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Como proteger nossas vidas e meios de sobrevivência

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Artigo de: Sven Smit, Martin Hirt, Kevin Buehler, Susan Lund e Ezra Greenberg e Arvind Govindarajan

Precisamos encontrar uma solução para o vírus e para a economia. Combater o vírus é o começo.

Tudo mudou. Há apenas algumas semanas, todos vivíamos as nossas vidas ocupadas normalmente. Agora, aquilo que muitas vezes era subestimado – uma noite com amigos, deslocamentos diários, pegar um voo de volta para casa – não é mais possível. Relatos diários de infecções e mortes crescentes em todo o mundo aumentam nossa ansiedade e, em casos de perda pessoal, deixam-nos em luto. Há incertezas sobre o futuro, a saúde e a segurança de nossas famílias, amigos e entes queridos, assim como sobre nossa capacidade de viver a vida que amamos.

Além da preocupação imediata sobre o impacto real na vida humana, há o temor sobre a grave recessão econômica que pode resultar de uma longa batalha contra o novo coronavírus. Empresas estão sendo fechadas e as pessoas estão perdendo seus empregos. Acreditamos e esperamos que haja uma alternativa diferente daquela publicada no recente editorial do Wall Street Journal que sugere que, em breve, enfrentaremos um dilema, uma terrível escolha entre prejudicar gravemente nossos meios de sobrevivência com lockdowns prolongados ou sacrificar a vida de milhares, se não milhões, por um vírus de rápida propagação. Nós discordamos. Ninguém quer ser obrigado a fazer essa escolha e precisamos fazer tudo o que for possível para encontrar soluções.

Por que este é o imperativo do nosso tempo? Com base em múltiplas fontes e em nossa análise, o choque dos trabalhos de combate ao vírus nas nossas vidas e meios de sobrevivência pode ser o maior em quase um século. Na Europa e nos Estados Unidos, os lockdowns necessários da população e outros esforços para controlar o vírus devem levar ao maior declínio trimestral da atividade econômica desde 1933. Nunca na história moderna sugerimos que as pessoas não trabalhem, que a população de países inteiros permaneça em casa e que nos mantenhamos a uma distância segura uns dos outros. Não se trata de PIB ou economia: é sobre nossas vidas e nossa sobrevivência.

Vemos um enorme investimento de energia no combate ao vírus, enquanto muitos exigem medidas ainda mais rápidas e rigorosas. Também vemos uma energia enorme aplicada à estabilização da economia por meio de políticas públicas. No entanto, para evitar danos permanentes aos nossos meios de sobrevivência, precisamos encontrar maneiras de definir um “timebox”[1] para este evento: devemos pensar em como conter o vírus e diminuir a duração do choque econômico. E precisamos fazer ambos agora!

Para encontrar uma solução tanto para o vírus como para a economia, precisamos estabelecer comportamentos que impeçam a propagação do vírus, trabalhando para que a maioria das pessoas possa voltar ao trabalho, às atividades familiares e à vida social.

Até o momento, a única forma comprovada de conter o vírus, uma vez que a transmissão comunitária já é generalizada, é através da imposição de lockdowns significativos, distanciamento físico disciplinado, testes e rastreamento de contatos. China, Japão, Singapura e Coreia do Sul mostraram que essas medidas são capazes de impedir a propagação do vírus e permitir a retomada da atividade econômica, pelo menos até certo ponto. Todos estão acompanhando de perto os acontecimentos na Itália e em muitos outros países para saber se as medidas de controle existentes são suficientes para frear o aumento de infecções e mortes. Nosso objetivo comum deve ser implementar a melhor resposta possível para deter essa crise.

Ao mesmo tempo, líderes globais e locais também estão considerando o impacto econômico dessas medidas. O que acontecerá se muitas empresas deixarem de operar ou precisarem reduzir significativamente suas atividades? Por quanto tempo podemos fazer isso? Até que ponto podemos sustentar um choque econômico sem causar um sofrimento humano que nossa sociedade não é capaz ou não está disposta a suportar?

