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Depois da tempestade, a recuperação? O que grandes instituições esperam para a economia brasileira em 2021

Economia se recuperando com retomada da atividade após o tombo em 2020 com a pandemia do coronavírus, taxa básica de juros subindo, mas ainda a níveis bastante baixos em termos históricos, inflação controlada. O ano de 2021 promete trazer boas novas para a atividade brasileira, de acordo com estimativas de grandes bancos e casas de análise compiladas pelo InfoMoney.

Porém, isso não quer dizer que não haja grandes desafios e motivos de cautela para a economia, com destaque para a questão fiscal. Isso após um ano de fortes gastos, de cerca de 8% do Produto Interno Bruto (PIB), para conter o impacto do avanço da pandemia por meio de programas de auxílio que foram tão importantes para que o tombo do PIB este ano, mas agravando um dos maiores problemas para o país.

A XP Investimentos destaca ainda que o primeiro grande tema do ano é o comportamento da economia com o fim dos programas governamentais, que impulsionaram a recuperação em “V” do consumo no segundo semestre de 2020.

A incerteza, na verdade, começa antes, com os casos de contaminação e hospitalização pela Covid-19 tendo acelerado nas últimas semanas. “A extensão desse impacto depende da evolução desta nova fase da pandemia, difícil de prever”, avalia a XP. Depende também do início da vacinação que, na avaliação da equipe de análise, acontece no primeiro trimestre de 2021. Mas há risco de execução, por questões logísticas e pelo fato de ainda não termos claro qual vacina chegará primeiro ao Brasil em condições de ser disponibilizada ao grande público.

Quanto aos motores do crescimento, por um lado o fim dos programas de transferência de renda e de suporte ao emprego devem reduzir a percepção de renda das famílias. Por outro, a avaliação é de que recuperação em curso do mercado de trabalho e a poupança circunstancial feita pelas classes médias e alta durante a pandemia deve permitir que o consumo avance mais do que a renda. A política monetária bastante expansionista também deve ajudar a impulsionar a demanda doméstica, através de um mercado de crédito que continua a apresentar sinais positivos para o próximo ano.

Como resultado, a XP espera que o consumo agregado, assim como o PIB, siga em expansão ao longo de 2021, mas em ritmo significativamente mais lento do que no segundo semestre do ano passado, quando a economia registrou uma recuperação após o tombo no primeiro semestre. A previsão é de alta da atividade em 3,4%, ainda sem recuperar o tombo projetado de 4,6% de 2020.

Já o Safra, que tem expectativa de alta de 4,4% da atividade este ano após a baixa de 4,1% no ano passado, espera que o país deva apresentar uma mudança na composição do crescimento em 2021, com uma expansão mais forte do setor de serviços. Isso deve favorecer a retomada do emprego e do consumo, especialmente no segundo semestre, avalia.

Para os economistas do banco, o ambiente internacional também deve ser propício à economia brasileira, com a normalização das correntes de comércio internacional, em virtude da vacinação já iniciada nas principais economias do mundo. A maior variação positiva está prevista para a indústria, que deve crescer 6,5% no próximo ano, segundo a equipe. A agropecuária, por sua vez, deve ter alta de 2,2%, e serviços devem subir 3,8%. A projeção é de alta de 9,6% para o PIB da construção civil, beneficiada pelo baixo nível das taxas de juros no país.

Em um ambiente incerto e ainda muito dependente de vacinas, o Morgan Stanley traçou três cenários para a economia brasileira: o mais provável, em que projeta alta de 4,3% do PIB, o mais otimista, com alta de 5,5% da atividade, enquanto o pessimista aponta para alta de 2,1% da economia no ano.

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(Getty Images)

SÃO PAULO – Economia se recuperando com retomada da atividade após o tombo em 2020 com a pandemia do coronavírus, taxa básica de juros subindo, mas ainda a níveis bastante baixos em termos históricos, inflação controlada. O ano de 2021 promete trazer boas novas para a atividade brasileira, de acordo com estimativas de grandes bancos e casas de análise compiladas pelo InfoMoney.

