Para atender às necessidades de câmeras térmicas
A Amazon.com comprou câmeras para medir a temperatura dos trabalhadores durante a pandemia de uma empresa que os Estados Unidos colocou na lista negra por alegações de que ajudaram a China a deter e monitorar outras minorias muçulmanas, três pessoas familiarizadas com o assunto disse à Reuters.
A Zhejiang Dahua Technology Co., da China, enviou 1.500 câmeras para a Amazon este mês, em um acordo avaliado em quase US $ 10 milhões, disse uma das pessoas. Pelo menos 500 sistemas da Dahua, a empresa na lista negra, são para uso da Amazon nos Estados Unidos, disse outra pessoa.
As compras na Amazon, que não foram relatadas anteriormente, são legais porque as regras controlam as concessões e exportações de contratos do governo dos EUA para empresas na lista negra, mas não interrompem as vendas para o setor privado.
No entanto, os Estados Unidos “considera que as transações de qualquer natureza com as entidades listadas levar uma ‘bandeira vermelha’ e recomenda que as empresas americanas proceder com cautela”, de acordo com o Bureau of Industry and Security. Dahua contestou a designação e Pequim negou maus-tratos aos grupos minoritários.
O acordo ocorre quando a Administração de Medicamentos e Alimentos dos EUA alertou sobre a escassez de dispositivos de leitura de temperatura e disse que não interromperia certos usos pandêmicos de câmeras térmicas que carecem da aprovação regulatória da agência. A principal fabricante norte-americana FLIR Systems Inc enfrentou uma carteira de pedidos de até semanas, obrigando-a a priorizar produtos para hospitais e outras instalações críticas.
A Amazon se recusou a confirmar sua compra da Dahua, mas disse que seu hardware estava em conformidade com as leis nacionais, estaduais e locais, e que as verificações de temperatura eram para “apoiar a saúde e a segurança de nossos funcionários, que continuam a prestar um serviço crítico em nossas comunidades”.
A empresa acrescentou que estava implementando termovisores de “vários” fabricantes, que recusou nomear. Esses fornecedores incluem a Infrared Cameras Inc, que a Reuters informou anteriormente, e a FLIR, de acordo com funcionários da Whole Foods, de propriedade da Amazon, que assistiram à implantação. A FLIR se recusou a comentar seus clientes.
O senador Marco Rubio, crítico das políticas da China na região de Xinjiang, no país, onde uighers e membros de outros grupos minoritários majoritariamente muçulmanos foram detidos em campos, disse que os equipamentos Dahua representam um “enorme risco de segurança” para empresas e Estados Unidos.Uma câmera térmica Dahua mede a temperatura de um homem durante uma demonstração da tecnologia em San Francisco, Califórnia, EUA, em 24 de abril de 2020.
“É mais um exemplo de por que devemos começar a reconstruir as capacidades domésticas de fabricação da América e acabar com nossa perigosa dependência excessiva da China”, disse ele em resposta à notícia.
A Dahua, uma das maiores fabricantes de câmeras de vigilância do mundo, disse que não discute o envolvimento dos clientes e cumpre as leis aplicáveis. A Dahua está comprometida “em mitigar a disseminação do COVID-19” por meio de tecnologia que detecta “temperatura anormal da pele elevada – com alta precisão”, afirmou em comunicado.
O Departamento de Comércio dos EUA, que mantém a lista negra, recusou comentários. O FDA disse que usaria discrição ao impor regulamentos durante a crise de saúde pública, desde que os sistemas térmicos sem conformidade não apresentassem “risco indevido” e avaliações secundárias confirmaram febres.
As câmeras térmicas da Dahua foram usadas em hospitais, aeroportos, estações de trem, escritórios do governo e fábricas durante a pandemia. A International Business Machines Corp fez um pedido de 100 unidades e a montadora Chrysler fez um pedido de 10 unidades, disseram uma das fontes. Além de vender tecnologia térmica, a Dahua fabrica câmeras de segurança de marca branca revendidas sob dezenas de outras marcas, como a Honeywell, de acordo com a empresa de pesquisa e relatório IPVM.
A Honeywell disse que algumas, mas nem todas as suas câmeras são fabricadas pela Dahua, e mantém os produtos de acordo com os padrões de segurança cibernética e conformidade. A IBM e a controladora da Chrysler, Fiat Chrysler Automobiles NV, não comentaram.
