O engenheiro paranaense Raphael Koyama foi responsável por administrar a crise nos restaurantes de comida japonesa Matsuri. Hoje, negócio familiar opera em delivery e conta com franquias
Raphael Koyama, natural do Paraná, não tinha inicialmente a intenção de seguir a trajetória empreendedora de seus pais, administrando os restaurantes de comida japonesa Matsuri. Em 2019, enquanto trabalhava como engenheiro civil na startup Ecofood, uma empreitada criada por ele para reduzir o desperdício de alimentos em estabelecimentos comerciais, Koyama descobriu que o negócio da família estava enfrentando sérios problemas financeiros.
As dívidas iniciais foram estimadas em um milhão de reais, mas surpreendentemente, na realidade, totalizavam quase 5 milhões de reais. Diante dessa situação, o jovem de 24 anos tomou uma decisão audaciosa: deixou seu cargo na startup e, no início de 2020, assumiu a administração dos restaurantes familiares. A rede Matsuri, fundada em 2003 e originalmente composta por três unidades e um modelo de contêiner, estava enfrentando uma crise financeira.
O que Raphael não poderia imaginar era que, em apenas três anos, o Matsuri seria transformado em um novo modelo de negócios e sairia do vermelho, gerando um faturamento de mais de 22 milhões de reais.
“Eu sabia que precisava ajudar minha família. Apesar da minha juventude, já tinha conhecimento de gestão suficiente para enfrentar a crise nos restaurantes. Desistir não era uma opção”, afirmou Koyama.
A Crise nos Restaurantes Matsuri
Os restaurantes da família Koyama já estavam operando com prejuízo quando o Brasil entrou em lockdown devido à pandemia de COVID-19. Apesar de serem talentosos na cozinha e no atendimento, os pais, Claudio e Emiko, careciam de conhecimento em gestão, o que explicava a crise enfrentada pelos estabelecimentos. Koyama observou que muitos negócios familiares enfrentam dificuldades financeiras devido à falta de formação em administração por parte dos empreendedores.
Enquanto a família se esforçava para pagar as rescisões dos funcionários, sob a gestão financeira de Raphael, eles conseguiram obter crédito com a ajuda de amigos e do antigo chefe do jovem, que havia sido seu primeiro empregador em uma construtora na região de Londrina, no Paraná. No total, obtiveram cerca de 150 mil reais para quitar as dívidas com fornecedores. Além disso, venderam dois carros e o apartamento onde viviam.
“No início de abril de 2020, projetei as finanças dos próximos trinta dias e percebi que, se não tomássemos medidas, teríamos apenas 10 mil reais do empréstimo restantes”, disse o engenheiro. Para complementar a receita do Matsuri, eles começaram a vender temporariamente marmitas brasileiras, a fim de evitar que o empréstimo se esgotasse. Esse plano deu certo. Em dois meses, a família conseguiu juntar dinheiro suficiente para abrir o Matsuri To Go, em junho de 2020.
“Conseguimos o dinheiro necessário para comprar as primeiras embalagens, produzir o vídeo de inauguração, pagar o primeiro aluguel do estabelecimento e desocupar o apartamento para nos mudarmos para a casa. Quando nos mudamos, lançamos o Matsuri To Go. Morávamos no andar de cima e trabalhávamos no delivery no andar de baixo”, relatou Koyama.
O Novo Modelo de Negócios
O serviço de entrega se tornou o principal canal de vendas para os restaurantes durante a pandemia de COVID-19, e com o Matsuri não foi diferente. Com as finanças apertadas e os restaurantes fechados, a família optou por abandonar os locais físicos e se concentrar exclusivamente no delivery.
Com um ticket médio de R$ 82, a Matsuri To Go lançou suas operações em junho de 2020 e foi calorosamente recebida pelos consumidores da região de Londrina. Koyama explicou: “Começamos a operar com três funcionários, meus pais e eu. Nossa expectativa era vender 30 mil reais no primeiro mês, mas conseguimos atingir 237 mil reais em vendas”, contou o engenheiro.
No primeiro ano sob a administração de Koyama, em 2020, com operações de entrega apenas em Londrina, o faturamento atingiu 1,6 milhão de reais. No ano seguinte, a rede inaugurou unidades próprias em Arapongas, Apucarana e a primeira franquia em Ibiporã, impulsionando a receita para quase 6 milhões de reais. A rede também estabeleceu, em 2021, uma cozinha central em Londrina para abastecer todas as unidades da região.
A franquia da Matsuri To Go exige um investimento inicial de 180 mil reais, com um faturamento médio anual de 2,6 milhões de reais e um prazo de retorno estimado em 12 meses.
Em 2022, novas franquias foram inauguradas em diversas cidades, incluindo Maringá, Umuarama, Campo Mourão, Cambé e Cascavel. Além disso, uma nova unidade em contêiner foi aberta em Apucarana. O faturamento no ano passado atingiu 16 milhões de reais.
Desde que assumiu a gestão do negócio, Raphael Koyama conseguiu liquidar grande parte das dívidas da família. A expectativa é eliminar o montante restante, que gira em torno de 1,5 milhão de reais, até 2025.
Raphael Koyama atua como CEO da Matsuri To Go e, a partir de 2021, a rede conta com duas sócias: Maria Fernanda Canizares, responsável pelo desenvolvimento de produtos e da cozinha central, e Maria Clara Rocha, que criou a marca de poke da rede. “Meus pais continuam envolvidos no negócio. Eles são diretores de lojas e cuidam de toda a parte de gestão de líderes”, destacou Koyama.
Para 2023, a expectativa é encerrar o ano com 36 unidades. Embora a maioria delas esteja localizada no Paraná, a Matsuri To Go pretende expandir no interior de São Paulo, com algumas operações já em andamento no estado. Até setembro, o faturamento atingiu 22 milhões de reais, e a rede de delivery japonês projeta encerrar o ano com 33 milhões de reais em receita.
Outra novidade empolgante é que a Matsuri planeja reabrir uma unidade com salão em Londrina ainda este ano, o que demonstra a impressionante capacidade de recuperação desse negócio familiar.
Fonte: Exame