Porém, isso não quer dizer que não haja grandes desafios e motivos de cautela para a economia, com destaque para a questão fiscal. Isso após um ano de fortes gastos, de cerca de 8% do Produto Interno Bruto (PIB), para conter o impacto do avanço da pandemia por meio de programas de auxílio que foram tão importantes para que o tombo do PIB este ano, mas agravando um dos maiores problemas para o país.

A XP Investimentos destaca ainda que o primeiro grande tema do ano é o comportamento da economia com o fim dos programas governamentais, que impulsionaram a recuperação em “V” do consumo no segundo semestre de 2020.PUBLICIDADEhttps://1baac23835883b853e5e9b271fc3098d.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

A incerteza, na verdade, começa antes, com os casos de contaminação e hospitalização pela Covid-19 tendo acelerado nas últimas semanas. “A extensão desse impacto depende da evolução desta nova fase da pandemia, difícil de prever”, avalia a XP. Depende também do início da vacinação que, na avaliação da equipe de análise, acontece no primeiro trimestre de 2021. Mas há risco de execução, por questões logísticas e pelo fato de ainda não termos claro qual vacina chegará primeiro ao Brasil em condições de ser disponibilizada ao grande público.

Quanto aos motores do crescimento, por um lado o fim dos programas de transferência de renda e de suporte ao emprego devem reduzir a percepção de renda das famílias. Por outro, a avaliação é de que recuperação em curso do mercado de trabalho e a poupança circunstancial feita pelas classes médias e alta durante a pandemia deve permitir que o consumo avance mais do que a renda. A política monetária bastante expansionista também deve ajudar a impulsionar a demanda doméstica, através de um mercado de crédito que continua a apresentar sinais positivos para o próximo ano.

Como resultado, a XP espera que o consumo agregado, assim como o PIB, siga em expansão ao longo de 2021, mas em ritmo significativamente mais lento do que no segundo semestre do ano passado, quando a economia registrou uma recuperação após o tombo no primeiro semestre. A previsão é de alta da atividade em 3,4%, ainda sem recuperar o tombo projetado de 4,6% de 2020.

Já o Safra, que tem expectativa de alta de 4,4% da atividade este ano após a baixa de 4,1% no ano passado, espera que o país deva apresentar uma mudança na composição do crescimento em 2021, com uma expansão mais forte do setor de serviços. Isso deve favorecer a retomada do emprego e do consumo, especialmente no segundo semestre, avalia.

Para os economistas do banco, o ambiente internacional também deve ser propício à economia brasileira, com a normalização das correntes de comércio internacional, em virtude da vacinação já iniciada nas principais economias do mundo. A maior variação positiva está prevista para a indústria, que deve crescer 6,5% no próximo ano, segundo a equipe. A agropecuária, por sua vez, deve ter alta de 2,2%, e serviços devem subir 3,8%. A projeção é de alta de 9,6% para o PIB da construção civil, beneficiada pelo baixo nível das taxas de juros no país.

Em um ambiente incerto e ainda muito dependente de vacinas, o Morgan Stanley traçou três cenários para a economia brasileira: o mais provável, em que projeta alta de 4,3% do PIB, o mais otimista, com alta de 5,5% da atividade, enquanto o pessimista aponta para alta de 2,1% da economia no ano.PUBLICIDADEhttps://1baac23835883b853e5e9b271fc3098d.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

“Nossos casos otimistas e pessimistas são fortemente dependentes do equilíbrio fiscal e do desenvolvimento de vacinas. No ambiente otimista, a ampla disponibilidade de vacinas ocorre no primeiro trimestre de 2021, enquanto o Brasil mantém seu regime fiscal intacto e faz um bom progresso na agenda de reformas no próximo ano. A estrutura do limite de gastos é fortalecida por meio de cortes e abre espaço para novos gastos sociais abaixo do limite. O progresso abrangente na agenda de reforma mais ampla fortalece ainda mais as perspectivas, o que implica taxas de juros e inflação mais baixas por mais tempo”, avaliam.

Já no cenário pessimista, os problemas com a Covid-19 se estendem e a recuperação gradual da atividade não é suficiente para criar os empregos necessários e nem para diminuir a pressão social, e as autoridades decidem continuar com o Orçamento de Guerra e descartar todas as regras fiscais, levando à instabilidade e à depreciação do real. Isso forçaria o Banco Central a aumentar as taxas, afetando ainda mais a recuperação.

