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Com a quarentena, empresas como Ticketmaster sofrem prejuízos bilionários.

O show não pode parar: as lives são o novo normal dos artistas para sobreviver

Eles estão dando um verdadeiro show. Em plena quarentena, artistas do Brasil e do mundo estão usando a criatividade para se adaptarem à nova realidade da indústria fonográfica e sobreviver.

Com as regras de distanciamento social ainda em vigor, músicos e produtores não têm nenhuma chance de armarem shows. Esse tipo de entretenimento ao vivo representa uma das maiores fontes de rendas de bandas, cantores e DJs.

A consultoria Pricewaterhouse Coopers (PwC), por exemplo, aposta que, até 2026, shows e espetáculos movimentem cerca de US$ 31 bilhões.

Com a proibição por tempo indeterminado de eventos que promovam aglomeração, turnês inteiras tiveram de ser adiadas ou simplesmente canceladas.

A cantora americana Taylor Swift, que viria ao Brasil em julho, foi uma das grandes estrelas a dar baixa em suas apresentações, com a promessa de reagendar tudo para o ano que vem.

Junto dela, outros artistas como Bon Jovi, Shania Twain, Elton John, The Rolling Stone e praticamente todos os demais cantores e bandas também cancelaram seus shows.

Essa nova realidade causa prejuízos bilionários não só aos artistas, como também as empresas que vendem ingressos a esses shows.

Segundo a Ticketmaster, maior empresa de distribuição e venda de ingressos, até o dia 1 março, seus sistemas contavam com 55 mil eventos ao longo de 2020. Desses, 30 mil já foram cancelados ou adiados. Mas a própria empresa informou ao NeoFeed que “mais atrações serão afetadas nas próximas semanas”.

A Ticketmaster sofre agora com a logística de reembolso de todos os ingressos vendidos. Segundo a empresa, US$ 2 bilhões já retornaram aos cofres dos organizadores e ela pretende devolver o dinheiro de seus usuários o quanto antes.

Os fãs podem escolher receber 150% do valor do ticket por meio do voucher Concert Cash, doar o montante do ingresso para profissionais da saúde por meio do programa Hero Nation, ou optar ainda pela devolução total de seu dinheiro. Neste último caso, porém, o pagamento só será concluído 30 dias depois que um show for oficialmente cancelado ou depois das novas datas reagendadas.

“É preciso de um ecossistema inteiro para dar vida a um espetáculo e nós agradecemos a paciência de todos”, disse a Ticketmaster em comunicado oficial.

As palavras, contudo, parecem não estar cativando Wall Street. As ações da Live Nation Entertainment, conglomerado especializado em shows e eventos dona da Ticketmaster, caíram 49,2% desde o começo do ano. No fechamento da terça-feira, 21 de abril, os papéis da Live Nation eram vendidos a US$ 36,47 e seu valor de mercado era de US$ 7,8 bilhões.

Live: o novo normal

Para contornar esse desafio que não tem prazo para acabar, os artistas abraçaram a tecnologia. Em apresentações transmitidas ao vivo por diferentes plataformas, músicos e produtores têm engajado seus fãs e patrocinadores, experimentando uma nova forma de ganhar dinheiro.

No sábado, 18 de abril, grandes nomes da música mundial se reuniram para o projeto “One World Together At Home”, promovido pela cantora Lady Gaga.

Só nos Estados Unidos, 20,7 milhões de pessoas acompanharam o espetáculo beneficente que contou com a participação de The Rolling Stones, Paul McCartney, Taylor Swift, Billie Eilish, Jennifer Lopez e outros.

No fim do mega show virtual, foi anunciado a arrecadação de US$ 127,9 milhões, dinheiro que será destinado aos profissionais da área da saúde.

Mas nem tudo o que acontece nesse esquema “ao vivo” tem propósito beneficente. No Brasil, Wesley Safadão causou com um show montado na área externa de sua residência. Por cerca de 10 horas, o cearense cantou para uma plateia virtual de até 1,6 milhão de pessoas.