Nas próximas seções, apresentamos maneiras de pensar sobre essas questões prementes. (Veja também o artigo “Beyond coronavírus: The path to the next normal”  de nossos colegas Kevin Sneader e Shubham Singhal, que busca imaginar como será o futuro).

Lidando com as incertezas relacionadas à COVID-19

· A propagação da COVID-19. Quantas novas infecções teremos? A taxa de mortalidade está caindo? A disseminação do vírus mostrará algum tipo de sazonalidade? Uma nova cepa do vírus evoluirá?

· A resposta da saúde pública em cada país, estado, município. Haverá lockdowns? Ainda será possível ir ao trabalho? As fábricas terão permissão para operar? Precisamos nos submeter a um centro oficial de quarentena ao chegar de uma viagem ou podemos fazer uma “autoquarentena”?

· O impacto na economia e nos nossos meios de sobrevivência. As empresas padecerão e irão à falência? É possível manter o fornecimento de bens e serviços essenciais? Teremos um emprego? Quanto tempo isso vai durar?

· As consequências para nossas vidas. Conseguiremos evitar a infecção? Nossos entes queridos estão seguros? Ainda podemos treinar para o evento esportivo para o qual estamos nos preparando? Podemos obter um diploma universitário agora que muitas instituições de ensino estão fechadas e os exames foram cancelados?

Essas e mais um milhão de perguntas têm passado por nossa mente, acentuando a já desafiadora realidade de viver no tempo do coronavírus.

Duas coisas são razoavelmente certas: se não pararmos o vírus, muitas pessoas morrerão. Se as nossas tentativas de conter a pandemia prejudicarem gravemente a nossa economia, é difícil imaginar como não haverá um sofrimento ainda mais severo pela frente.

Impacto do lockdown no consumo e na atividade econômica

Estamos aprendendo o que acontece durante um lockdown como o implementado na China, Itália e, cada vez mais, na Europa e nos Estados Unidos: a atividade econômica cai mais acentuadamente do que qualquer um de nós jamais experimentou. As pessoas não compram, a não ser o essencial; as pessoas não viajam; as pessoas não compram automóveis.

Estimamos que 40% a 50% dos gastos discricionários do consumidor podem não ocorrer. Em todas as recessões, as pessoas reduzem as compras que podem ser facilmente adiadas (como carros e eletrodomésticos) e aumentam as economias por precaução, em antecipação a uma crise cada vez maior. O que diferencia a pandemia do coronavírus é que as pessoas também estão eliminando os gastos com restaurantes, viagens e outros serviços que normalmente diminuem, mas não chegam a zero.

Uma queda de 40% a 50% nos gastos discricionários traduz-se em uma redução de aproximadamente 10% no PIB – sem considerar os efeitos de segunda e terceira ordem. Isso não é apenas inédito na história moderna, é historicamente quase inimaginável – até agora.

Já temos algumas evidências fatuais de um choque econômico nessa escala, como a crise econômica relacionada à COVID-19 na China, além de indícios precoces com “dados em alta frequência” nos Estados Unidos, como gastos com cartões de crédito.

Quanto maior a duração do lockdown, pior será o impacto em nossas vidas. Para visualizar o que isso significa quem vive em áreas de lockdown, imagine taxistas cujos clientes não podem ir às ruas; chefs cujos restaurantes foram forçados a fechar; e comissários de bordo em solo, com aviões estacionados nos aeroportos – por meses. Com 25% dos domicílios nos Estados Unidos vivendo de salário em salário, e 40% dos norte-americanos incapazes de cobrir uma despesa inesperada de US$ 400 sem tomar um empréstimo, o impacto de um lockdown prolongado para muitas, muitas pessoas será nada menos que catastrófico.

A resposta não pode ser a aceitação de que a pandemia sobrecarregará nosso sistema de saúde, e milhares, se não milhões, morrerão. Mas será que a resposta pode ser causar um sofrimento humano potencialmente ainda maior ao prejudicar de forma permanente a economia?

