Conquistar a confiança de instituições bancárias é um dos principais desafios dos empreendedores
Para aumentar as chances de conseguir um empréstimo, donos de micro e pequenos negócios precisam colocar a casa em ordem antes de ir ao banco. Quanto mais organizada for a projeção de rendimentos e a gestão do negócio, maiores são as chances de aprovação do crédito.
“A maioria dos empreendedores não tem os controles financeiros da empresa. O ideal é ter um sistema, um software de gestão para fazer lançamentos e gerar relatórios confiáveis“, diz João Batista Costa, consultor do Sebrae-SP.
“Quando o empresário apresenta isso, consegue demonstrar a situação da empresa [e passar credibilidade]”, afirma.
Donos da padaria Pães WDL, Anna Paula Soares de Oliveira, 39, e seu namorado, Rodrigo Borba, 39, estão se preparando para pedir crédito.
O negócio começou em 2018, quando passaram a vender pães de fermentação natural para amigos e familiares. Os produtos eram feitos na cozinha da casa de Rodrigo, na zona leste de São Paulo.
Na pandemia, o negócio cresceu e o casal decidiu profissionalizar a produção. Eles buscaram crédito no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e em bancos privados, mas não conseguiram.
Na época, a empresa faturava cerca de R$ 3.000 por mês e atendia uma média de 15 pedidos por semana. A solução foi um crédito pré-aprovado de R$ 20 mil para pessoa física, financiado na conta da sócia. Com o dinheiro, compraram máquinas para preparar a massa e um forno industrial.
Hoje, o casal recebe cerca de 25 pedidos por semana e aumentou a linha de produtos, que custam entre R$ 15 e R$ 40. Para o próximo ano, a meta é ampliar o negócio. “Estamos pensando em contratar uma pessoa para aumentar a produção”, conta Anna. Outra ideia é abrir uma loja física.
Antes de pedir crédito, ela vai concluir um estudo da empresa e projetar os rendimentos para 2023. Para Anna, a maior dificuldade é assegurar às financiadoras que pode cumprir com seus compromissos.
“Eles avaliam o tempo de empresa, o perfil de negócio, quanto está entrando na conta… É difícil ser aprovado.”
Dono de uma clínica odontológica em Sertãozinho (interior de São Paulo), o cirurgião-dentista Valter José de Paula Júnior, 47, tentou obter crédito para expandir seu negócio em 2019, 2020 e 2021.
Mas, por dividir sua contabilidade entre notas emitidas pelo CNPJ da empresa e comprovantes em seu nome, não tinha dados consistentes para apresentar às financiadoras.
A alternativa, na época, foi recorrer ao Sicoob (Sistema de Cooperativas Financeiras do Brasil). Agora, pretende conseguir financiamento em uma linha de crédito.
Para isso, reestruturou toda a gestão do empreendimento e adotou um sistema online para registrar os procedimentos. Também contratou um profissional de administração.
“É uma mudança grande em termos de custo, mas hoje eu tenho uma empresa funcionando e estou buscando os benefícios disso”, diz.
A maioria dos empreendedores não tem os controles financeiros da empresa. O ideal é ter um sistema, um software de gestão, para que se consiga fazer os lançamentos e gerar um relatório confiávelJoão Batista Costa
Consultor do Sebrae-SP
Se o crédito for aprovado, Valter quer montar uma nova sala de atendimento. “Eu já tenho o espaço e agora preciso comprar os equipamentos.”
Isac Costa, professor de fintechs do Ibmec, diz que o controle das finanças pode evitar que o empreendedor entre em acordos pouco inteligentes.
“Isso pode ajudar o empresário a obter dinheiro ao melhor custo. Se você não tem entendimento, vai depender do gerente do banco para te oferecer uma linha de crédito.”
Sócio e vice-presidente executivo da Invent Smart Intralogistics Solutions, Augusto Ghiraldello, 36, viu seu rendimento bruto crescer de R$ 10 milhões, em 2018, para R$ 25 milhões, em 2020, depois de financiar o aumento da fábrica.
A companhia desenvolve soluções tecnológicas para logística, desde ferramentas de inteligência artificial até esteiras automatizadas.
Segundo Ghiraldello, as peças para construção dos sistemas vinham do exterior, até que ele e os dois sócios decidiram trabalhar com fabricação própria.
Eles fizeram dois pedidos de crédito no valor de R$ 1 milhão, um para aumentar estoque, outro para ampliar a fábrica. As linhas escolhidas foram a de financiamento urgente devido à Covid do BNDES, na categoria mais capital de giro, e a FGI (Fundo Garantidor de Risco de Crédito), da mesma instituição.
Após o financiamento, a empresa conseguiu desenvolver um projeto de automação para a Cacau Show em três meses.
O case aumentou a visibilidade do negócio, que hoje tem unidades em São Bernardo do Campo, Alphaville e Embu das Artes (São Paulo), Betim, Extrema (Minas Gerais) e Miami (EUA). Só neste ano, a empresa triplicou o faturamento de 2020.
Para Ghiraldello, a rotina de documentar operações facilitou a aprovação dos créditos. Segundo Costa, do Ibmec, é cada vez mais importante que empresários conheçam o mercado de capitais, para terem autonomia financeira.
Fonte: Folha