A empresa está inaugurando uma planta produtiva que recebeu investimentos de R$ 300 milhões e que aumentará a sua capacidade em mais de 3 bilhões de doses terapêuticas por ano
Uma sensação incomodou Eder Maffissoni por um bom tempo: a Prati-Donaduzzi, empresa em que trabalha desde 2002 era vista como ‘aquela pequena farmacêutica do Paraná”. Nesta terça, 20, ele anuncia investimentos de R$ 1,2 bilhão para potencializar um novo ciclo de crescimento mirando um faturamento anual de R$ 4 bilhões em 2027.
Presidente da farmacêutica desde 2016, Maffissoni fará o comunicado durante a inauguração de uma nova fábrica da companhia em seu complexo industrial em Toledo, cidade paranaense a mais de 500 quilômetros da capital Curitiba.
O projeto faz parte de um conjunto de investimentos de R$ 650 milhões divulgados em 2020 e consumiu em torno de R$ 300 milhões – a outra parte foi usada na construção de um centro de distribuição, modernização das outras plantas e pesquisa e desenvolvimento.
O que será produzido na nova unidade
A unidade permitirá que a Prati aumente a sua capacidade produtiva em torno de 25%, chegando a 17 bilhões de doses terapêuticas, nomenclatura que a indústria usa para se referir a comprimidos, posologia de xarope etc. O acréscimo de 3,6 bilhões de doses garantirá à empresa o título de maior fabricante de comprimidos da América Latina, de acordo com dados da consultoria americana IQVIA.
Para além da conquista, a planta representa para a Prati um passo para reforçar a sua participação de mercado. Em genérico, a sua principal linha de produção, a empresa é a maior no país em volume de fabricação com 10,93 bilhões de doses por ano, segundo a IQVIA.
E ainda amplia as possibilidades para a fabricação de medicamentos de referência (não-genéricos), área para a qual o laboratório começou a olhar com mais atenção em 2020. “A estratégia é termos produtos para o sistema nervoso central e cuidando das doenças complexas do sistema nervoso central, como Parkinson, Alzheimer, esquizofrenia, autismo e depressão”, afirma Maffisoni. Hoje, o negócio representa 10% de um faturamento que ficou em 2,1 bilhões de reais em 2022.
Como é a atuação da empresa
Essas movimentações refletem como a Prati, uma empresa prestes a completar 30 anos, vem se transformando ao longo do tempo tanto para acompanhar quanto para ganhar relevância na indústria farmacêutica.
A fabricante teve como embrião um laboratório de infusão de chás que o casal de farmacêuticos paranaense Luiz e Carmen Donaduzzi criou no Nordeste no começo dos anos 1990. Os dois tinham acabado de retornar da França onde fizeram mestrado e doutorado e não encontravam espaço nem as condições para aplicar o conhecimento.
Frustrado com a experiência no Instituto de Tecnologia de Pernambuco para o qual foi convidado para ser diretor, Luiz pediu demissão e, ao lado de Carmen, começou a produzir chás que eram vendidos em pequenas farmácias de bairro e do interior do Nordeste.
Pouco tempo depois, surgiu uma oportunidade no estado natal, o governo paranaense tinha criado uma linha de crédito que emprestava até 50.000 dólares a quem tivesse um projeto para abrir uma indústria, conforme contou à EXAME em 2012.
Ao lado de Arno Donaduzzi e de Celso Prati, fundaram a farmacêutica em 1993. Como proposta, investir em medicamentos que já tinham perdido a patente a exemplo de alguns analgésicos e vermífugos. O caminho foi consolidado com a entrada em vigor da lei dos genéricos, em 1999.
A empresa cresceu no mercado público, oferecendo remédios para governos nas esferas federal, estadual e municipal. Em 2010, a Prati fez a guinada para fortalecer as vendas ao consumidor final – representavam apenas 15% do faturamento até então. O movimento deu certo, hoje 66% da receita é originada em mais de 60 mil farmácias que são clientes do laboratório pelo país.