Limitando a incerteza em torno dessa crise

As piores e mais típicas reações dos humanos diante de grandes incertezas são paralisar-se ou dar uma resposta simplista como “esse problema irá desaparecer tão rapidamente quanto surgiu, é igual à gripe de todos os anos”. A COVID-19 é particularmente desafiadora nesse sentido porque a maioria dos infectados sentirá apenas sintomas menores ou nenhum tipo de sintoma. É um inimigo invisível, porém nefasto. Devemos tentar limitar a incerteza através do uso da razão e pensar em soluções dentro de um número limitado de cenários que podem evoluir.

A seguir, descrevemos o impacto da COVID-19 na economia mundial em duas dimensões, que serão as principais alavancas dos resultados da crise para todos nós:

· O impacto econômico da propagação do vírus: as características do vírus e da doença, tais como modos e taxas de transmissão, e taxas de mortalidade; bem como a resposta da saúde pública, tais comolockdowns, proibições de viagens, distanciamento físico, testes abrangentes, rastreamento de contatos, capacidade de prestação de serviços de saúde, introdução de vacinas e melhores métodos de tratamento.

· O impacto econômico dos efeitos colaterais das respostas de saúde pública, tais como aumento do desemprego, fechamento de empresas, falências corporativas, inadimplência, queda nos preços de ativos, volatilidade do mercado e vulnerabilidades do sistema financeiro; bem como o impacto das respostas de políticas públicas para mitigar esses efeitos colaterais, tais como políticas para evitar falências generalizadas, apoiar a renda de trabalhadores em licença e proteger o sistema financeiro e a viabilidade dos setores mais afetados.

Em termos de propagação do vírus e resposta da saúde pública, atualmente vemos três “receitas” de intervenções e resultados:

1. A resposta contundente da saúde pública apresenta sucesso no controle da disseminação em um país dentro de dois a três meses, e o distanciamento físico pode ser descontinuado rapidamente (como visto na China, Taiwan, Coreia e Singapura).

2. A resposta da saúde pública é bem-sucedida no início, mas o distanciamento físico precisa continuar (regionalmente) por vários meses adicionais para evitar a ressurgência do vírus.

3. A resposta da saúde pública não consegue controlar a disseminação do vírus por um longo período, talvez até que as vacinas estejam disponíveis ou a imunidade de grupo seja alcançada.

Em termos de efeitos colaterais e resposta das políticas públicas, antecipamos três potenciais níveis de eficácia:

1. Ineficaz: início da dinâmica de recessão que reforça a si mesma; falências e inadimplência generalizadas; potencial crise bancária.

2. Parcialmente eficaz: as respostas da política compensam os danos econômicos até certo ponto; a crise bancária é evitada, mas o alto nível de desemprego e o fechamento de empresas impedem a recuperação.

3. Altamente eficaz: uma forte resposta política evita danos estruturais à economia; uma sólida recuperação após o controle do vírus faz a economia reestabelecer os níveis e o momentum pré-crise, comprovados pelos fundamentos da economia.

Se combinarmos essas três “receitas” de propagação viral e os três graus de eficácia da política econômica, veremos nove cenários para o próximo ano ou mais.

Acreditamos que muitos atualmente esperam que um dos cenários sombreados (A1-A4) se materialize. Neles, a propagação da COVID-19 é finalmente controlada e o prejuízo econômico estrutural catastrófico é evitado. Esses cenários descrevem uma média geral, embora os cenários vão inevitavelmente variar de acordo com o país e a região. De qualquer forma, esses quatro cenários levam a recuperações em forma de V ou U.

Outros cenários mais extremos também podem ser concebidos, e alguns deles já estão sendo discutidos (B1-B5). Não se pode excluir a possibilidade de um “cisne negro dos cisnes negros”, com danos estruturais à economia, causados por um ano inteiro de propagação do vírus até que uma vacina esteja amplamente disponível, combinada com a falta de resposta política para prevenir falências em larga escala, desemprego e uma crise financeira. Isso resultaria em uma trajetória econômica prolongada em forma de L ou W. Com a expansão exponencial do número de novos casos em muitos países da Europa e dos Estados Unidos, não podemos, por enquanto, excluir esses cenários mais extremos.

