Greencare
À frente da GreenCare, Furtado (Grid), Mattos (Hypermarcas) e Marco Antônio (Hospital São Luiz) saem na frente com abertura da venda de medicamentos no país
O que leva o herdeiro de um grande hospital, o fundador de uma empresa de serviços automotivos e um ex-CFO da indústria farmacêutica a trocar carreiras de sucesso para se aventurar no mercado de derivados da planta da maconha? Números. Grandes números.
A indústria da Cannabis movimenta US$ 170 bilhões em todo mundo, considerando os mercados legais, mas sobretudo o tráfico de entorpecentes. Há, porém, uma transição em ritmo acelerado de recursos do mercado ilegal para a economia formal. Aproximadamente 40 países já autorizam o uso de medicamentos à base de canabinóides, enquanto quase uma dezena permite o uso recreativo de derivados da planta.
No Brasil, uma nova regulamentação foi aprovada pela Anvisa no início de dezembro de 2019 para produtos à base de canabinóides, que poderão ser vendidos em farmácias, mediante prescrição médica. Neste cenário, a Greencare vem se destacando no mercado brasileiro, com market share aproximado de 30%, com pouco mais de 1 mil pacientes em seu portfólio, a uma média de 300 novos a cada mês, e quase dois mil médicos em sua rede de contato.
“A GreenCare é a empresa que mais cresce entre os novos pacientes que recorrem à Anvisa”, afirma Martim Prado Mattos, CEO da companhia. Martim, que é ex-CFO da Hypermarcas, hoje Hypera, fundou a Greencare em 2018, ao lado de dos sócios Marcelo Marco Antônio, diretor Institucional, – da família fundadora do Hospital São Luiz -, e Fábio Furtado, diretor Comercial, – um dos fundadores da Grid, marca líder no setor automotivo.
Ao contrário das outras empresas do setor que dependem de investimentos de suas matrizes ou da captação de recursos no mercado, a GreenCare conta com investimentos contínuos do Greenfield Global Opportunities, um fundo canadense de VC criado justamente por Martim Mattos e Marcelo Marco Antônio, além de Nelson Cury, fundador da Geneseas, empresa de piscicultura dona da marca Saint Peter.
O incentivo para apostar no negócio partiu do próprio pai de Marcelo, o médico e ex-dono do São Luiz, Ruy Marco Antônio, antevendo o potencial gigantesco do mercado. O fundo, que atualmente tem capital de 140 milhões de reais, dos quais cerca de 50% foi injetado na GreenCare, detém 75% da empresa.
Omodelo da Greencare estruturado aos moldes de atuação da indústria farmacêutica está alinhado com o entendimento da Anvisa para o mercado de canabinóides. “Desde 2015, a Anvisa já tinha dado indicações de que o caminho seria esse, a possibilidade de registro de produto. A diferença é que agora, a agência está oferecendo um fast track deste registro. Mas, vai ter que provar qualidade, segurança e eficácia, ou seja, estudos clínicos que comprovam”, diz Martim.
Ele fala mais sobre os impactos da regulamentação da Anvisa nos negócios:
Modelo baseado em evidência científica
Para além das discussões sobre regulamentação da Cannabis Medicinal no Brasil, a GreenCare tem direcionado seus esforços e sua estratégia a fatores de médio e longo prazo. Entre eles o volume impressionante de estudos científicos sobre a utilização de produtos à base de canabinóides. Existem mais de 26 mil estudos, sendo mais de 10 mil revisados pela National Academys of Sciences, Engineering & Medicine.
Nos últimos dois meses, o departamento médico da companhia detectou mais de 1800 estudos publicados.“Antes de incluirmos novas patologias à nossa estratégia comercial, levantamos estudos científicos robustos e consistentes em volume de pacientes, que sejam randomizados e duplo cego, realizados por instituições de excelente reputação”, explica Fábio Furtado, diretor comercial da companhia.
Marcelo acrescenta como é definido o portfólio da empresa:
Pautado nestes estudos é que a Greencare determina seu portfólio. Atualmente, são seis produtos da linha Hempflex com basicamente duas formulações diferentes, sendo uma com CBD isolado e outra que mescla CBD com concentração de até 0,3% de THC, sendo um dos produtos de uso tópico. Os medicamentos atendem a quatro indicações terapêuticas: epilepsia, dor crônica, ansiedade e autismo.
Os dermocosméticos, assim como alimentos funcionais sem presença de CBD ou THC, são duas novas frentes de negócios em desenvolvimento pela companhia e devem entrar no mercado ainda no primeiro semestre deste ano. “Estamos trabalhando de forma acelerada, e seremos os primeiros no país. Temos um modelo de negócios focado na participação de forma integral no mercado de saúde e bem-estar, com diversificação de produtos para atender diversas necessidades de consumo”, justifica Martim.
Fábio destaca também como é o relacionamento com a classe médica:
Foco na comunidade médica
A relação da companhia com os médicos é prioritária e está no centro de sua estratégia de negócio. Entre os médicos, as especialidades dominantes são psiquiatria, neurologia, neuropediatria, clínica geral, ortopedia, reumatologia e outras especialidades como medicina ortomolecular.
“Nosso foco na educação médica continuada tem nos permitido criar um elo de confiança sem precedentes. Na nossa relação de prescritores, por exemplo, mais de 80% nunca havia prescrito produtos do tipo”, diz Furtado. Segundos dados da Anvisa, um terço dos médicos prescrevem produtos da GreenCare.
Por este motivo, o investimento na seleção e treinamento contínuo dos consultores é fundamental. São profissionais que vêm da indústria farmacêutica, já atuaram com SNC, que é uma especialidade que exige treinamento e estudo. No início, eles atuam como uma espécie de “trainees”, ou seja, são acompanhados por consultores mais experientes. Atualmente, são 10 consultores, que estão alocados em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, DF e Minas Gerais.
Embora mais de 80% dos pacientes da GreenCare estejam concentrados na região Sudeste, a empresa já colocou em marcha um plano de expansão para regiões Sul e Centro-Oeste. “Levaremos informação de qualidade para a classe médica destas regiões. Notamos uma demanda reprimida importante nestas regiões que ainda não são atendidas adequadamente pela indústria”, afirma.
Texto: Luana Dalmolin
Imagens: Marcos Mesquita | Experience Club | Divulgação