Bons para a saúde, o paladar e o meio ambiente, os pequenos vegetais estão cada vez mais presentes no prato do brasileiro, impulsionando o mercado no país
Os microverdes são tendência na alimentação no mundo todo, inclusive no cardápio do brasileiro. Se assim, de nome, você não reconhece, provavelmente já viu pelo menos em uma foto de receita ou no programa de culinária na TV: são aquelas hortaliças bem pequenininhas e de cores mais intensas.
Essas miniverduras, chamadas também de microgreens (em inglês), são na verdade plantas jovens, colhidas após o estágio de broto. Isso significa um ciclo curto, de sete a 21 dias, dependendo da cultura. Podem ser cultivados dessa forma vegetais, ervas e outras variedades.
No Brasil, já há diversos produtores espalhados pelo país para atender o consumo crescente. Em Porto Alegre (RS), a produção da Local Greens, por exemplo, empresa especializada no cultivo de microverdes, começou caseira em 2020 e, em três anos, aumentou dez vezes.
“Mudamos duas vezes de espaço e fomos de duas para 20 estantes de cultivo. Trabalhamos sob demanda e hoje vendemos toda a capacidade de produção da fazenda. A procura só aumenta conforme as pessoas vão tomando conhecimento”, conta a fundadora Thaís Andorffy.
E por que os microverdes estão em alta? É que muito além de finalizar pratos de chef com sua estética delicada, eles são mais saborosos do que o vegetal adulto, têm alto valor nutricional e, sobretudo, constituem uma solução sustentável para a produção de alimentos.
40 vezes mais nutrientes
Um estudo da Universidade de Maryland com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos mediu o nível de nutrientes em microvegetais, em comparação com suas versões maduras, e descobriu que são até 40 vezes mais nutritivos.
A pesquisa encontrou grande concentração de vitaminas e minerais – vitaminas C, E e K e cálcio, potássio, ferro e zinco, por exemplo – em 25 microverdes de coentro, aipo, repolho roxo, manjericão e rúcula.
“A praticidade de uso também é um grande atrativo, já que o produto vai pronto, sem necessidade de lavar. São fáceis de incluir em qualquer prato, levando não só mais nutrientes, mas também sabor e beleza”, complementa Thaís.
Microverduras são mais nutritivas e tem manejo mais fácil do que hortaliças (Local Greens/Divulgação)
Menos desperdício e alimentos mais frescos
Além dos benefícios nutricionais e gastronômicos, esses pequenos vegetais têm papel importante na chamada agricultura urbana, modelo de produção agrícola que leva o “campo” para dentro das grandes cidades ou seu entorno.
Um terço das hortaliças produzidas no Brasil é perdido, segundo a Embrapa, e 40% dessas perdas se dão no transporte, devido a estruturas inadequadas de armazenamento, má qualidade das estradas e longas distâncias percorridas.
As perdas geram prejuízos diretos e indiretos para o produtor rural, para o consumidor e para o meio ambiente. “Não há perda apenas do alimento em si, mas desperdício de terra que foi cultivada, água utilizada, adubo aplicado”, diz a Embrapa.
“A fazendas urbanas têm uma pegada de carbono bastante reduzida por essa redução do transporte entre produtor e consumidor. E no caso da fazenda indoor, o consumo de água é 95% menor que em fazendas tradicionais, além da busca por soluções mais sustentáveis para a energia elétrica”, esclarece Thaís, da Local Greens.
Com a produção local, consequentemente o desperdício dentro de casas e restaurantes também é menor, já que as hortaliças chegam recém-colhidas e, assim, duram mais. E ainda não há perda da qualidade nutricional, uma vez que, quanto mais frescos os alimentos, mais benéficos à saúde.
Na Local Greens, o produto sai da fazenda direto para o cliente final. Segundo a proprietária, o vegetal é colhido e entregue em poucas horas, dois dias por semana, atendendo a um raio de no máximo 10 km.
Como é o cultivo de microverdes
Os minivegetais são plantados em espaços reduzidos e tipicamente urbanos, como edifícios, armazéns e terrenos. No caso da empresa gaúcha, trata-se de uma fazenda urbana vertical (usando estantes), dentro de um galpão, localizado em uma região central de Porto Alegre.
Cultivados em um sistema indoor, com lâmpadas led, os microverdes crescem em substrato enriquecido com humus e todo o trato, desde a semeadura até a colheita, é manual.
As variedades mais vendidas são os mix coloridos, e as avulsas como rúcula e beterraba, que atraem pela cor e sabor. Na Local Greens, os principais clientes hoje são restaurantes, mas mercados, hortifrutis e o consumidor final também podem comprar.
Para quem possui interesse, mas não tem um produtor na cidade, pode plantar por conta própria, em vasos. A Isla Sementes, pioneira em sementes do tipo no país, vende diversas opções pela internet e também ensina como plantar microverdes em casa.
Fonte: Exame