Com os recentes anúncios de duas aquisições, a Enauta está prestes a ampliar significativamente seu potencial de produção de petróleo. A empresa, que atualmente alcança uma produtividade de 20 mil barris por dia, prevê um acréscimo de 15 mil barris com os novos ativos adquiridos nas bacias de Campos e Santos. Com a meta ambiciosa de atingir um ritmo de 50 mil barris, a Enauta planeja novos investimentos em 2024, tanto para expansão orgânica quanto inorgânica, conforme revelou o CFO Pedro Medeiros ao Pipeline.
Na aquisição mais recente, anunciada na última terça-feira, a Enauta concordou em desembolsar US$ 150 milhões por uma participação de 23% detida pela Qatar Energy Brasil Ltda no Parque das Conchas, controlado pela Shell e composto por campos de petróleo na bacia de Campos. Com a produção total do parque atingindo 35 mil barris de petróleo por dia, a fatia adquirida pela Enauta representa um aumento de 8 mil barris na capacidade da empresa.
A segunda aquisição, divulgada na semana anterior, envolveu uma transação de US$ 58,5 milhões pelos campos de petróleo e gás de Uruguá e Tambaú, anteriormente pertencentes à Petrobras. Caso esses campos retomem, em 2024, o ritmo de produção que mantinham com a estatal, a Enauta experimentará um acréscimo de 7 mil barris por dia.
Essa transação incluiu também a infraestrutura de escoamento de gás que conecta os campos de Uruguá e Tambaú ao campo de Mexilhão e à plataforma FPSO Cidade de Santos. Segundo Medeiros, a empresa considera a possibilidade de vender esse gás, aproveitando as perspectivas do ambiente regulatório e as oportunidades no mercado de gás para os próximos 10 anos, destacando a importância estratégica dos ativos de Uruguá e Tambaú para atender o mercado de São Paulo.
As aquisições, ainda sujeitas à aprovação dos órgãos reguladores, serão financiadas pela própria geração de caixa da empresa. Ao final do terceiro trimestre, a Enauta possuía um caixa de US$ 402 milhões para uma dívida bruta de US$ 453,9 milhões, majoritariamente de longo prazo. Considerando as novas aquisições de ativos, a alavancagem financeira da empresa, segundo a XP, subirá de 0,3 vez para 1,7 vez após a conclusão, permanecendo abaixo do limite para contratação de novas dívidas, estabelecido em 2,5 vezes.
Na análise dos analistas do Citi, os novos ativos contribuirão para diversificar a produção da Enauta, reduzindo a dependência do campo de Atlanta, também localizado na bacia de Santos. Apesar disso, Atlanta continuará em expansão, sendo crucial a entrada em operação, em agosto, do sistema definitivo do campo, abrangendo seis poços, para alcançar a meta da empresa de atingir 50 mil barris por dia até o final do próximo ano.
A produção em Atlanta é de petróleo pesado, com baixo teor de enxofre, possibilitando sua comercialização direta no mercado, o que é considerado uma vantagem pela empresa, conforme ressaltou Medeiros. Além disso, a Enauta está avaliando o investimento no projeto greenfield no campo de Oliva, ativo adjacente ao campo de Atlanta, já incluso no capex de cerca de US$ 400 milhões previsto para 2024.
Quanto a problemas operacionais, como a parada na plataforma Piloto em Atlanta, que afetou a produção e os resultados no terceiro trimestre, Medeiros expressa confiança de que, com o novo equipamento da FPSO e a nova tecnologia do sistema de bombeio submarino, esse tipo de risco será minimizado. Ele enfatiza que é um risco inerente à indústria e a projetos piloto de produção, mas a empresa reagiu proativamente nos reparos e no upgrade dos equipamentos.
No terceiro trimestre, a empresa registrou um prejuízo líquido de R$ 272,5 milhões, revertendo um lucro de R$ 18,9 milhões do mesmo período do ano anterior. Esse resultado foi impactado pela queda de 87% na produção de petróleo, devido à parada na plataforma Piloto, e pela baixa demanda de gás do Campo de Manati, onde a Enauta possui uma participação de 45%, com um contrato de compra e venda com a Petrobras.
O ano de 2023 também testemunhou uma mudança na base acionária da empresa, com as gestoras Jive e Vinci tornando-se acionistas por meio da conversão de dívida em equity, reduzindo a participação do grupo Queiroz Galvão para 34%. Nessa nova fase, a Enauta reformulou o conselho de administração, composto atualmente por cinco membros independentes e dois representantes da família Queiroz.
Medeiros destaca a natureza consolidadora da indústria de petróleo e gás no Brasil, dada a quantidade de players, e menciona que a Enauta busca ser protagonista nesse processo, já tendo demonstrado resultados. Ele não comenta os rumores sobre o interesse de outras empresas na Enauta, mas afirma que a empresa está preparada para liderar nesse cenário.
Fonte: Pipeline Valor