Coronavírus e saúde mental
Psicológa alerta para não deixar o isolamento social temporário se tornar um isolamento emocional permanente
Com a maioria das empresas solicitando que seus funcionários trabalhem de casa (‘home office’), devido a alta velocidade de proliferação do coronavírus, muitos profissionais são forçados se adaptar a uma nova rotina – e isso um grande desafio por vários pontos de vista. Se agrava por ser uma ordem geral: o home office se soma a suspensão de aulas dos filhos, por exemplo.
Em meio a tanta informação sobre a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, e o estresse que pode ser esse ajuste de rotina para trabalhar de casa, cuidar da saúde mental é crucial para atravessar esse período sem traumas.
Tânia Barbieri, psicóloga especializada em Psicologia do Trabalho e Organizacional, e professora do curso de Psicologia da PUC-PR, diz que realmente pode ser difícil para muitos profissionais o trabalho de casa. “Gera aborrecimento, porque naturalmente a pessoa tem mais interrupções. Além de gerar ansiedade, porque tem coisa para fazer, mas o indivíduo se dispersa com as eventualidades da casa”.
Nesse cenário de ansiedade, pânico, angústia, raiva, entre outras sensações que muitas pessoas estão lidando neste momento, a dificuldade de ficar isolado socialmente é inerente a todos.
Keli Rodrigues, neuropsicológa, explica que o ser humano é um “ser de relações” e que o isolamento o priva de algo essencial: o contato social. “É uma situação nova, que não temos controle, e a sensação de estranhamento é natural. Ainda mais nessa situação em que tudo aconteceu tão rápido, não deu tempo de muita gente processar e compreender a situação temporária que estamos passando”, afirma.
Tânia complementa: “O profissional precisa determinar horas de pausa, almoço. As pessoas acham que não, mas a saúde emocional está totalmente ligada à saúde física. E nesse momento imunidade baixa pode ser um problema”, afirma.
Sinais de problemas
De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês), todo mundo reage de maneira diferente a situações estressantes – e a forma como cada um responde ao surto pode depender do seu histórico, das coisas que o diferenciam de outras pessoas e da comunidade em que vive.
Alguns sinais que podem aparecer durante um surto de doença infecciosa, como está acontecendo agora, incluem medo e preocupação com sua própria saúde e com a saúde de seus entes queridos, alterações no sono ou nos padrões alimentares, medo paralisante sobre o futuro e o que pode acontecer, dificuldade para dormir ou se concentrar, piora dos problemas crônicos de saúde e maior uso de álcool, tabaco ou outras drogas, segundo o CDC, que tem uma área de estudo dedicada a isso.
O InfoMoney entrou em contato com profissionais de várias áreas e idades para entender como estão se sentindo em meio à quarentena sem ver a família e amigos, com o home office há algum tempo, entre outros desafios. O nome de nenhum entrevistado será revelado por pedidos de anonimato.