No entanto, como ainda temos pouca informação sobre a probabilidade de cenários mais extremos, focamos nos quatro que são mais tangíveis por enquanto. Na próxima semana, acrescentaremos amplitude e profundidade a essa visão, trabalhando em estreita colaboração com a Oxford Economics para desenvolver vários cenários macroeconômicos para cada país e para o mundo.

Trazendo à realidade: como isso poderia evoluir

Com um pouco de sorte, a China passará por uma desaceleração aguda, porém breve, e se recuperará de forma relativamente rápida até os níveis de atividade pré-crise. Embora o PIB deva cair drasticamente no segundo trimestre de 2020, alguns sinais de vida normal estão retornando a Pequim, Xangai e à maioria das grandes cidades fora de Hubei. Nesse cenário, o crescimento anual do PIB da China para 2020 acabaria praticamente estagnado, anulando a expectativa de crescimento de 6% há apenas três meses. No entanto, até 2021, a economia da China estaria em vias de recuperar sua trajetória pré-crise, se não for afetada negativamente pelos desdobramentos no restante do mundo.

Nesse cenário, o vírus na Europa e nos Estados Unidos seria eficazmente controlado com dois a três meses de parada econômica. A política monetária e fiscal mitigaria parte dos danos econômicos com alguns atrasos na transmissão, de modo que uma forte recuperação pudesse começar depois que o vírus fosse contido no final do segundo trimestre de 2020. Isso colocaria a Europa e os Estados Unidos no cenário A3.

Mesmo nesse cenário otimista, porém, todos os países vivenciariam acentuados declínios do PIB no segundo trimestre, a maioria dos quais sem precedentes. Os gastos do consumidor nas economias mais avançadas representam cerca de dois terços da economia, e cerca de metade disso é gasto discricionário do consumidor. Dados em tempo real sugerem que os gastos com bens duráveis, incluindo automóveis, nas áreas afetadas por paralisações, podem cair entre 50% e 70%; os gastos com voos e transporte aéreo podem cair cerca de 70%; e os gastos com serviços como restaurantes poderiam diminuir 50% a 90% nas cidades afetadas. Em geral, como mencionado anteriormente, os gastos discricionários do consumidor podem cair abruptamente até 50% nas áreas sujeitas a paralisações.

Embora o aumento dos gastos públicos possa ajudar a compensar parte do impacto econômico, é improvável que haja uma compensação rápida e total. Estimamos que os Estados Unidos poderiam ver uma queda no PIB a um ritmo anualizado de 25% a 30% no segundo trimestre de 2020 e espera-se que as grandes economias da zona do euro apresentem números semelhantes no fim das contas. Para colocar isso em perspectiva, a maior queda trimestral do PIB na crise financeira de 2008-09 ocorreu a um ritmo anualizado de 8,4% no quarto trimestre de 2008. O ritmo de declínio ultrapassaria de longe qualquer recessão desde a Segunda Guerra Mundial.

Uma imagem mais sombria do futuro

É claro que é totalmente possível que os países não sejam muito eficazes no controle do vírus ou na mitigação dos danos econômicos que resultam dos esforços para controlar a disseminação do vírus. Neste caso, os resultados econômicos em 2020 e mais adiante seriam ainda mais severos.

Nesse cenário mais pessimista, a China se recuperaria mais lentamente e talvez precisasse frear ressurgências regionais do vírus. Também seria prejudicada pela queda nas exportações para o resto do mundo. Sua economia poderia enfrentar uma contração potencialmente sem precedentes.

Os Estados Unidos e a Europa também poderiam enfrentar resultados mais devastadores neste cenário. Eles poderiam não conter o vírus em um trimestre e ser forçados a implementar alguma forma de distanciamento físico e quarentenas durante o verão. Isso poderia resultar em um declínio no PIB a um ritmo anualizado de 35% a 40% no segundo trimestre, com grandes economias na Europa registrando desempenho similar. A política econômica falharia em evitar um grande aumento no desemprego e fechamento de empresas, provocando uma recuperação muito mais lenta mesmo depois que o vírus fosse contido. Nesse cenário mais sombrio, poderia levar mais de dois anos para o PIB recuperar-se ao nível pré-vírus, colocando tanto a Europa quanto os Estados Unidos no cenário A1.