O governo Trump adicionou Dahua e outras sete empresas de tecnologia no ano passado à lista negra por agir contra os interesses da política externa dos EUA, dizendo que estavam “implicadas” na “campanha de repressão da China, detenção arbitrária em massa e vigilância de alta tecnologia contra uigures, cazaques, e outros membros de grupos minoritários muçulmanos. ”
Mais de 1 milhão de pessoas foram enviadas para campos na região de Xinjiang como parte da campanha da China para erradicar o terrorismo, estimaram as Nações Unidas.
“É preocupante saber que empresas americanas conhecidas continuam fechando os olhos para empresas que estão alimentando o tratamento brutal do Partido Comunista Chinês de tantas pessoas”, disse o principal republicano no Comitê de Relações Exteriores da Câmara, Michael. McCaul, das notícias.
Dahua disse que a decisão dos EUA carecia de “qualquer base factual”. Pequim instou os Estados Unidos a remover as empresas da lista.
Uma provisão da lei dos EUA, que está programada para entrar em vigor em agosto, também impedirá o governo federal de iniciar ou renovar contratos com uma empresa usando “qualquer equipamento, sistema ou serviço” de empresas como a Dahua “como componente substancial ou essencial de qualquer sistema.
A unidade de nuvem da Amazon é uma grande empresa contratada pela comunidade de inteligência dos EUA e está lutando contra a Microsoft Corp por um acordo de até US $ 10 bilhões com o Pentágono.
As principais associações da indústria pediram ao Congresso um atraso de um ano, porque dizem que a lei reduziria drasticamente os suprimentos ao governo, e o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse na semana passada que as políticas que clarificam a implementação da lei estão próximas.
Detecção facial e privacidade
O coronavírus infectou funcionários de dezenas de armazéns da Amazon, desencadeou pequenos protestos por condições supostamente inseguras e levou os sindicatos a exigir o fechamento de sites. As verificações de temperatura ajudam a Amazon a permanecer operacional e as câmeras – uma alternativa mais rápida e socialmente distante aos termômetros de testa – podem acelerar as filas para entrar em seus edifícios. A Amazon disse que o tipo de leitor de temperatura usado varia de acordo com a construção.
Para verificar se alguém está com febre, a câmera de Dahua compara a radiação de uma pessoa a um dispositivo de calibração por infravermelho separado. Ele usa a tecnologia de detecção de rosto para rastrear os assuntos que passam e garantir que ele esteja procurando calor no lugar certo.
Um dispositivo de gravação adicional mantém instantâneos dos rostos que a câmera viu e suas temperaturas, de acordo com uma demonstração da tecnologia em San Francisco. O software opcional de reconhecimento facial pode buscar imagens do mesmo assunto ao longo do tempo para determinar, por exemplo, quem um paciente com vírus pode ter estado perto de uma fila para verificação de temperatura.
A Amazon disse que não está usando reconhecimento facial em nenhuma de suas câmeras térmicas. Grupos de liberdades civis alertaram que o software poderia privar as pessoas de privacidade e levar a apreensões arbitrárias, se contadas pela polícia. As autoridades americanas também temem que fabricantes de equipamentos como Dahua possam esconder uma “porta dos fundos” técnica para agentes do governo chinês que buscam informações.
Em resposta a perguntas sobre os sistemas térmicos, a Amazon afirmou em comunicado: “Nenhum desses equipamentos possui conectividade de rede e nenhuma informação pessoal identificável será visível, coletada ou armazenada”.
A Dahua tomou a decisão de comercializar sua tecnologia nos Estados Unidos antes que o FDA emitisse a orientação sobre câmeras térmicas na pandemia. Seu suprimento está atraindo muitos clientes norte-americanos não intimidados pela lista negra, de acordo com Evan Steiner, que vende equipamentos de vigilância de diversos fabricantes na Califórnia por meio de sua empresa EnterActive Networks LLC.
“Você vê muitas empresas fazendo tudo o que podem para se preparar preventivamente para a força de trabalho voltar”, disse ele.
Reportagem adicional de Brenda Goh e Shanghai Newsroom, Paresh Dave, Chris Sanders, Stephen Nellis, Mike Stone e David Brunnstrom; edição por Vanessa O’Connell, Greg Mitchell, Edward Tobin e Leslie Adler