No cenário base do banco, a economia cresce 4,3%, o o que deve ajudar a levar o PIB aos níveis anteriores à Covid até o terceiro trimestre de 2021. Para os economistas, a demanda externa contribui e a demanda interna é ajudada por um ambiente de taxas de juros baixas. Tanto o investimento como o consumo privado aumentam a recuperação, enquanto o gasto público não deve ser um vetor importante para o crescimento. Se as regras fiscais permanecerem em vigor e houver ampla disponibilidade de vacinas no segundo trimestre de 2021, a expectativa é de um crescimento também em 2022, de 2,7%, com riscos de queda nas projeções decorrentes da incerteza relacionada às eleições presidenciais e do grau de progresso com a agenda de reformas em 2021.

Questão é o fiscal

Conforme destacado acima, o fiscal é um dos maiores desafios impostos nos últimos anos – e que a pandemia só agravou. A expectativa é de um novo ano de déficit, mas as previsões variam sobre qual será o peso da dívida para a economia brasileira.

Pelo cenário traçado pelo Ministério da Economia, o Brasil deve acumular 13 anos de rombos sucessivos nas contas públicas. Com despesas maiores que receitas desde 2014, o país deve manter essa tendência até 2026. As contas públicas só devem voltar ao azul em 2027.

Segundo o Credit Suisse, apesar da perspectiva mais positiva para o crescimento econômico em 2021 e 2022 e, consequentemente, para a dinâmica das contas fiscais, a trajetória da dívida bruta como percentual do PIB seguirá em trajetória de alta no nos próximos anos.

Os analistas apontam a questão fiscal como o principal tema para os próximos dois anos no País. Eles esperam que o governo permaneça comprometido com o teto de gastos e a aprovação de reformas emergenciais, o que deve permitir ao governo recuperar alguma credibilidade fiscal até que as outras reformas na área sejam feitas.

Na avaliação do Credit, o cumprimento do teto de gastos não é suficiente para que a dívida bruta se estabilize nos próximos anos. A estabilidade da dívida exigiria uma combinação de baixas taxas de juros reais e crescimento moderado do PIB nos anos seguintes. Se a taxa real de juros for de 2,5% nos próximos anos, o PIB médio precisaria crescer 2% ou mais para levar à estabilidade. Já se o crescimento do PIB permanecer constante em 2%, a estabilidade da dívida bruta ocorrerá somente em 2030.

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Já para o Safra, a dívida bruta deve equivaler a 89,1% do PIB em 2020 e a 89% em 2021, ano em que o déficit primário deve recuar de 9,9% para 2,3% do PIB.

O Itaú também tem uma percepção de queda na dívida bruta como proporção do PIB nos próximos anos, devendo alcançar  84% do PIB em 2021 e 83% do PIB em 2022, ante 74,3% em 2019 e previsão de chegar a 89% em 2020.

“Além da revisão da série histórica do PIB, que reduziu a relação dívida/PIB em cerca de 1,5 ponto percentual diante do último cenário, os melhores resultados primários, o crescimento econômico temporariamente acima do potencial, os juros reais abaixo do patamar neutro e um deflator do PIB acima do IPCA beneficiarão a dívida nos próximos anos. No caso de flexibilização do rigor fiscal, a retomada da economia ficaria prejudicada e a manutenção da taxa de juros próxima
às mínimas históricas poderia ser inviabilizada”, avaliam os economistas do banco.

De qualquer forma, os economistas não veem, o Brasil como um “país quebrado”, declaração esta dada na última terça-feira (5) pelo presidente Jair Bolsonaro a um apoiador na saída do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. Contudo, como definiu Mansueto Almeida, secretário do Tesouro, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, não há muito mais espaço de manobra.

“A situação é a seguinte: hoje, o Brasil não pode abrir mão de R$ 1 de receita e ainda tem de se esforçar para recuperar neste e nos próximos anos a receita que perdeu com a crise da covid-19 na queda do PIB e na arrecadação”, avaliou. Vale destacar que, um dia após a declaração, Bolsonaro voltou atrás e falou que o país está uma “maravilha”.