O impacto econômico nesses cenários seria inédito para a maioria das pessoas que vivem hoje em economias avançadas. Países em desenvolvimento que enfrentaram crises cambiais têm alguma experiência em eventos dessa ordem de grandeza.

Não pretendemos com isto fazer uma previsão do que irá acontecer, mas sim lançar um chamado à ação: tomar as medidas necessárias para impedir a propagação do vírus e evitar danos à economia o mais rápido possível. Enquanto escrevemos este artigo, países da Europa e os Estados Unidos ainda não adotaram as fortes respostas de políticas públicas necessárias para conter eficazmente o vírus. Se não agirmos para contê-lo rapidamente, a escala de destruição econômica que advém de um lockdown prolongado se tornará mais provável, com graves consequências para nossos meios de sobrevivência.

Proteger nossas vidas e nossos meios de sobrevivência

Para solucionar o problema de como salvar vidas sem destruir nossos meios de sobrevivência, precisamos encontrar maneiras de tornar os lockdowns eficazes, de modo que eles interrompam a trajetória do vírus o mais rápido possível. A eficácia dos lockdowns será medida segundo a sua capacidade de controlar a propagação da COVID-19.

Países do Leste Asiático mostraram que isso pode ser feito por meio da imposição de lockdowns rigorosos, vigilância e monitoramento da circulação das pessoas. Enquanto escrevemos este artigo, ações desse tipo na maior parte da Europa e nos Estados Unidos têm sido até agora mais limitadas, menos vigorosas e menos eficazes. Para romper o momentum do vírus, devemos agir com firmeza.

A resposta do mundo para resolver esse enigma deverá ser robusta, não importa se controlamos totalmente a disseminação do vírus e evitamos a ressurgência (à frente de vacinas ou inovações de tratamento) ou se não pudermos conter totalmente o vírus e precisarmos contar com intervenções contínuas por algum tempo. Em ambos os casos, devemos encontrar formas de proteger vidas e meios de sobrevivência.

Propomos avançar muito mais rapidamente no estabelecimento de protocolos comportamentais abrangentes e claros para permitir que as autoridades aliviem com segurança algumas partes das medidas de lockdown que sufocam nossos meios de sobrevivência hoje. Esses mecanismos só podem funcionar se também encontrarmos mecanismos aceitáveis de aplicaçãodesses protocolos para não corrermos o risco de impor exigências socialmente inaceitáveis nas pessoas.

Protocolos comportamentais

Esses protocolos incluem diretrizes sobre como operar empresas e prestar serviços governamentais em condições de pandemia. Alguns desses protocolos já estão em uso. Mas eles podem ser mais amplamente adotados?

· Profissionais de saúde corajosos trabalham em hospitais onde a presença do vírus é altíssima; eles têm regras rígidas referentes a todos os aspectos de suas tarefas, movimentos e comportamentos para manter a si mesmos e a seus pacientes seguros. Será que o supermercado que você frequenta poderia operar com segurança adotando os mesmos tipos de regras?

· Atualmente, em fábricas de alta tecnologia na China, todas as pessoas devem passar por um teste da COVID-19. Todos. Como você se sentiria ao entrar em um avião hoje se soubesse que todos os passageiros, tripulantes e funcionários de manutenção em contato com o avião tiveram resultado negativo para o vírus?

· Alguns restaurantes já mudaram totalmente para entrega em domicílio, mudando seu modelo de negócios e protocolos para se adaptar à situação. Você poderia fazer sua empresa de serviços operar com segurança adotando novos protocolos?

Tais protocolos não podem ser estáticos. Hoje, os lockdowns são muitas vezes implementados de modo uniforme para todos, em todos os lugares, independentemente dos riscos específicos de infecção. Imagine um mundo em que, com base em um profundo entendimento dos riscos infecciosos, conjuntos de protocolos adaptados com diferentes níveis de rigor poderiam ser implementados em cada cidade, cada quarteirão e cada bairro suburbano.

