Um dos principais objetivos dos investimentos é proteger o dinheiro que está guardado da corrosão provocada pela inflação. No entanto, com a disparada dos preços neste ano, que teve seu ápice em setembro, ninguém escapou: tanto a renda fixa, quanto a renda variável tiveram rentabilidade real negativa.
A única exceção foi o Bitcoin, que teve um retorno real de mais de 38% entre janeiro e setembro.
Divulgado no último dia 24, o IPCA-15 de setembro, que é a prévia da inflação do mês, registrou alta de 1,14%, depois de já ter subido 0,89% em agosto.
Esse foi o maior IPCA-15 desde fevereiro de 2016 (1,42%) e o maior para um mês de setembro desde 1994.
Os dados fechados para o mês serão divulgados pelo IBGE no próximo dia 8, mas analistas já esperam uma inflação igual ou maior que a prévia, podendo chegar a 1,3%.
Considerando o IPCA-15 de setembro, a inflação já acumula alta de 7,02% no ano e de mais de 10% em 12 meses.
Enquanto isso, fundos de renda fixa atrelados à taxa Selic e ao CDI, por exemplo, renderam apenas 2,52% no ano. Isso significa uma rentabilidade real, isto é, descontada a inflação, de -4,2%.
Na renda fixa, inclusive, a melhor performance neste ano tem sido da poupança antiga, dos depósitos feitos até o dia 3 de maio de 2012. Quem manteve o dinheiro nessa caderneta tem rendimento de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR), zerada desde 2017.
Com isso, a aplicação acumula alta de 4,59% no ano, mas ainda perde para inflação, ficando com uma rentabilidade real negativa em 2,27%.
Na renda variável, onde em geral os riscos são justificados por ganhos mais altos, a situação é ainda pior. O Ibovespa, principal indicador de desempenho das ações negociadas na Bolsa e que reúne as empresas mais importantes do mercado de capitais brasileiro, acumulou queda de 6,75% em setembro.
Quando se desconta a inflação, o tombo é ainda maior, de 12,87%.
Atenção ao mudar estratégia de investimento
Diretor da pós-graduação da Unianchieta, Filipe Pires lembra que essa não é a primeira vez que a inflação supera o retorno dos investimentos.
— Isso é cíclico, já aconteceu antes. No final do governo Dilma, por exemplo, antes do impeachment, a gente tinha uma Selic a 7,25%, posicionada artificialmente, porque a inflação já passava de 10%. A manutenção da Selic abaixo da inflação é perniciosa, principalmente quando se tem uma moeda fraca, como o real — explica.
No entanto, antes que os investidores comecem a direcionar seus investimentos para títulos atrelados ao IPCA, Pires ressalta que o Banco Central vem sinalizando que poderá manter o ritmo de alta da taxa de juros como uma forma de conter a inflação.
— É importante analisar friamente qualquer mudança na estratégia de investimentos, sabendo que a possibilidade de uma alta de juros expressiva é muito real.
Em relação à renda variável, o especialista em Finanças aponta que apesar de o Ibovespa e outros índices de ações da Bolsa estarem com retorno real negativo, há papéis que individualmente têm performado bem e garantido aos seus investidores rendimentos acima da inflação.
— Neste momento, o ideal é alocar 10%, no máximo 15% em ativos com risco, mas muitas vezes com mais risco, isto é, com maior potencial de crescimento, buscando um descolamento do Ibovespa — avalia Pires.
Fonte: O Globo