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Chega de tele-incômodo

Desde que a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) entrou em vigor, tive esperança de parar de receber ligações indesejadas de alguma central de vendas. E eu demorei muito tempo a me cansar disso, já que trabalho em Marketing e em Vendas e me considerava meio que parente do pessoal que ligava.

Mas era excessivo. Olhem o absurdo: quando me aposentei pelo INSS, logo que entrei no carro, comecei a receber ligações de empréstimo consignado. Eu não tinha nem falado com a minha família, e já tinha um banco falando comigo. Inacreditável.

Era demais. E comecei a usar aplicativos de identificação de chamadas-spam, não atendo  números não-identificados ou desconhecidos. Não tem jeito. Volta e meia acabo atendendo. Descuido da minha parte.

Descuido em parte. Porque muitas vezes são empresas com quem de fato tenho relacionamento. Isso é irritante: elas tentam forçar a barra pra vender mais serviço. Será que eu autorizei o banco a me oferecer mais um cartão? Terei eu autorizado uma imobiliária, pra quem liguei pedindo informações sobre um apartamento no século passado, a ficar me ligando a cada novo lançamento?

O Globo insiste

Só do jornal O Globo já recebi um monte de ligações, oferecendo um admirável pacote de assinatura digital (tenho duas, pra minha esposa e eu podermos ler simultaneamente) e assinatura impressa. Já agradeci e deixei claro meu desinteresse. Não leio jornal impresso. Adoro o digital. Já expliquei, já fui educado, menos educado um pouco, quase rústico. Mas ligam, oferecem, re-oferecem. Qual parte do não-leio-impresso eles não entendem?

E como eu consigo fugir disso, já que recebo ligações de empresas de quem de fato (ainda) sou cliente? Quando seu cartão de crédito liga, você não atende pra saber se há algum problema?

Vamos aqui fazer uma corrente positiva pra que as medidas da LGPD de fato consigam inibir – tomara! – essa chatice.

Invasão de privacidade

Mas esse texto não é apenas de esperança, alívio, ou uma antiga indignação que volta ao ar.

É a anatomia de uma perplexidade. Como empresário e profissional de Marketing de carteirinha, não consigo entender como os coleguinhas não entendem que invadir a privacidade, o tempo, a paciência do cliente, é pecado em relacionamento de mercado.

Não precisa de lei pra isso. Precisa de noção de como o consumidor pensa e do que ele gosta ou refuta. Será que gestores de marcas, de empresas tão poderosas e conhecedoras do mercado, não entendem isso? Ou será que não são assim tão preparadas?

Não precisa lei pra que restaurantes não sirvam conscientemente comida estragada, não é mesmo? Pode até haver algum enguiço. Mas não há planejamento para estragar a comida e então servir. Então, por que existe planejamento para avançar em espaços não autorizados do cliente e, assim, deixá-lo avesso à marca?

Conta errada

A explicação é simplória: estatísticas de vendas realizadas a cada tantas ligações mostram que dá resultado. Bacana, não? Prova de que eu estou errado e os invasores estão certo.

#SQN! Não mesmo. É sim verdade que as vendas acontecem e que vários clientes compram. Mas quantos des-compram a marca? Quantos deixam de promover e admirar marcas que antes defendiam justamente por terem sido mais e mais de uma vez importunados?

Eu já tenho a minha listinha de empresas com as quais nunca (mais) farei negócios. Eles não sabem. Não entra na estatística deles. Eles só computam vendas feitas. E relacionamentos que cessam ou que nunca acontecerão, justamente pela atitude desagradável destas empresas?

Tentar e saber desistir

A gente sabe que a Venda começa pelo “não”. Insistir faz parte. Mas os limites pra isso se reduziram e o respeito pelo “não” aumentou – ou deveria aumentar. É esse o ponto. Há um tempo e um momento para argumentar. E há uma coisa chamada CRM, onde as infos que o cliente deu são registradas. Ora, se o cliente pediu pra não receber mais aquela oferta, não seria hora de respeitar? Pelo menos hora de ser criativo e oferecer outra coisa. E não apenas oferecer, com outras palavras, o mesmo antigo e cansado malho de vendas.

Estatísticas de Vendas não são completas quando você não mede o efeito colateral da ação. E, não esqueçamos, o cliente tem mais e mais opções a cada dia. Será que ele vai escolher a mais irritante?

Se você quiser comentar, questionar, elogiar (tomara!), falar da sua experiência sobre o tema, entre em contato comigo através do email igdal@ism.com.br

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