Dirigente da Anbima não acredita em contaminação de ativos, como as debêntures tradicionais
A situação da Americanas é um caso isolado e o mercado está “se acalmando rapidamente”, afirmou nesta quinta (9) Ademir Correa Junior, presidente do Fórum de Distribuição da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
A entidade apresentou o balanço dos investimentos feitos pelos brasileiros em 2022. Os números da Anbima mostram que os investidores de varejo aplicaram R$ 6 bilhões em debêntures tradicionais em 2022, um crescimento de 85,6% em relação ao ano anterior.
Debêntures são títulos emitidos geralmente por grandes empresas, que na prática representam um empréstimo feito por investidores. Na maioria das vezes, as companhias oferecem juros atrelados ao CDI, que segue de perto a taxa básica de juros, mais um prêmio adicional, que varia de acordo com o tamanho e a situação financeira da empresa.
A estimativa feita por agentes de mercado é de que a dívida da Americanas somente com debêntures gire em torno dos R$ 5 bilhões.
“Não é possível olhar o caso Americanas como algo que faz parte do ecossistema de investimentos, é isolado. Claro que cria muitos rumores entre os investidores. Mas o que vejo é que o mercado está se acalmando rapidamente”, afirma Correa.
As debêntures normalmente chegam ao pequeno investidor indiretamente, via fundos de investimentos que compram os títulos quando são emitidos por empresas. Um problema como o da Americanas impacta o valor das cotas destes fundos, com possível perda de rentabilidade.
Opção pela segurança
De modo geral, o balanço da Anbima mostra que os investidores brasileiros, grandes e pequenos, aumentaram suas aplicações no mercado de capitais em 2022, com volume acima de R$ 5 bilhões e crescimento de 11,7% ante os valores de 2021.
O que mudou foi o perfil das aplicações. Enquanto opções de renda fixa ganharam espaço, as ações tiveram queda na participação dentro do total pelo segundo ano consecutivo, no que Correa classifica como uma “opção pela segurança”.
Os ativos de renda fixa ficaram com 60,3% dos recursos aplicados no Brasil ano passado, ante 56,8% em 2021. A renda variável, por sua vez, recuou de 19,5% para 17,1%. Em 2020, esta fatia era de 20%.
Segundo o dirigente da Anbima, a alta dos juros favoreceu a opção dos investidores pela renda fixa. As aplicações nos fundos desta categoria cresceram quase 24% entre os investidores private, que têm mais de R$ 3 milhões em aplicações. No varejo, o crescimento foi de 10%.
“No varejo, o aumento do volume aplicado em fundos de renda fixa foi o maior desde 2017, e no private, o maior desde 2016”, revela Correa.
Outro destaque do ano passado ficou com as opções de investimento que são isentas de impostos. O maior crescimento ficou com o LIG (Letra Imobiliária Garantida), que são títulos emitidos por bancos baseados em ativos imobiliários. Em 2022, o volume aplicado neste instrumento cresceu 87,7%.
No mesmo segmento, o CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) cresceu 74,2% em 2022.
Entre os investimentos mais tradicionais, sobre os quais incidem Imposto de Renda, o CDB cresceu 25,5% em 2022, enquanto a aplicação em títulos públicos avançou 24,1%.
Já os valores aplicados em ações caíram, e de forma mais intensa entre o público private, com recuo de 5,3%, enquanto no varejo, a queda foi de 1,7%. No total, os investimentos em ações no ano passado caíram 4,2%. Isso em um ano de alta de 4,69% do Ibovespa.
O patrimônio líquido da indústria de investimentos no Brasil ultrapassou os R$ 5 trilhões em 2022, sendo R$ 3,1 trilhões no varejo e R$ 1,9 trilhão no segmento private.
Fonte: Folha