Cenário para inflação e política monetária

Enquanto isso, o cenário para 2021 é de uma inflação relativamente controlada, com as previsões variando entre 3,35% e 4,3%. Ou seja, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país, ao redor do centro da meta, de 3,75%, com intervalo de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo no ano (ou entre 2,25% e 5,25%).

Conforme destaca a XP Investimentos, após uma elevação dos preços de alimentos em 2020, há razões para acreditar que esse movimento deve arrefecer em 2021. A apreciação recente do câmbio alivia a pressão de custos internacionais e o fim dos programas emergenciais contribui para desacelerar a demanda interna, mesmo com a gradual melhora no mercado de trabalho. Já a a distribuição de insumos industriais deve se normalizar diante. A expectativa da casa é de um IPCA de 3,5% em 2021, após atingir 4,5% em 2020.

Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs, destacou em entr

A expectativa do Goldman é que os preços administrados subam em 2021 e que os preços de serviços, muito impactados pela pandemia, também tenham uma recuperação. Mas, por outro lado, preço de alimentação e de bens industriais certamente vão moderar um pouco em 2021.

Com isso, em relação à política monetária do Banco Central, para 2021, a previsão do economista é de uma alta entre 1 ponto e 1,5 ponto percentual da Selic no ano, a partir do segundo semestre, levando a Selic para o patamar entre 3% e 3,5%.

“Há duas questões diferentes para definir a política monetária: i) para onde vai a inflação em relação à meta e ii) manejo de risco. Sobre o segundo ponto, manter o juro real muito baixo pode gerar uma volatilidade financeira, uma pressão no câmbio. Deste modo, há considerações do ponto de vista financeiro e de estabilidade macroeconômica que podem requerer uma política monetária menos acomodativa, independentemente de como esteja o nível da inflação. Dada a incerteza macroeconômica, é difícil ter certeza sobre a calibragem fina da política monetária, mas não me parece que inflação saia do eixo e gere muita pressão sobre a política monetária”, avalia Ramos.

Para os analistas do Credit, a inflação deve permanecer em torno de 4% em 2021, impulsionada por um repasse da forte depreciação da taxa de câmbio, retomada da demanda e a implementação de aumentos de preços anteriormente adiados ou cancelados. Com isso, o banco espera que a normalização dos preços de serviços e da indústria deve continuar e a inflação de alimentos deve permanecer pressionada, levando a uma forte alta do IPCA no primeiro semestre de 2021, batendo 6,7% em maio, para depois começar a perder força entre julho e dezembro.

Além disso, para os próximos meses, os analistas do banco esperam uma “normalização gradual” da política monetária. Com a recuperação da economia, a projeção é que o Banco Central aumente os juros, com a Selic chegando a 4,5% no fim de 2021 e em 6% em 2022. Esta alta da taxa básica de juros deve ter início no meio do próximo ano, momento em que o Credit também vê a inflação atingindo níveis mais altos. Mas mais que a alta de preços, os analistas enxergam esse início de novo ciclo pelo BC puxado pela recuperação da economia nacional.

Confira as projeções de grandes bancos e casas de análise para os indicadores da economia brasileira em 2021: 

InstituiçãoPIB IPCA Selic (final do ano)  Câmbio (final do ano)
Morgan+4,3%4%3%R$ 5,30
XP Investimentos+3,4%3,5%3%R$ 4,90
Itaú+4%3,3%3,5%R$ 4,75
Bradesco+3,9%3,3%4%R$ 5,00
Santander+2,9%3%2,5%R$ 4,60
Credit Suisse+4%4%4,5%R$ 5,20
Safra+4,4%3,2%3%por volta de R$ 5,00
Goldman Sachs+3,8% a +4%3,7%3% a 3,5%R$ 4,80
Bank of America+3%4,4%3,25%R$ 5,10
BB Investimentos+3,5%3,4%3%R$ 5,00
UBS+3%4,3%4%R$ 5,00
SulAmérica Investimentos+3,6%3,35%3%R$ 5,19

Câmbio: dólar abaixo de 5?

