Em abril, a confederação pediu ao governo que suspenda as negociações entre o Mercosul e o país asiático; a entidade calcula que o déficit comercial com a Coreia do Sul possa ser ampliado em R$ 7 bilhões
O acordo comercial em negociação entre o Mercosul e a Coreia do Sul poderá prejudicar 51 setores econômicos no Brasil e beneficiar apenas 11, de acordo com estimativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Segundo o Estadão/Broadcast apurou, o acordo está avançado, mas as negociações caminham a passos lentos por causa da pandemia. Questões como quais setores serão excluídos do acordo de livre-comércio e o tempo até a retirada total de tarifas ainda estão em aberto.
Na simulação feita pela CNI – que já se manifestou contrariamente ao acordo – a maioria dos setores da agricultura, indústria extrativa e indústria de transformação e serviços teria redução no Produto Interno Bruto (PIB) com a eliminação das tarifas de importação de produtos sul-coreanos.
Seriam afetados, segundo o estudo, 21 setores na indústria, 18 no setor de serviços, 4 na indústria de transformação e 8 na agricultura. Outros 11 setores teriam ganho de PIB. A confederação não detalhou os setores que ganham e que perdem.
De acordo com a entidade, o crescimento para os setores da Coreia do Sul será oito vezes maior do que para os setores do Brasil. “Não faz sentido, em meio a uma crise sanitária e a uma recessão econômica que poderá bater recorde histórico, o Brasil e o Mercosul negociarem um acordo de livre-comércio que prejudica a maior parte dos setores e beneficia, de forma desproporcional, a Coreia do Sul. Há outros parceiros com quem podemos negociar outros tipos de acordos mais equilibrados, com ganhos mútuos, como os Estados Unidos e o México”, afirma o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Eduardo Abijaodi.
Como mostrou o Estadão/Broadcast, a CNI pediu em abril ao governo brasileiro que suspenda as negociações entre Mercosul e Coreia do Sul. A entidade teme que os termos atualmente na mesa prejudiquem os produtores brasileiros e ampliem em US$ 7 bilhões o déficit comercial com o país asiático.
Na semana passada, a entidade participou de reunião com o Ministério da Economia em que reafirmou seu posicionamento. “É uma negociação que tem sido feita com pouca transparência e diálogo com o setor privado, e que não parece seguir os parâmetros utilizados por outros países que já negociaram com a Coreia do Sul. Precisamos lembrar que as exportações coreanas são o segundo maior alvo de medidas antidumping no mundo, atrás apenas da China. Esse é um indicativo de que não há concorrência leal em alguns setores”, ressalta Abijaodi.
De acordo com a confederação, o acordo que vem sendo negociado com a Coreia do Sul garante o livre-comércio para 90% dos produtos importados e exportados para o Mercosul.
A CNI reclama que compromissos firmados pelos sul-coreanos com países como China, Índia e Turquia mantêm tarifas para 20% da pauta de comércio com períodos de carência e margens de preferência que não são contemplados na negociação com o bloco sul-americano.
No ano passado, o saldo da balança comercial entre os dois países foi negativo em US$ 1,256 bilhão.