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Fiat estuda lançar uma locadora

O presidente da FCA na América Latina diz que a nova picape Strada reflete a cara atual do mercado brasileiro, com igual importância para famílias e frotistas

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A nova picape Fiat Strada, que será lançada no segundo trimestre, deverá se tornar o automóvel mais vendido do Grupo FCA — empresa líder em vendas de 2019, se somadas as marcas Fiat e Jeep. Ao apostar no consumidor familiar (que será atendido pela Strada em versões com cabine longa e cinco lugares) e nas empresas (com modelos de caçamba longa e dois lugares), a picape representa a dualidade atual do mercado brasileiro. Segundo a Anfavea, as vendas para pessoas jurídicas representaram 46% do total no ano passado (em 2012, eram 25%). Quase metade desses veículos foi comprada por locadoras, que os repassam para serviços de ride-sharing — hoje, cerca de 70% da frota na Uber é alugada. “A década de 2020 dá todos os sinais de que será a mais disruptiva da história do nosso setor e da mobilidade”, afirma Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.

Presidente da FCA na América Latina, o engenheiro italiano Antonio Filosa, 44 anos, pretende investir boa parte dos R$ 14 bilhões que recebeu da matriz na diversificação de produtos, tecnologias e estratégias. Vai lançar um aplicativo para facilitar a vida no carro, estuda formas de agradar passageiros e motoristas de aplicativo e não descarta abrir uma locadora própria, para depender menos de grandes frotistas. 

Como a FCA está reagindo ao novo equilíbrio de forças no mercado brasileiro, com o consumidor familiar perdendo peso?
Na FCA, 55% do consumo vem das famílias, 25% de pequenas e médias empresas e os demais 20% de grandes frotistas, como as locadoras. Nossa linha de produtos é completa, com utilitários e carros de passeio. Se o baricentro do mercado for mais para família ou mais para a venda direta, nós somos preparados para ambos. E queremos crescer em ambos. A Strada é um típico exemplo da nossa vontade de continuar posicionado com a maior flexibilidade possível para todos os mercados. As fotos já disponíveis na internet mostram a versão quatro portas, com cinco lugares, perfeita para a família. A Strada cabine curta, com dois lugares, terá muita caçamba e será perfeita para trabalho.

Qual posição a Strada deve ter nas vendas da FCA?
Em 2020, deve ser nosso carro principal. No ano passado, foram Argo, Strada e Toro. Queremos que isso se repita. O modelo novo vem carregado de responsabilidade, ao substituir um modelo muito ganhador. Queremos crescer ainda mais.

As locadoras se tornaram um enorme comprador de carros, com poder de negociação capaz de achatar a margem de lucro das montadoras. Mas em grande parte elas não compram para si, e sim para servir aos aplicativos de ride-sharing. Como a FCA trabalha para recuperar parte do poder de barganha?
Todas as montadoras estão começando a entrar com locadoras próprias. A Toyota globalmente tem um programa assim, a Volkswagen anunciou outro … Nós estamos analisando como fazer esse passo também. Obviamente, numa lógica própria, não antagonista. Os frotistas são parceiros. Essa parceria vai continuar, vai ser melhorada, vai ser trabalhada em conjunto. Nós queremos entender como podemos trabalhar também diversamente nesse setor.

Qual será o impacto dos serviços de ride-sharing no negócio das montadoras?
Existe uma lenda urbana de que os novos hábitos de consumo de mobilidade estão diminuindo a demanda por carros. Na verdade, é o contrário. África, Ásia e América Latina têm espaço para crescer. O que aconteceu até agora foi uma mudança na demanda. Digamos que o consumidor tem um carro e faz dez viagens de aplicativo por mês. Ele mobilizou uma demanda por 11 carros. Essa força a gente ainda não entendeu perfeitamente.

Como a FCA se prepara para atender os passageiros dos serviços de ride sharing?
Do ponto de vista de engenharia, dos conteúdos do carro, daremos mais atenção a acessórios. Por exemplo: pode ser interessante ter entre os bancos uma mesinha giratória, capaz de virar para a esquerda e para a direita, para onde o cliente estiver. Seguramente, o consumidor passará parte da viagem no próprio telefone ou acessando a internet. Devemos atender a essa demanda com serviços conectados. No próximo ano, vamos lançar nossa plataforma, nosso app. Vamos transformar, cada vez mais, o carro em um dispositivo tão prestativo para alguns serviços quanto o smartphone.

O que a FCA terá nessa plataforma?
Estamos fazendo parceria com a Visa e com o McDonald’s. Você vai poder fazer um pagamento, encontrar o McDonald’s mais próximo, chegar lá e já ter o sanduíche pronto… Fazer o sanduíche cabe ao McDonald’s, mas toda a parte inicial é nossa. A vida deve ser mais exequível durante o tempo de estar sentado dentro de um carro. Você deve poder fazer mais coisas úteis para a sua vida enquanto dirige do ponto A ao B. Antes, era: eu vou até o ponto B pensando no que fazer e, chegando, eu faço. Agora, você pode fazer uma porção de coisas no caminho.

A plataforma da FCA vai ser útil mesmo se eu estiver dentro de um carro de outra marca?
Exatamente.

Como a FCA quer ganhar a preferência do motorista de aplicativo?
Com tecidos de alta resistência, impermeáveis. Com carros de alta durabilidade. Quem está usando o carro como uma fonte de renda quer perder menos tempo e dinheiro. Quer ter manutenção mais barata, mais previsível, com possibilidade de agendar, sem pegar filas no concessionário… tudo isso vai acontecer. O carro pode contar para o motorista que ele está desgastando mais essa parte, menos essa outra, que o seu modo de dirigir está sacrificando o consumo de combustível… Tudo isso é possível. Depende de horas e horas de programação de software, mas é possível.

Congestionamentos tiraram muito do prazer da locomoção diária. Por outro lado, ganham força atividades como as trilhas na mata e os track days em autódromos. Em 2008, a Fiat apresentou o conceito FCC II, um buggy elétrico especializado em diversão, livre de algumas expectativas para o uso cotidiano, como espaço de porta-malas. A FCA pretende investir em carros recreativos?
Um carro-conceito tem a missão de levar novos elementos para o carro de produção. O FCC II virou parcialmente realidade, assim como outros. Nós já temos marcas vocacionais. A Jeep tem vocação de sair do limite urbano. A linha Abarth, hoje ausente na América Latina, leva valores das pistas para os Fiat de rua. Alfa Romeo é emoção pura. Temos a Maserati, com um barulho de motor especial. Talvez a gente seja a corporação automotiva com mais marcas voltadas a propósitos específicos. Podemos aumentar a presença delas na América Latina, no futuro.

Fonte: https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2020/02/estamos-analisando-diz-antonio-filosa-ceo-da-fiat-sobre-empresa-lancar-uma-locadora.html

Foto: Antonio Filosa, CEO da Fiat Chrysler na América Latina – Divulgação

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