Quais são os diferenciais da Prati
O êxito na trajetória da estratégia da Prati ao longo dos anos, acreditam os donos, tem no modelo bastante verticalizado da operação uma das bases. Já em 2005, a farmacêutica criou uma transportadora e uma empresa de embalagem, que hoje oferece os seus serviços até para concorrentes.
E, em 2011, com a estratégia de venda para as farmácias, veio a própria rede de distribuição – no universo dos medicamentos, uma mesma empresa de distribuição trabalha com diversos laboratórios.
“Por que uma distribuidora venderia o meu produto se era o mais desconhecido de todos?”, questiona o executivo. “Naquele momento, eu precisava fortalecer a minha imagem e estar mais próximo possível com a minha própria distribuição exclusiva para eu não concorrer com ninguém. Foi uma das estratégias para crescer no varejo”.
Ao longo dos anos, a Prati criou ainda:
- A Specialità, em 2013 – uma unidade para desenvolver o IFA, princípios ativos farmacêuticos. Hoje, a operação trabalha, basicamente, com dois produtos à base de canabidiol, um a partir da extração vegetal e outro sintético
- Nutracêuticos, em 2015 – operação para o desenvolvimento de polivitamínicos e produção de cápsulas gelatinosas mole, uma tecnologia que ainda não tinha no portfólio. Em 2018, começou a exportar produtos para os Estados Unidos como private label.
O casal de farmacêuticos paranaense Luiz e Carmen Donaduzzi, fundadores da farmacêutica: de um negócio de chás vendidos em farmácias do Nordeste para um negócio de R$ 4 bilhões (Divulgação) (Divulgação/Divulgação)
Para onde vão os novos investimentos
O valor de 1,2 bilhão será empregado para manter o ritmo de crescimento. Isto é, continuar dobrando de tamanho em faturamento a cada cinco anos.
Na divisão dos recursos, a Prati vai reservar metade para investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Os 600 milhões restantes serão distribuídos em dois tipos de iniciativas. Uma parte vai para reforçar a operação, como a modernização do parque fabril e a ampliação da malha de distribuição e da unidade de nutracêuticos.
A outra será destinada ao desenvolvimento de novos negócios, como a criação de uma unidade de injetáveis – medicamentos aplicados por seringas – divisão em que o laboratório ainda não atua. A previsão é de que a planta esteja funcionando entre o fim de 2026 e o começo de 2027. O executivo não revelou que tipo de medicamento a Prati produzir.
Na mesma linha de explorar novas fronteiras, entra o projeto de internacionalização, começando pelos Estados Unidos e com a unidade de nutracêuticos. A Prati já exporta para lá, como private label, mas entra agora com a própria marca.
É o primeiro passo de um objetivo maior: exportar todo tipo de medicamento que tem no portfólio. Atualmente, está em fase de certificação das suas unidades fabris junto aos órgãos reguladores de lá para avançar. Segundo o presidente da empresa, os produtos já estão em linha com os critérios internacionais e todas as plantas são desenvolvidas para atender às exigências dos órgãos de vigilância dos Estados unidos e da Europa, um outro mercado potencial.
Quais são os planos da companhia
Um elemento adicional da estratégia da empresa é a abertura da fazer aquisições, algo inédito nestes 30 anos. Até aqui, o crescimento da companhia tem sido construído dentro de casa. Toda vez que percebe uma necessidade, a Prati levanta paredes, compra equipamentos, contrata equipe, desenvolve tecnologia e produz internamente. Mas essa história está para começar a mudar.
O conselho de administração acabou de aprovar a ida a mercado para encontrar oportunidades em concorrentes que tenham sinergia em portfólio, área de atuação e até represente uma abertura para acelerar a entrada em território estrangeiro.
“Só desenvolvendo produtos e explorando o território local talvez nós tenhamos alguma dificuldade em algum momento. Então, a gente tem trabalhado agora para olhar para aquisições que complementem a nossa estratégia para que consigamos atingir os nossos objetivos”, afirma Maffissoni.
Fonte: Exame