Esses protocolos dinâmicos são tecnicamente possíveis. Tecnologias modernas e data analytics podem ajudar a monitorar e prever os níveis de ameaça de infecção para segmentos e áreas vulneráveis da população. Do mesmo modo, protocolos e intervenções de saúde pública podem ser ajustados dinamicamente para fornecer proteção quando e onde necessário.

Com esses protocolos, as medidas de lockdown poderiam ser facilitadas mais rapidamente, para mais pessoas, em mais lugares, enquanto a eficácia das intervenções de saúde pública para controlar o vírus é mantida.

Mecanismos de cumprimento aceitáveis

Esta é a parte mais difícil. Como fazer com que todos aceitem as consequências da criação e implementação desses protocolos comportamentais? As áreas sensíveis são muitas, incluindo nossa liberdade pessoal, direito à privacidade e justiça no acesso aos serviços. Não há respostas genéricas para essas questões. O grau de sensibilidade de cada uma dessas áreas é diferente em cada país, havendo também enormes diferenças quanto ao que é socialmente aceitável. Em cada país, as pessoas deverão trabalhar juntas para encontrar formas de aplicar protocolos comportamentais que se adaptem à sua situação e circunstâncias específicas. Mas não se engane, o ponto de partida não serão as normas sociais e comunitárias anteriores à COVID-19 –serão os lockdowns em vigor em muitos países.

Em Hong Kong, o governo estendeu os testes de COVID-19 a todos os passageiros que chegam, e permite que viajantes assintomáticos portadores da doença façam quarentena por conta própria em casa. Entretanto, devido ao alto risco de transmissão, o país exige que essas pessoas usem pulseiras eletrônicas para “delimitá-las” geograficamente em sua casa. A conformidade com a medida é cumprida com a ameaça de longas penas de prisão por violações.

Precisaremos desenvolver e aplicar protocolos que nos permitam, o mais rápido possível, lançar algumas medidas mais rigorosas em locais apropriados. E para que isso aconteça, cada governo precisará encontrar formas eficazes, porém socialmente aceitáveis, de aplicar tais medidas e novos protocolos.

Precisamos de um plano para alcançar ambos os imperativos –agora!

Continuaremos atualizando nossos cenários e esperamos ter, nas próximas semanas, uma noção melhor de qual cenário o mundo irá seguir. No entanto, alguns pontos já estão claros:

· Este pode ser o choque mais abrupto para a economia global da história moderna.

· Existe um risco real de que nossas vidas e nossos meios de sobrevivência sofram danos permanentes e possivelmente irreversíveis com esta crise.

· Enquanto é necessário tomar medidas vigorosas para controlar a propagação do vírus e salvar vidas, devemos também tomar medidas para proteger nossos meios de sobrevivência.

· Protocolos comportamentais e intervenções dinâmicas podem nos ajudar a aliviar lockdowns mais precocemente, permitindo que a maioria das pessoas volte ao trabalho e colocando a vida de todos de volta no rumo certo.

Como disse Ângela Merkel há alguns dias em um apelo à Alemanha, ecoado por outros países: a nossa capacidade de atravessar esta crise dependerá principalmente do comportamento de cada um de nós. Os lockdowns iniciais e imediatos são necessários para interromper a propagação do vírus e salvar vidas. Acreditamos que com os protocolos certos em vigor, e as pessoas seguindo esses protocolos, as restrições do lockdown podem ser minimizadas gradualmente o quanto antes.

A questão é: podemos trabalhar com rapidez suficiente na criação desses protocolos e obter a aceitação da sociedade para cumpri-los? Se pudermos, deveríamos ser capazes de controlar o vírus, abrandar a inevitável crise econômica a níveis sustentáveis e proteger nossas vidas e nossos meios de sobrevivência.

Esse é o imperativo do nosso tempo.


Sven Smit é sócio sênior da McKinsey no escritório de Amsterdã, Martin Hirt é sócio sênior no escritório da Grande China, Kevin Buehler é sócio sênior no escritório de Nova York, Susan Lund é sócia no escritório de Washington-DC, Ezra Greenberg é sócio associado expert no escritório de Stamford (Conn.) e Arvind Govindarajan é sócio no escritório de Boston.

Fonte: https://www.mckinsey.com/

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