Apesar de passar por uma forte queda no fim do ano passado, o dólar encerrou 2020 com valorização de 29% ante o real, deixando a moeda brasileira entre uma das piores do mundo. Além do fiscal, o forte avanço da Covid 19 consolidou o Brasil como um dos países mais afetados pela pandemia no mundo, enquanto o segundo semestre foi de maior queda da moeda americana em um cenário de grande liquidez global e avanço no desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus. Mas os fatores de risco devem seguir no radar dos investidores, o que deve movimentar o câmbio no ano que começa.

Há cerca de um mês, Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander, destacou em evento que o cenário do dólar é binário, dependendo desse fator. Se o governo seguir a trajetória de afirmar a responsabilidade fiscal e a macroeconômica, há espaço para o dólar chegar a R$ 4,60. Por outro lado, se o governo não conseguir dar uma demonstração clara sobre como vai endereçar a questão da dívida pública, a moeda americana poderá atingir R$ 6,70, segundo ela.

Apesar disso, o cenário-base da economista é de um câmbio mais baixo em meio a um cenário internacional favorável e redução de riscos fiscais, que poderão reduzir os prêmios de ativos brasileiros em geral, levando o real a se fortalecer de forma mais pronunciada. As projeções do Santander são de dólar a R$ 4,60 este ano e R$ 4,15 em 2022.

O Bank of America, por sua vez, diz estar “cautelosamente otimista” com relação ao real, citando valuations “atrativos” e expectativa de maior clareza sobre o cenário fiscal no primeiro trimestre de 2021.

“Acreditamos que há espaço para remover algum prêmio de risco no primeiro trimestre de 2021, à medida que o governo dá mais clareza sobre as perspectivas fiscais. Em nosso cenário-base, o teto de gastos permanecerá em vigor ao longo de 2021 e a agenda de reformas avançará, o que seria positivo para o real”, disseram em relatório Gabriel Tenorio e Claudio Irigoyen, que também consideram o risco fiscal o principal motor da desvalorização de 29% da moeda brasileira no ano passado.

A expectativa do Goldman é que os preços administrados subam em 2021 e que os preços de serviços, muito impactados pela pandemia, também tenham uma recuperação. Mas, por outro lado, preço de alimentação e de bens industriais certamente vão moderar um pouco em 2021.

Com isso, em relação à política monetária do Banco Central, para 2021, a previsão do economista é de uma alta entre 1 ponto e 1,5 ponto percentual da Selic no ano, a partir do segundo semestre, levando a Selic para o patamar entre 3% e 3,5%.

“Há duas questões diferentes para definir a política monetária: i) para onde vai a inflação em relação à meta e ii) manejo de risco. Sobre o segundo ponto, manter o juro real muito baixo pode gerar uma volatilidade financeira, uma pressão no câmbio. Deste modo, há considerações do ponto de vista financeiro e de estabilidade macroeconômica que podem requerer uma política monetária menos acomodativa, independentemente de como esteja o nível da inflação. Dada a incerteza macroeconômica, é difícil ter certeza sobre a calibragem fina da política monetária, mas não me parece que inflação saia do eixo e gere muita pressão sobre a política monetária”, avalia Ramos.

Para os analistas do Credit, a inflação deve permanecer em torno de 4% em 2021, impulsionada por um repasse da forte depreciação da taxa de câmbio, retomada da demanda e a implementação de aumentos de preços anteriormente adiados ou cancelados. Com isso, o banco espera que a normalização dos preços de serviços e da indústria deve continuar e a inflação de alimentos deve permanecer pressionada, levando a uma forte alta do IPCA no primeiro semestre de 2021, batendo 6,7% em maio, para depois começar a perder força entre julho e dezembro.

Além disso, para os próximos meses, os analistas do banco esperam uma “normalização gradual” da política monetária. Com a recuperação da economia, a projeção é que o Banco Central aumente os juros, com a Selic chegando a 4,5% no fim de 2021 e em 6% em 2022. Esta alta da taxa básica de juros deve ter início no meio do próximo ano, momento em que o Credit também vê a inflação atingindo níveis mais altos. Mas mais que a alta de preços, os analistas enxergam esse início de novo ciclo pelo BC puxado pela recuperação da economia nacional.

