Enquanto a Americanas enfrentou dificuldades devido a fraudes sistemáticas, a Casas Bahia surge como um exemplo marcante dos desafios e crises vivenciados pelas varejistas de móveis, eletroeletrônicos e eletrodomésticos nos últimos anos. Anteriormente conhecida como Via Varejo e Via, a empresa viu seu valor de mercado declinar de R$ 34 bilhões, no auge das vendas online em 2020, para os atuais R$ 899 milhões.
O aumento das taxas de juros impactou o consumo em suas principais categorias, altamente dependentes do crédito, evidenciando que a estratégia de sacrificar a rentabilidade para impulsionar o crescimento online não era sustentável. O custo da dívida também disparou, pesando no balanço. Com as ações negociando em torno de R$ 0,50 após uma queda de 80% apenas em 2023, a Casas Bahia realizou um grupamento na proporção de 25 para 1 para permanecer no Ibovespa.
Renato Franklin, ex-executivo da Movida, assumiu a liderança em agosto, com a missão de reestruturar a empresa e colocá-la de volta nos trilhos para um crescimento a partir de 2025. Um follow-on em setembro levantou aproximadamente R$ 600 milhões, proporcionando algum alívio financeiro. No entanto, a dívida ainda é elevada, e a empresa não gera caixa, levantando especulações sobre uma possível recuperação judicial.
Franklin descarta essa possibilidade, destacando que a dívida, especialmente de curto prazo (R$ 1,8 bilhão), está concentrada em dois bancos, embora sem mencionar nomes. A empresa busca renovar as dívidas ao longo de 2024 e afirma ter o suporte dos bancos para isso. O executivo expressa otimismo em relação aos resultados do quarto trimestre e da primeira metade de 2024, destacando avanços operacionais, como o fechamento de lojas e a redução do prazo de giro de estoque.
Na entrevista, Franklin aborda a reestruturação em andamento, afirmando que os efeitos positivos já estão sendo percebidos, e a meta é que a empresa gere caixa até o final de 2024. Ele descarta a possibilidade de recuperação judicial e aborda questões financeiras, como o FIDC de novembro, que injetou cerca de R$ 500 milhões na empresa. Franklin ressalta a confiança na renovação das dívidas de curto prazo e destaca os cortes de gastos, ajustes na rentabilidade do marketplace e a redução de categorias não rentáveis.
Ao falar sobre a reestruturação, Franklin destaca a mudança cultural necessária, com foco na rentabilidade em vez do crescimento. Ele enfatiza a eficiência obtida através do ajuste no mix de estoque, permitindo uma melhoria no giro e liberando capital significativo. Franklin sugere que a Casas Bahia pode superar as expectativas do plano original, principalmente em eficiência operacional e giro de estoque.
Quanto à concorrência, Franklin destaca a liderança da Casas Bahia nas categorias principais, tanto no offline quanto no online. A empresa opta por não competir agressivamente por market share no e-commerce como um todo, focando nas categorias que fazem sentido financeiro. Franklin ressalta o crescimento equilibrado do marketplace e a possibilidade de lucro em 2024, antecipando as expectativas iniciais. Ele considera positivo realizar ajustes em um mercado mais estável, evitando a perda de participação no núcleo de suas operações.
Fonte: Exame