Artigo de Alvaro Bandeira *
“Só compre algo que você ficaria perfeitamente feliz em segurar, caso o mercado ficasse fechado por 10 anos”.
Se o velhinho mais famoso da área de investimentos e gestores de um enorme fundo anda meio desorientado, que dirá os investidores de menor experiência ou os neófitos do mercado de capitais brasileiro.
O mega investidor Warren Buffett da Berkshire Hathaway, fez sua reunião anual para investidores em auditório vazio por conta da pandemia global nesse final de semana, anunciando prejuízos da ordem de US$ 50 bilhões, dizendo que na crise vendeu todas as posições que detinha em ações de empresas aéreas. Disse ainda que está com caixa da ordem de US$ 125 bilhões e que não sabe exatamente o que fazer no momento com alguma segurança. Isso nos faz lembrar uma frase do próprio Buffett que dizia: “Só compre algo que você ficaria perfeitamente feliz em segurar, caso o mercado ficasse fechado por 10 anos”.
Notem que Warren Buffett é hoje o terceiro homem mais rico do mundo, depois de Jeff Bezos da Amazon e Bill Gates da Microsoft. Sua fortuna é avaliada em mais de US$ 80 bilhões. Pois bem, isso é para exemplificar que essa crise é diferente de todas as outras que atravessamos. Em seu discurso Buffett fez um panorama de todas as crises, desde antes mesmo da crise de 1929 cujo desfecho e medidas só vieram nos idos de 1934, passando pelas crises asiáticas, mexicana, russa, argentina, brasileira, queda das torres gêmeas e mais recentemente a crise do subprime de 2008. Aqui, de quebra ainda tivemos a crise que culminou com o impeachment de Dilma e depois os problemas de Michel Temer.
Essa crise, como temos dito, é uma crise sanitária nunca vista, e não derivada como as outras de problemas no sistema financeiro ou de insolvência econômica de países. Como tal, fica extremamente difícil dimensionar os impactos nas economias, sua duração, se houver uma segunda onda de contágio em países que estão flexibilizando o isolamento e distanciamento social e como se dará a recuperação das diferentes economias. O que sabemos é que os impactos serão sentidos em todos os países, e de forma diversa.
Querem ver como a coisa se passa? Nos EUA, o presidente Donald Trump tem dito que a recuperação americana no quarto trimestre será incrível. Já Barkin, presidente do FED regional de Richmond, diz que a recuperação americana será lenta. Na Alemanha, nada diferente. Depois de terem movimentado algo como quase 50 PIB em diferentes formas de ajuda, seria de se esperar que também tivessem uma recuperação forte já a partir do quarto trimestre de 2020. Ocorre que o presidente do Bundsbank, Jens Weidmann, diz que também por lá a recuperação não será rápida. Na zona do euro, a presidente do BCE (BC europeu) Christine Lagarde diz que em 2020 a economia pode retroceder em até 15%, dependendo da situação da pandemia.
Nos emergentes de forma geral, e mais especificamente no Brasil, não é de se esperar recuperação rápida, e cada vez isso fica mais distante por conta dos esforços do Bacen e do governo serem notoriamente inferiores (não tínhamos folga fiscal e os juros já estão suficientemente baixos), mas também pelos problemas políticos que afastam a união dos três poderes em momento crucial da crise, onde seria fundamental essa união. Além disso, será preciso retomar reformas estruturantes, tão logo a crise da pandemia dê uma trégua, para sinalizar ao mundo que queremos reorganizar a economia e atrair investimentos absolutamente essenciais para que possamos crescer. Por aqui, mesmo com tudo que está sendo feito, o impacto será forte em contração do PIB desemprego, déficit fiscal, endividamento, etc.
Diante do fato de não sabermos exatamente como as economias irão se comportar nos próximos meses, fica muito complicado estabelecer com o dimensionar sua carteira de investimentos em ativos de risco. A volatilidade dos mercados irá permanecer e com o coadjuvante a crise de demanda do petróleo permeando tudo e todas as commodities.
O “velhinho de sucesso” não sabe como gerir nesse momento sua liquidez invejável, mas ficar líquido é o que todos estão buscando para aproveitar essa situação quando o nevoeiro passar. Portanto, para aqueles que gostam de risco, a volatilidade é ideal para especular no curto prazo e as assimetrias existentes podem dar espaço para aquisições de mais longo prazo; desde que se dimensione os riscos que se quer correr.
Ficamos com mais uma frase de Buffett: “quer estejamos a falar de meias ou de ações, gosto de comprar mercadorias de qualidade quando o mercado está para baixo”.
* Alvaro Bandeira é economista-chefe e sócio do banco digital modalmais