Comprar um produto pela internet e receber na porta de casa é uma experiência comum nas grandes cidades. Menos para quem vive nas favelas. Com a intenção de pôr um fim a essa dificuldade, Celso Athayde, fundador do grupo de empresas de favelas Favela Holding, e Luciano Luft, acionista da firma de logística Luft Logistics, consolidaram um projeto que começa a ganhar corpo no país.
A Favela Log, empresa de logística do grupo criada em 2014, agora se chama Favela Llog, com um “L” a mais de Luft. A fusão de negócios com o novo sócio Luciano Luft, que no jargão corporativo se chama joint venture, pretende expandir o serviço de entrega de e-commerce aos moradores de favelas brasileiras a partir da expertise de quem conhece esses territórios e os meandros de logística.
A empresa atende 112 favelas e 12 bairros do Rio de Janeiro. O objetivo da dupla, um tanto ousado, é alcançar mais de 5.000 comunidades onde a Cufa (Central Única das Favelas), braço social da Favela Holding, atua. Além desses territórios, a companhia também pretende chegar a comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas, localidades onde os empresários fizeram entregas de cestas básicas na pandemia de covid-19.
A favela de Paraisópolis, a segunda maior de São Paulo, localizada na zona sul, ganhou o primeiro centro de distribuição dessa nova fase. Aliás, os entregadores são pessoas egressas do sistema penitenciário que procuram emprego por meio do Projeto Recomeço, também da Cufa. Atualmente, são 50 funcionários e o número pode chegar a 600 até o fim de 2023.
De acordo com uma pesquisa do Data Favela, instituto de pesquisas do conglomerado de empresas fundado por Athayde, e o Instituto Locomotiva, 17 milhões de brasileiros vivem em favelas. Isso corresponde a 8% de toda a população.
Cada favela mostra um desafio
No papel, a atuação da nova Favela Llog é simples: oferecer aos favelados —como Athayde bem diz, sem o sentido pejorativo— a inserção ao mercado de consumo. Na prática, porém, a dupla de empresários reconhece que há desafios a serem vencidos.
“Nós precisamos entender a realidade de cada uma [das favelas] para montar um projeto baseado em suas necessidades”, afirma Celso Athayde.
Nas favelas, por exemplo, os barracos não têm número, o que dificulta trabalho dos entregadores. Eles, que geralmente vivem nesse território, têm como aliados as associações de bairro e líderes comunitários, que auxiliam na localização do endereço de determinado cliente.
Outro obstáculo é que uma comunidade pode ter, por exemplo, ruas íngremes que impedem a entrada de carros ou uma aldeia indígena só pode ser acessada por rio. “Nós vamos chegar de moto, bicicleta e carrinho de rolimã se for preciso”, brinca Athayde.
“Nós vamos mapear as pessoas e os seus endereços. Isso quer dizer que comprou vai ter uma posição referenciada. [A entrega] vai ficar muito mais fácil a partir da segunda compra”, completa Luft.
De São Paulo para o Brasil
Neste primeiro momento, o crescimento da operação logística será a partir de São Paulo. Depois de Paraisópolis, a favela de Heliópolis e o bairro Santo Antônio, ambos na zona sul da capital, terão centros de distribuição.
Em oito anos de atuação, a Favela Log —antes do segundo L— atendia a gigante P&G, dona de marcas como Gillette, Pampers e Vick e tem atualmente como único parceiro a Natura. Em breve, serão anunciados seis novos parceiros, que a dupla de empreendedores não quis revelar, mas que atuam nos segmentos de consumo, higiene e limpeza e varejo. “São empresas grandes”, diz Celso Athayde.
Após o estado paulista, os empresários almejam novos destinos pelo país, mas não revelam as projeções de expansão. “Podemos ir para Minas Gerais, Bahia e subir o Nordeste. Vamos analisar a necessidade do mercado”, declara Luft.
Além da opção de receber em casa, os consumidores ainda poderão cadastrar o endereço do centro distribuição de sua região em um site de e-commerce para retirar a mercadoria nesse local.
Fonte: Uol