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Bancos de investimento retomam, em ritmo acelerado, ofertas de ações

Dois meses e meio depois de duas dezenas de aberturas de capital terem voltado para a gaveta de forma compulsória diante da pandemia da covid-19, os bancos de investimento voltaram a testar o apetite do mercado para ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês), ou seja, muito antes do que o prognóstico inicial. A retomada das tratativas das ofertas começa de forma seletiva, mas a percepção é de o Ibovespa acima dos 90 mil pontos e o grande fluxo de liquidez no mercado abrirão uma janela para a estreia de mais empresas na Bolsa.

Antes que os IPOs cheguem, as ofertas subsequentes (follow ons) já começam a funcionar como abre alas para outras operações. Na semana passada, a varejista Centauro levantou R$ 900 milhões, com uma demanda típica de ‘bull market’: a demanda dos investidores superou em sete vezes a oferta, conforme fontes. A Via Varejo, que precifica sua oferta hoje, também vê forte interesse de investidores em sua oferta que pode chegar a R$ 4 bilhões, dinheiro que trará conforto ao seu caixa. A demanda em sua oferta supera em cinco vezes a oferta base, apurou o Broadcast. Os bancos devem anunciar outros nomes nas próximas semanas, ao menos é essa a expectativa.

O sócio e responsável pela área de renda variável do BTG Pactual, Fabio Nazari, afirma que o mercado viu o cenário se deteriorar de forma muito rápida por conta da pandemia, mas que o processo de recuperação demonstra caminhar de volta com o mesmo ritmo, tendo em vista o que já vem sendo observado nos mercados internacionais. “A América Latina está antecipando esse processo, olhando o mercado estrangeiro”, cita. Segundo ele, com o mercado em alta, empresas já começaram a retomar seus planos, com muitas querendo aproveitar a liquidez global para fazer caixa. “Os investidores não estão olhando neste momento para o lucro de 2020, mas para o de 2021, e atento às lições aprendidas com a covid-19, com as mudanças que as empresas fizeram em seus negócios”, destaca o executivo. Segundo ele, o movimento deverá ser intenso, considerando follow ons e IPOs, entre julho e outubro.

O sócio da área de mercado de capitais do escritório Mattos Filho, Jean Marcel Arakawa, destaca que, o telefone voltou a tocar há cerca de duas semanas e que, desde então, as ofertas começaram a sair da gaveta. Das operações que devem ir para a rua nos próximos meses, afirma o especialista, há três grupos. O primeiro das empresas que já estavam na fila e tiveram os planos frustrados com a pandemia, aquelas que miravam o segundo semestre para uma captação e que seguem com os planos e, por fim, o grupo das empresas já listadas, que devem recorrer ao mercado para fortalecer o caixa.

No momento, os bancos conversam com investidores, sobre os nomes de empresas que podem ter mais sucesso na hora de lançarem suas ações neste momento. O tom de otimismo começou a ser dado na semana passada nos Estados Unidos, com o maior IPO de 2020 por lá feito neste ano e o mais importante: ainda na pandemia. A Warner Music movimentou US$ 1,9 bilhão em sua oferta.

“Pode acontecer uma boa repercussão da retomada nos EUA e talvez tenhamos uma antecipação de transações indo ao mercado mais cedo do que imaginávamos, mas certamente não teremos a euforia de antes, já que o mercado acredita em uma redução do PIB entre 5% e 7% no ano”, destacou uma fonte de um banco de investimento estrangeiro.

Outra questão que começará a impulsionar os mercados é a ampla liquidez externa, diante dos inúmeros pacotes fiscais e de estímulos dos Bancos Centrais, que irrigam o mundo com mais recursos. “Vem uma tempestade de dinheiro para mercados emergentes”, disse uma fonte.

Neste momento já estão em reuniões iniciais – ainda as virtuais, por meio de videoconferências – com os investidores, o Grupo Soma, de varejo de moda, dona de marcas como a Farm e a infantil Fábula, e a fabricante de ouro Aura Minerals, que possui sede no Canadá, onde já tem capital aberto, e fará na B3 a emissão de BDRs, que são papéis lastreados. “A Aura produz ouro, então, de fato, seu contexto deve estar até melhor do que antes da covid. A oferta da Aura deverá ocorrer ainda neste mês e será com esforços restritos – ou seja, destinado a um pequeno grupo de investidores qualificados. Será o primeiro IPO com esforços restritos na B3, modelo que já se popularizou entre as ofertas subsequentes.

Outra que vai tirar os planos do papel é a Ambipar. E não é por menos: a pegada da sustentabilidade e do ambientalmente correto ganhou tração entre os investidores na pandemia. Mês passado a rede de estacionamentos Estapar fez sua estreia na B3, primeira oferta de ações em meio à pandemia.

“A informação é de que o restante da fila de ofertas de março voltará toda, como Quero-Quero e Petz”, disse uma gestor. Isso significa de que mesmo as empresas de fundos de private equity (que são os que compram participações em empresas) devem fazer os IPOs de empresas investidas, o que costuma acontecer em momentos de alta da Bolsa. A Quero-Quero é uma varejista de materiais de construção do fundo Advent e a varejista de produtos de animais de estimação Petz do norte-americano Warburg Pincus.

Um gestor destaca que, apesar desse otimismo, o movimento não tem relação com o contexto Brasil. “Esse é um efeito de muita liquidez global e juro zero?, explica. Ele lembra que nos Estados Unidos a emissão de ações neste ano acaba de bater recorde mensal em maio, com US$ 69 bilhões, ante US$ 63 bilhões em dezembro de 2019.

Do lado negativo, mesmo diante de centenas de bilhões de dólares circulando no mercado, existe ainda pouca visibilidade dos impactos e resultados futuros das empresas, assim como o ritmo de recuperação das economias. “E se houver uma segunda onda do vírus? Precificar IPOs será uma queda de braço interessante”, acredita.

Fonte: Estadão

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