Isaias Bernardes é presidente da Chiquinho Sorvetes, rede de sorveterias com foco em cidades do interior que em 2022 faturou R$ 500 milhões
Algumas famílias se orgulham em compartilhar traços de personalidade, o sotaque carregado ou até mesmo uma inclinação para o esporte. Na família de Isaias de Oliveira, esse traço em comum — e repassado a diferentes gerações — é o desejo de empreender. Ainda jovem, ele teve o incentivo de seu pai, um então empreendedor e agropecuarista na região de Frutal, em Minas Gerais, para se enveredar pelo caminho do empreendedorismo. Atualmente, ele é CEO da Chiquinho Sorvetes, rede de sorveterias com faturamento de 603 milhões de reais em 2022.
Como começou o negócio
A Chiquinho Sorvetes, fundada em 1980, nasceu do desejo de Oliveira de atender a um hábito comum em cidades do interior: os encontros casuais à beira da calçada, em especial em mesinhas e cadeiras com algum petisco para consumir no meio tempo. Sem muitas opções de lazer em uma cidade de poucos habitantes, os encontros em sorveterias e outros espaços de alimentação eram o principal entretenimento na época. “Era comum vermos pais levando as crianças, casais de namorados passeando pelas ruas. Ir à sorveteria era um momento de lazer”, lembra o empreendedor. A loja foi batizada em homenagem ao pai de Isaias, Francisco Bernardes.
A primeira sorveteria, de apenas quinze metros quadrados, veio após o investimento inicial de seu pai, um produtor de abacaxis e pecuarista. Bernardes tinha apenas 18 anos. “Meu pai se preocupava muito com o meu futuro em uma cidade pequena, e decidiu apoiar esse meu primeiro negócio. Foi o idealizador e investidor de algo que cuidei com muita dedicação”, diz.
Como a empresa cresceu
Sem qualquer experiência gerencial, Bernardes aprendeu a duras penas a conduzir o negócio, especialmente afetado pela sazonalidade do mercado de sorvetes – sem calor, dificilmente as vendas do produto vão bem. A solução foi buscar a expansão fora do interior de Minas Gerais.
Em 1985, a Chiquinho Sorvetes abriu a segunda loja na cidade de Guaíra, a 40 quilômetros da cidade de Barretos, em São Paulo. A partir daí, a empresa começou um denso processo de expansão focado em cidades do interior.
As primeiras unidades foram adquiridas abertas por amigos e familiares, num modelo que se manteve até 2010 e resultou na abertura de 80 unidades em diferentes cidades do país. “Eu tinha 15 unidades, outros familiares tinham 10, alguns oito, outros cinco. Criamos e sempre priorizamos essa estrutura familiar”, diz.
Início das franquias
Um modelo já azeitado de gestão e a capilaridade do grande número de unidades permitiram à Chiquinho Sorvetes se aventurar no universo do franchising. Desde 2018, a rede passou a apostar na abertura de franquias por empreendedores dispostos a levar os sorvetes e o DNA familiar da rede em grandes capitais.
Atualmente, a rede mantém cinco diferentes modelos para os franqueados:
- Lojas de rua, com investimento a partir de R$ 380 mil;
- Lojas em shopping centers, com investimento a partir de R$ 350 mil;
- Loja básica,com investimento a partir de R$ 290 mil
- quiosques, com investimento a partir de R$ 280 mil
- Lojas compactas, para cidades pequenas, de até 50.000 habitantes (em lançamento)
Em 2021, foram quase 100 inaugurações, e um faturamento de 470 milhões de reais. No ano seguinte, a rede teve receita de 500 milhões de reais, e 765 lojas em funcionamento.
Os planos da Chiquinho Sorvetes para o futuro
Como diferenciais do negócio e possíveis justificativas para o bom desempenho mesmo em tempos amargos para a economia, Bernardes destaca o foco no produto. Por lá, as receitas para a bebida láctea, item que dá origem aos sorvetes, é uma patente valiosa para a empresa. “Sempre nos dedicamos à criação de receitas próprias. Desenvolvemos, testamos, erramos e acertamos, tudo isso sem parar, e em busca da melhor receita”.
Trazer a maior quantidade de serviços para dentro de casa também foi uma solução para crescer. A Chiquinho Sorvetes conta com uma agência de publicidade própria, dedicada à programação das ações de divulgação da marca, de desenvolvimento de campanhas e publicações em redes sociais. Além disso, tem um escritório próprio de arquitetura, com 15 arquitetos que trabalham em projetos de abertura e readaptação de lojas. Tudo isso, na ponta, é oferecido como serviço adicional aos futuros franqueados. “Hoje a Chiquinho Sorvetes é estrutura, mas também é serviço”, diz.
Para o futuro, está no plano a venda de software de gestão de varejo para outras redes. “Estamos prontos para atender ao mercado”. “A Chiquinho não está pronta. Temos muito a crescer. Nossos processos de estrutura e gestão estão sempre melhorando”, diz. Junto a isso está o desejo de apostar em ainda mais inaugurações em 2023 — pelo menos 90 lojas devem ser abertas. Já as receitas devem ficar na casa dos 725 milhões, 20% a mais do que no ano passado. “Nosso foco em expansão é agressivo, mas tudo feito com estrutura”.
Fonte: Exame