Irmãos querem forçar diretor do banco, contratado para fazer a venda de sua empresa, a responder se favoreceu Magalu na operação
Leandro e Thiago Ramos, fundadores da plataforma de e-commerce de tecnologia Kabum!, entraram com uma ação judicial contra Ubiratan dos Santos Machado, diretor do Itaú BBA, banco contratado para encontrar um comprador para a empresa no mercado, e que intermediou a venda para o Magazine Luiza em 2021.
Os fundadores do Kabum! acusam Ubiratan de ter manipulado a venda da plataforma para beneficiar o Magazine Luiza.
Em uma ação judicial apresentada neste mês, os advogados dos irmãos afirmam ter recebido uma ligação de um ex-cunhado de Ubiratan que confirmou a existência de “uma forte relação” entre o diretor do Itaú BBA e Frederico Trajano, diretor-presidente do Magazine Luiza.
De acordo com a descrição feita pelo escritório de advocacia Warde Advogados, José Luiz Bayeux Neto, que representa Leandro e Thiago Ramos, afirmou ter recebido uma ligação de Erickson Justus em outubro deste ano. Segundo ele, Justus foi casado com uma das irmãs do diretor do Itaú BBA.
“Erickson contou que, devido ao seu casamento já encerrado com Samantha Machado, ele havia tido contato próximo com Ubiratan e Trajano e sabia que os dois tinham uma relação tão estreita, íntima e afetuosa, e uma aliança de interesses profissionais e econômicos tão inquebrantável que seria absolutamente impossível para Ubiratan atuar com independência como mandatário de qualquer pessoa em uma negociação que tivesse como contraparte Frederico Trajano”, escreveu o advogado.
Em outro momento, a defesa dos irmãos Ramos descreve Trajano e Machado como “carne e unha que não se desgrudam”.
A venda do Kabum! para o Magazine Luiza foi realizada em julho de 2021 por R$ 1 bilhão. No entanto, os fundadores do Kabum! alegam que o Magalu se propôs a pagar, além dos R$ 1 bilhão em dinheiro, mais R$ 2,5 bilhões em ações da varejista. Os Ramos se tornariam sócios do Magalu.
No entanto, no mesmo dia em que anunciou a compra do Kabum!, o Magalu também anunciou um follow-on (oferta subsequente de ações), o que fez o preço da ação cair.
Devido à desvalorização das ações, o negócio, que seria de R$ 3,5 bilhões, acabou valendo menos da metade do preço, conforme alegam os advogados dos irmãos Ramos.
Eles afirmam que Ubiratan Machado já havia sido notificado extrajudicialmente em 17 de outubro deste ano para informar se negociou ações do Magalu. No entanto, não houve resposta.
Os fundadores do Kabum! solicitam, por meio da Justiça, informações a Machado, como a quantidade de ações de emissão do Magazine Luiza em sua posse, que teriam sido adquiridas por ele ou empresa controlada por ele entre 2020 e 2021. Também querem saber as datas de compra desses papéis e quando foram vendidos posteriormente.
Os irmãos também desejam saber se Machado assessorou Frederico Trajano na aquisição da plataforma de e-commerce Netshoes em 2019.
Procurado pelo Painel S.A., o Itaú BBA afirma que a venda do Kabum! ao Magalu foi concluída após um processo competitivo, diligente e transparente, para o qual foram convidados mais de 20 interessados, e que os fundadores do Kabum! sempre estiveram à frente das negociações.
“O banco lamenta que a Justiça esteja sendo acionada a partir de informações mentirosas, que pretendem tão somente confundir, constranger e manchar a reputação da instituição e de um profissional que, há décadas, atua de forma ilibada no mercado financeiro. As medidas cabíveis contra essa injusta agressão serão tomadas no tempo oportuno”, diz o Itaú BBA.
Fonte: Folha