva, focando nos detalhes e sendo firmes nas negociações”, comenta Filipe Portella, sócio-fundador da Monte Bravo, que contratou a boutique de Wainstein para auxiliá-los.
Além da efetivação da venda, Portella destaca que a importância da Seneca Evercore na negociação foi auxiliar na elaboração de estratégias para o futuro e nos próximos passos do negócio. “Eles continuaram a nos apoiar mesmo após o fechamento do acordo”, conclui.
Fonte: Neofeed