Confira as projeções de grandes bancos e casas de análise para os indicadores da economia brasileira em 2021: 

InstituiçãoPIB IPCA Selic (final do ano)  Câmbio (final do ano)
Morgan+4,3%4%3%R$ 5,30
XP Investimentos+3,4%3,5%3%R$ 4,90
Itaú+4%3,3%3,5%R$ 4,75
Bradesco+3,9%3,3%4%R$ 5,00
Santander+2,9%3%2,5%R$ 4,60
Credit Suisse+4%4%4,5%R$ 5,20
Safra+4,4%3,2%3%por volta de R$ 5,00
Goldman Sachs+3,8% a +4%3,7%3% a 3,5%R$ 4,80
Bank of America+3%4,4%3,25%R$ 5,10
BB Investimentos+3,5%3,4%3%R$ 5,00
UBS+3%4,3%4%R$ 5,00
SulAmérica Investimentos+3,6%3,35%3%R$ 5,19

Câmbio: dólar abaixo de 5?

Apesar de passar por uma forte queda no fim do ano passado, o dólar encerrou 2020 com valorização de 29% ante o real, deixando a moeda brasileira entre uma das piores do mundo. Além do fiscal, o forte avanço da Covid 19 consolidou o Brasil como um dos países mais afetados pela pandemia no mundo, enquanto o segundo semestre foi de maior queda da moeda americana em um cenário de grande liquidez global e avanço no desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus. Mas os fatores de risco devem seguir no radar dos investidores, o que deve movimentar o câmbio no ano que começa.

Há cerca de um mês, Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander, destacou em evento que o cenário do dólar é binário, dependendo desse fator. Se o governo seguir a trajetória de afirmar a responsabilidade fiscal e a macroeconômica, há espaço para o dólar chegar a R$ 4,60. Por outro lado, se o governo não conseguir dar uma demonstração clara sobre como vai endereçar a questão da dívida pública, a moeda americana poderá atingir R$ 6,70, segundo ela.

Apesar disso, o cenário-base da economista é de um câmbio mais baixo em meio a um cenário internacional favorável e redução de riscos fiscais, que poderão reduzir os prêmios de ativos brasileiros em geral, levando o real a se fortalecer de forma mais pronunciada. As projeções do Santander são de dólar a R$ 4,60 este ano e R$ 4,15 em 2022.

O Bank of America, por sua vez, diz estar “cautelosamente otimista” com relação ao real, citando valuations “atrativos” e expectativa de maior clareza sobre o cenário fiscal no primeiro trimestre de 2021.

“Acreditamos que há espaço para remover algum prêmio de risco no primeiro trimestre de 2021, à medida que o governo dá mais clareza sobre as perspectivas fiscais. Em nosso cenário-base, o teto de gastos permanecerá em vigor ao longo de 2021 e a agenda de reformas avançará, o que seria positivo para o real”, disseram em relatório Gabriel Tenorio e Claudio Irigoyen, que também consideram o risco fiscal o principal motor da desvalorização de 29% da moeda brasileira no ano passado.

Para o BB Investimentos, que prevê o dólar a R$ 5, superada a crise sanitária, a expectativa é de que o país retome as discussões em torno da agenda de consolidação fiscal, o que deve contribuir para a redução das incertezas que pairam sobre a sustentabilidade fiscal do Brasil no longo prazo, o que pode gerar uma pressão de queda para o real. Mas, dado o cenário de juros domésticos mais baixos,  o câmbio tende a se estabilizar em um patamar mais elevado em relação à média dos últimos anos.

evista ao InfoMoney que, apesar da inflação de alimentos alta em 2020 (rodando em cerca de 18% em termos anuais), o Brasil não parece ter um problema de inflação alta e esses choques provavelmente vão moderar durante 2021.

As previsões apontam para um 2021 melhor do que ano que passou. Porém, é preciso considerar os riscos no radar. “[A pandemia] torna difícil modelar o crescimento porque não é o tipo de choque tradicional da economia, é algo que acontece uma vez a cada cem anos. Esse nível de incerteza significa que o leque de crescimento possível para 2021 é bem mais amplo”, na avaliação de Ramos, do Goldman Sachs.

“Estamos operando com um grau de incerteza muito elevado, que se soma à própria incerteza relacionada ao processo legislativo, ao ajuste fiscal e à governabilidade. Será um ano complicado, de grande volatilidade”, aponta o economista.

Fonte: Infomoney

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