Uma forma que os empreendimentos periféricos têm encontrado para se profissionalizar são os catálogos de divulgação. Um deles, recém-lançado, é o Sabores & Negócios, reunindo 29 empreendedores da zona Leste de São Paulo, a maioria mulheres que fazem doces, salgados, marmitas, entre outras delícias, como as bolachas “coquinho”, “praieira” e “sete capas”.
Essa é a especialidade da Peniel Bolachas Pernambucanas, negócio familiar tocado por pai, mãe e filho. Eles vieram para São Paulo de Gameleira, interior de Pernambuco, há duas décadas. O catálogo lançado pela Oficina Escola de Culinária, mantida pelo Galpão ZL, reúne muitas histórias de vida, forno e fogão, como a de Djanete Aparecida Caetano.
Ela fez seu primeiro bolo aos nove anos de idade. Adulta, casou, abandonou o sonho culinário, mas, com a separação e três filhos, veio a necessidade. Foi à luta, fez cursos, aprendeu técnicas, começou a ter pedidos de bolos e cafés da manhã. Na pandemia, as encomendas aumentaram. Foi quando abriu a Confeitaria Dejafest.
São mais de duas décadas de profissão. Ela está montando sua cozinha em três cômodos, e quer mais. “Eu faço a minha própria receita, mas o empreendedor deve fazer cursos. Não tem como escapar. No ano que vem eu quero correr atrás para aprender a organizar minha situação financeira”.
Na capa do catálogo
Priscila Fontana está na capa do
catálogo Sabores & Negócios. “É maravilhoso. O lançamento do catálogo me deixou mais motivada. Muita coisa acontece, a gente pensa em desistir, mas o catálogo me deixou com esperança. Por a gente ser pequeno e de comunidade, não é muito visto, então só ajuda”.
Sua paixão sempre foram os doces. Cozinhou em restaurantes, mas saiu, não queria trabalhar para terceiros. Havia ainda o desejo de ficar perto dos filhos. Seu negócio começou sem pretensão, com a foto de um cone trufado postada na internet.
“A gente virava a noite fazendo. O pessoal vinha buscar, meu marido levava para vender no trabalho. Com isso, foi aumentando o pedido de outros doces, bolos de festas”. A casa ficou pequena. No final de 2019, Priscila Fontana alugou um espaço e abriu a Doçuras da Pri. Passou a fazer salgados também.
Estar bem na foto
Ju Dias trabalhou por mais de uma década como publicitária, até voltar a morar na zona Sul da capital paulista. Observando seu território, criou uma agência de comunicação. Então veio a pandemia. Mulheres empreendedoras, sem poderem ir às ruas para trabalhar, precisavam ampliar seus negócios. Dias juntou 16 iniciativas para divulgar coletivamente. Surgiu o Catálogo de Quebrada, voltado para a Páscoa.
A pandemia não passou e veio o de Dia dos Pais, Natal, catálogos com artesanato, moda, papelaria, livros. Atingiu 80 negócios. Hoje, a Bora Lá, agência de comunicação popular fundada por Ju Dias, contabiliza 150 empreendimentos periféricos atendidos, 90% liderados por mulheres, 80% na periferia.
“A gente pede que seja um produto autoral e artesanal”. O que era um arquivo eletrônico enviado por redes sociais, virou um site, o Catálogo de Quebrada. “Hoje tem quem fala com os negócios, eu cuido das artes e da divulgação, outra mana cuida das inscrições, a gente paga impulsionamento. Queremos ter cem negócios no Natal”.
Provocadas pela pandemia
O catálogo Sabores & Negócios, da zona Leste, começou a ser pensado no ano passado, reunindo empreendimentos que passaram pelas iniciativas de formação do Galpão ZL. A maioria, mulheres, como as moradoras do Jardim Lapena. Segundo a publicitária Ju Dias, catálogos publicitários vêm ganhando importância entre os pequenos negócios da periferia.
“A pandemia trouxe a necessidade de pensarem as divulgações online. Tem uma demanda de marketing digital. A internet tem a questão coletiva muito forte, então como é que você consegue divulgar o material de forma coletiva, para ganhar mais força, mais capilaridade? Estamos pensando e agindo nessas bases”, diz Ju Dias.
Fonte: Terra