Tomara que a minha nutricionista não leia este artigo: num ato de total extravagância, resolvi comprar um pacote do meu salgadinho preferido e comer sem culpa na consciência. E, egoísmo supremo, sem dividir com ninguém.
Lá fui eu, intrépido, para o palácio dos pecados, a seção de guloseimas do supermercado aqui perto.
Preço igual
Como já fazia algum tempo que eu não aparecia por lá, talvez há alguns quilos, achei sensacional ver que a preço se mantinha praticamente o mesmo.
Mas a questão é que comi muito mais rápido do que antes, e a vontade de comer mais continuava comigo.
Fácil de entender: eu continuo guloso ou tinha menos produto na embalagem? Resposta simples: as duas coisas. Só que eu gostar de comer mais abala apenas a confiança da minha Nutricionista em mim. Mas menos produto na embalagem abala a confiança que eu tenho – ou tinha – na marca.
Salada de frango sem frango
Não foi a primeira vez que vi empresas reduzirem quantidades ou mudarem ingredientes, para manter preços. Na mesma semana pedi uma salada que vinha com frango e até agora o frango não chegou.
A realidade é que os custos sobem e as empresas se deparam com uma decisão pouco confortável: melhor aumentar os preços ou reduzir a entrega?
Preço maior
Temos de construir duas situações aqui. Muitas vezes o serviço ou o produto é destinado a um público menos sensível a preço, e que vai entender que tudo está mais caro. Pode até não gostar disso, mas entende. E prefere receber o que sempre recebe em termos do volume, do sabor, da qualidade, mesmo que a carteira fique mais magra.
Outra situação é a de clientes que olham o preço antes de mais nada, ou que compram aquele tipo de produto em ambiente de altíssima competição; zilhões de ofertas buzinando ali. É o caso do meu salgadinho.
Daí a comparação de preço acaba sendo maior. Aumentar o dito cujo (o preço!) pode ser perigosíssimo.
Enganar o cliente
No final da história (não aceito a palavra estória) o que se paga no caixa é o que se pagava antes. Mas o que se leva pra casa é alguma coisa a menos, ou muito menos.
A empresa que toma esta decisão, sem avisar de forma clara (nada de letrinhas invisíveis) ao cliente que a quantidade foi reduzida, está assumindo que optou por manter o preço mas, claro, enganando o cliente. Pode até ter garantido aquela venda, daquela vez. Mas corrompeu a relação, a confiança.
A melhor opção
Eu nunca acho que enganar o cliente deva ser o caminho escolhido. Entendo claramente o dilema de correr alto risco por aumentar preços. Mas será que não é risco maior perder o cliente pra sempre? Será que recuperar o cliente via futuro ajuste de preço (ou contando que a concorrência também vá aumentar) não é mais razoável do que enganá-lo?
Em que circunstância a empresa danificou mais a relação? Aumentar preços não é desonesto, se houver uma explicação. O cliente pode não gostar, mas quando os preços novos se assentam, ele retorna. Reduzir volumes ou retirar ingredientes sem avisar é desonesto. O cliente dificilmente retorna. Qual parece ser a opção que vai emagrecer mais a sua marca?
Se você quiser comentar, questionar, elogiar (tomara!), falar da sua experiência sobre o tema, entre em contato comigo através do email igdal@ism.com.br