A Dasa vai lançar uma oferta de ações para levantar R$ 5 bilhões e voltar a crescer no setor hospitalar, apresentando-se como uma plataforma capaz de resolver a fragmentação e o desperdício que explodem os custos da saúde privada, fontes a par do assunto disseram ao Brazil Journal.
A oferta equivale a um re-IPO. Controlada pela família Bueno, a Dasa já é listada, mas apenas 2,5% de suas ações estão no mercado. Depois da oferta, o free float subirá para cerca de 10%. A companhia pretende voltar para o Novo Mercado e vai pedir tempo à B3 para se adequar ao float mínimo exigido, de 25%.
A companhia começará a se reunir com investidores esta semana, e deve lançar oficialmente a oferta em 12 de março.
A oferta-base será 100% primária. Se houver demanda adicional, a família Bueno usará os recursos para que a Cromossomo, seu veículo de participações, quite uma dívida tomada junto ao Bradesco para aumentar sua participação na Dasa em 2014.
Os coordenadores da oferta são Bradesco BBI (líder), BTG Pactual, Bank of America e Credit Suisse. Santander, Safra, Itaú BBA e Morgan Stanley também participam do sindicato.
A oferta com ‘esforços restritos’ segue a regra 476 da CVM, que limita a 75 o número de investidores institucionais locais que podem ter acesso à oferta e a 50 os que podem ser alocados.
Desde 2017, o CEO Pedro Bueno investe numa transformação digital que criou interoperabilidade entre as inúmeras empresas do grupo e construiu um data lake integrado que cruza e consolida os dados do paciente (e hoje tem mais de 3 bilhões de registros).
A companhia tem 100 cientistas de dados trabalhando em ferramentas de machine learning, inteligência artificial e data analytics, e outros 230 desenvolvedores e especialistas em dados — um dos maiores hubs de tecnologia aplicada à saúde na América Latina.
O pitch da Dasa ao mercado será sua capacidade de usar esta tecnologia para aumentar a coordenação do setor de saúde, com um impacto direto no desfecho clínico do paciente.
“Hoje, o usuário só interage com o provedor de saúde quando fica doente, e os hospitais têm foco no episódio, sem olhar o usuário de forma holística, sem entender se você tem tendência a desenvolver uma doença crônica, por exemplo,” diz um analista que cobre o setor.
Este modus operandi torna o setor transacional e fragmentado, gera desperdício e aumenta custos. No Brasil, a chamada inflação médica roda, há anos, de 3 a 5 vezes acima da inflação. Isto não acontece porque o preço das consultas, cirurgias e exames subiu. O responsável é a explosão da frequência de utilização, na ausência de coordenação entre médicos, hospitais e operadoras.
A proposta da Dasa é usar dados e capacidade preditiva para ajudar os médicos a antecipar agravamentos e mudar o curso de saúde do paciente, derrubando os custos do sistema como consequência.
A escala da companhia joga a seu favor.
Em 2019, 21 milhões de usuários únicos passaram por alguma parte do ecossistema da Dasa. Para efeito de comparação, este número é quase metade dos 47 milhões de brasileiros que têm plano de saúde.
Todo ano, a companhia interage com 250 mil médicos (metade do total que trabalha no Brasil), de cirurgiões que operam em seus hospitais a médicos que pedem exames em algum de seus laboratórios.
A Dasa tem hoje 13 hospitais, 900 unidades ambulatoriais (laboratórios, centros de radiologia e consultas), telemedicina, clínicas e a DASA Empresas, uma corretora de planos de saúde corporativos com mais de 500 mil vidas.
As comparações com a Rede D’Or serão inevitáveis, mas além de falar sobre ganhos de margem e de eficiência na compra de hospitais, a Dasa pretende focar no fato de que está atacando o problema da saúde de forma inédita, pelo menos nesta escala.
“Eles vão falar de uma lógica de plataforma, é uma modelagem mais parecida com Facebook do que com D’Or,” diz uma pessoa próxima à oferta. “Eles vão olhar receita por leito, mas também vão olhar usuários únicos, número de serviços por usuário e a receita por usuário, mas tendo foco no desfecho clínico.”
Fonte: Brazil Journal