O desmatamento e as queimadas no Brasil têm contribuído para elevar as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) no planeta. Hoje, o país ocupa a quinta posição entre os maiores emissores. Em escala global, os índices cada vez mais alarmantes têm levado organismos internacionais, governos, ONGs e empresas a buscar formas de frear as emissões e contribuir para a recuperação de áreas degradadas.
Vem de um laboratório de Nova Odessa, no interior de São Paulo, uma alternativa para recuperar áreas desmatadas. O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Ambipar chegou a uma tecnologia capaz de promover o reflorestamento em massa com a ajuda não apenas de conhecimento científico mas também com base no conceito ESG.
Matéria-prima obtida do colágeno
A companhia desenvolveu biocápsulas – biodegradáveis, feitas com colágeno obtido de resíduos da indústria farmacêutica – nas quais são colocadas sementes de árvores nativas encapsuladas com um condicionador de solo, o EcoSolo®, patenteado pela Ambipar e certificado pelo Instituto Biodinâmico (IBD) e o Ecocert.
As sementes misturadas ao condicionador de solo são espalhadas por drones – a capacidade varia de 1 mil a 3 mil unidades a cada viagem. Como as cápsulas gelatinosas são feitas de material biodegradável, não causam danos ao meio ambiente.
Em contato com o solo e água, elas derretem, passam por um processo de decomposição natural, o que resulta na formação de nutrientes e organismos biológicos.
A combinação, mesmo no caso de terrenos degradados (seja pelo desmatamento, a queimada, erosão ou outra ação degenerativa antrópica), aumenta a chance de germinação em relação ao método tradicional de reflorestamento. Atualmente, uma parceria com uma mineradora levou o projeto para ser testado no Bioma Amazônico. O local escolhido é Canaã dos Carajás, no Pará.
Estímulo à economia circular
Além de estimular a economia circular por meio da utilização de aparas de colágeno que seriam descartadas pela indústria farmacêutica e de resíduos da indústria do papel e celulose, usados no composto orgânico EcoSolo®, as biocápsulas da Ambipar têm outro diferencial. Elas carregam sementes nativas adquiridas de caiçaras e indígenas.
Com isso, a iniciativa apoia a geração de rendas de comunidades tradicionais. Entre os parceiros estão cooperativas indígenas e de caiçaras.
Diretor do Centro de Pesquisa da Ambipar, o engenheiro ambiental Gabriel Estevam conta que o princípio usado pela companhia se assemelha ao trabalho feito pelos pássaros na natureza, que comem os brotos e depois, enquanto voam, espalham as sementes com nutrientes presentes em suas fezes, o que ajuda a ativá-las.
Biocápsulas: sementes compradas de comunidades são misturadas ao condicionador de solo da Ambipar (Ambipar/Divulgação)
Drone chega a lugares remotos
No caso da Ambipar, é usado um dispositivo acoplado ao drone. O recurso permite executar o lançamento aéreo em áreas específicas de difícil acesso. Para comprovar a eficácia do atual modelo, foi preciso fazer uma série de testes em áreas estratégicas, como em matas ciliares degradadas no entorno da Serra da Cantareira, na Grande São Paulo.
Feita a distribuição das biocápsulas, imagens aéreas são coletadas e monitoradas por meio do aplicativo Sower X, que possibilita acompanhar e certificar o desenvolvimento das árvores.
O Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Ambipar, berço das biocápsulas, é formado por um complexo tecnológico que conta com laboratórios, equipamentos, linhas de prototipagem. Seus pesquisadores se dedicam a buscar soluções inovadoras para o meio ambiente alinhadas à economia circular e à valorização de resíduos.
Os projetos foram implantados em diferentes regiões do país e no exterior. Em dez anos, o centro já conquistou mais de 24 patentes e recebeu ao redor de 30 prêmios, além de ter publicado centenas de artigos.