Entre uma faixa e outra, Safadão usou e abusou das possibilidades de “monetizar” o espetáculo com publicidade. Segundo o jornalista Leo Dias, especializado na cobertura de celebridades, o artista cobrou R$ 100 mil para inserir logo de marcas na live, R$ 150 mil para fazer merchandise com depoimento, R$ 100 mil para a exibição de um comercial de 15 segundos e mais.

Live de Marília Mendonça

Na esteira deste modelo bem-sucedido, outros artistas fizeram o mesmo. Marília Mendonça estipulou em R$ 500 mil a participação de cada uma das três empresas que apareceram em sua live. Já Gusttavo Lima vendeu por R$ 300 mil cada uma das quatro cotas de publicidade disponíveis.

As duas lives tiveram apoio de empresas. A Stone, por exemplo, patrocinou a apresentação online de Marília Mendonça. Gusttavo Lima teve o apoio da Ambev.

Boa parte dessas apresentações ao vivo foram transmitidas pela plataforma de vídeos YouTube. O problema é que as regras da empresa não condizem com essa nova realidade, o que tem incomodado alguns artistas. A proibição de comerciais e exibição de marcas durante a transmissão, por exemplo, inviabiliza esse negócio.

Por isso, Matheus, da dupla sertaneja Matheus & Kaun , idealizou um aplicativo próprio, focado exclusivamente em shows ao vivo. O cantor Gusttavo Lima entrou como parceiro na empreitada, que deve estrear já no próximo mês.

O app vai ser operar em esquema pay-per-view, cobrando uma taxa de R$ 9,99 por cada show ao vivo. Como contrapartida, Matheus diz que a ferramenta vai conectar fãs e cantores de uma forma mais íntima, permitindo que a audiência escolha, por exemplo, as músicas a serem tocadas, além da participação em enquetes e envio de perguntas.

Nos Estados Unidos ainda não há notícias de novas ferramentas ou tecnologias serem aplicadas apenas para esse fim, mas há muitas histórias de artistas “editarem” ferramentas já conhecidas para sua nova realidade.

A DJ australiana Jessica McGuire, que tira seu lucro de apresentações em casamentos, festas e eventos corporativos, viu todos os seus compromissos serem cancelados “do dia para noite”, inclusive os internacionais.

Em conversa ao NeoFeed, McGuire, de 39 anos, diz que ficou desesperada. “Eu entendo as medidas de isolamento social, mas tive um prejuízo de milhares de dólares”.

Para capitalizar seus talentos em tempos do novo coronavírus, ela agregou seu conhecimento com mixagem de som, escrita e locução. “Tive a ideia de gravar podcasts pessoais em troca de uma doação via PayPal”, afirma McGuire. “Qualquer usuário poderia me pedir um tema e eu faria um ‘programa’ de 20 minutos sobre isso.”

McGuire achou que seu projeto não teria grande tração, mas a repercussão foi tanta que a DJ está mais ocupada neste período do que nunca. “Alguns clientes me pediram para fazer um podcast com a previsão do horóscopo para Áries, outros para falar sobre ‘gatos versus cachorros”, diverte-se, falando dos pedidos excêntricos que recebe.

Embora esses esforços “de formiguinha” façam sentido para pequenos artistas, grandes celebridades precisam mesmo apostar na parceria com marcas. “A quarentena impactou aproximadamente 120 mil acordos de patrocínios de eventos esportivos e de entretenimento. Um prejuízo de US$ 10 bilhões. Essa é a hora certa da indústria fonográfica tentar colaborar com grandes empresas”, publicou Marcie Allen em suas redes sociais.

A executiva está à frente da MAC Present, uma agência que conecta corporações a artistas e eventos. Em conversa com o NeoFeed, Allen revelou que nenhum grande contrato foi assinado ainda, mas acredita que essa notícia não deve demorar a chegar. “Todo mundo está tentando entender como funcionaria melhor; as conversas já estão acontecendo”. O show não pode parar.

Fonte: https://neofeed.com.br/blog/home/o-show-nao-pode-parar-as-lives-sao-o-novo-normal-dos-artistas-para-sobreviver/

Foto: Banda The Rolling Stones na live beneficente “One World Together at Home”

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