O governo decidiu elevar o IOF (Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários) relacionado às operações de crédito para pessoas jurídicas e físicas para arrecadar R$ 2,14 bilhões e ajudar a bancar a ampliação do Auxílio Brasil, novo programa de transferência de renda que deve substituir o Bolsa Família. Essa mudança é negativa para a retomada da atividade econômica e, por tabela, para o desempenho dos mercados de investimentos no Brasil, segundo economistas e profissionais de mercado.
A solução encontrada pelo governo vai encarecer o crédito justamente no momento em que a taxa básica de juros, a Selic, está subindo. O IOF mais alto e a inflação, também em ritmo de aumento, vão atingir, de um lado, as empresas que precisam de capital de giro ou financiamento para retomar as operações, e de outro lado, as famílias consumidoras que buscam empréstimos para comprar bens ou mesmo trocar dívidas por outras mais baratas.
Para o coordenador executivo do Centro de Estudos do Novo Desenvolvimentismo da Fundação Getulio Vargas (FGV), o economista Nelson Marconi, o custo final dos empréstimos para empresas e consumidores deverá ficar mais alto.
Ao encarecer o crédito, [o IOF] poderá contribuir para desaquecer um pouco mais a atividade econômica.
Nelson Marconi, da FGV
Para o economista Roberto Troster, especialista no setor bancário e ex-economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), o Brasil erra ao tributar o crédito e as dívidas em vez de tributar a riqueza. Isso reduz a capacidade da de economia sair da crise em que se enfiou desde 2015.
O aumento do IOF é péssimo. É cavar um buraco grande amanhã para tapar um buraco pequeno hoje. As expectativas de crescimento para este ano e os dois seguintes estão em queda e vão cair mais ainda.
Roberto Troster, da Troster & Associados
Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o aumento de impostos sobre o crédito, mesmo que temporário, agrava o custo dos empréstimos, particularmente em um momento em que o Banco Central precisará subir ainda mais a taxa básica de juros para conter a alta da inflação.
O resultado é o desestímulo aos investimentos e mais custos para empresas e famílias que precisam de crédito. Esse aumento do IOF é um fator que dificulta o processo de recuperação da economia.
Febraban, em nota
Para o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas, o aumento do IOF vem em hora inadequada porque economia já apresenta sinais de acomodação do crescimento e queda do ritmo para o ano que vem, com o PIB oscilando de 0,5% a 1%.
A causa é nobre, mas deveria estar sendo financiada com corte de gastos e não aumento de impostos. Nicola Tjngas, Acrefi
Impacto na Bolsa e no dólar
Para o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira, o efeito prático e imediato do aumento do IOF é o encarecimento do crédito, que agrava uma situação já adversa por causa da Selic em alta e inflação acelerando.
Essa combinação de juros mais altos e inflação atinge especialmente as empresas menores, que não têm capital e estão com dificuldade maior de obter crédito, assim como as famílias que precisam de crédito.
Alvaro Bandeira, da Modalmais
Segundo o especialista em mercado de ações, essa combinação de fatores afeta diretamente as empresas negociadas em Bolsa que dependem do consumo doméstico mais popular.
Para o economista e sócio da BRA Investimentos, João Beck, a elevação da IOF é um retrato da incapacidade de negociação do governo para saídas melhores. Segundo ele, os setores mais ligados ao consumo interno serão çmais prejudicados porque o consumo das famílias vai ser impactado.
As empresas ligadas ao setor de alimentos e bens semi-duráveis serão as mais impactadas, assim como aqueles ligados ao crédito, como o de veículos e o imobiliário.
João Beck, BRA Investimentos
Para o analista da Ohmresearch Júlio Hegedus, o pior dessa decisão é a marca do improviso por parte do governo, algo que envia um sinal de incapacidade da gestão pública para fazer frente aos gastos e à política fiscal. Esse sinal amplia o grau de incerteza entre os agentes de mercado.
É uma decisão intempestiva para cobrir um rombo, usando uma gambiarra. O impacto do IOF vai cair sobre o crédito pessoal, como o cartão. Nas empresas, elas vão repassar para o custo final.
Júlio Hegedus, da Ohmresearch
O especialista em mercado de câmbio Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio, apontou que o IOF pode não representar um impacto direto no custo da taxa do dólar do mercado, mas deve elevar os custos dos produtos importados.
Num ambiente intensamente inflacionário, é um novo elemento que provoca alta de preços, que onera os produtos importados e o crédito de forma geral e cuja repercussão sera repassada para a população.
Sidnei Nehme, da NGO Corretora
Para o sócio-fundador da Fatorial Investimentos, Jansen Costa, o aumento do IOF também influencia de alguma forma o mercado e juros porque o encarecimento de crédito pode levar o Banco Central a tirar parte do aumento da Selic, já que o imposto, por si só, já eleva a taxa de juros praticada na economia.
O aumento o IOF impacta a curva de juros e tende a reduzir a alta da Selic.
Jansen Costa, Fatorial Investimentos
Procurado, o ministério da Economia informou que não faria nenhum comentário além do que já foi exposto na nota, segundo a qual “a decisão foi tomada em razão da observância das regras fiscais”.
Fonte: Uol