
Artigo de Fábio Gallo Garcia*
Entrar no mercado de capitais nesse momento dá ao mesmo tempo frio na barriga e é tentador
Pelo segundo mês consecutivo a inflação medida pelo IPCA foi negativa. A inflação acumulada nos últimos 12 meses está em 1,8%, sendo que o Boletim Focus traz a previsão do IPCA para 2020 em 1,53%, mas há previsões apontando que a nossa inflação poderá chegar em torno de 0,6% no ano. Isso nos leva à discussão sobre a taxa básica de juros. A questão que surge é sobre o comportamento do Copom e o quão fundo ele poderá ir nos cortes.
Na reunião de maio foi anunciado novo corte em junho, condicional ao cenário fiscal e conjuntura econômica, e que esse ajuste não seria maior do que o realizado. Recentes declarações mostram que os membros do Copom ainda não têm um consenso sobre essa política. Hoje a taxa Selic está em 3% e, com a deflação dos últimos meses, o mercado já crê os cortes de juros devem prosseguir e levar a taxa básica a 2,25% ao ano. Porém, ações devem ser tomadas na direção de estimular a economia e o corte pode ser mais drástico ainda.
Toda essa discussão traz questionamentos para o investidor. A taxa de juros pode ficar em patamar tão baixo que teremos de avaliar não somente quais ativos específicos serão mantidos, mas também como reequilibrar as classes de ativos da carteira e se devemos investir além das nossas fronteiras. Na tentativa de sair da roda de hamster, o investidor terá de aceitar mais risco. Mesmo verificando que a poupança tem aumentado, o volume líquido em ativos de baixo risco, como poupança e títulos do Tesouro, tem subido. Em algum momento, investidores vão começar a considerar ativos de mais risco. Entrar no mercado de capitais nesse momento dá ao mesmo tempo frio na barriga e é tentador, pois algumas empresas aparentam estar subavaliadas.
O Ibovespa, depois de cair 45% entre o inicio do ano e 23 de março, chegou a subir 55%. Ainda não recuperou as perdas anteriores, mas começou a dar sinais de que pode voltar aos 100 mil pontos. No mercado internacional não foi muito diferente. O S&P 500 teve queda de 34% ante o pico de março, mas neste mês chegou a voltar à marca do fim de 2019. Algumas ações no mercado americano chegaram a subir mais de 70% somente em junho. Empresas de biotecnologia, farmacêuticas e de tecnologia têm trazido ganhos mesmo em período tão conturbado.
Empresas conhecidas como Tesla, Amazon e Ford tem apresentado boa performance.
Alternativamente devemos observar o mercado de crédito privado para oportunidades. Investir em mercados externos reduz o risco sistêmico – e isso deve ser incentivo para investidores olharem para outros mercados. O fato é que a briga entre o “bull” (touro) e o “bear” (urso) irá continuar e deveremos ter muitas emoções antes de chegarmos a águas mais calmas.
*Fábio Gallo Garcia, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas e da Pontíficia Universidade Católica de São Paulo. Possui graduação em Engenharia, graduação em Administração de Empresas, mestrado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Administração Financeira, atuando principalmente nos seguintes temas: Assimetria Informacional, Finanças Internacionais, Finanças Comportamentais.