Empresas apostam em novas linhas de produtos e na junção de vendas físicas e digitais
A retomada das atividades presenciais e da circulação em shoppings e lojas de rua vêm beneficiando as franquias, como mostram dados recentes do setor. As que lidam com produtos de maior valor agregado seguem o ritmo de recuperação, mesmo em um cenário macroeconômico desafiador.
Dono da rede de lojas de vinhos Grand Cru e do ecommerce Evino, a holding Víssimo Group registra aumento na procura tanto nas lojas físicas como no digital, o que tem dado fôlego para novos investimentos.
O grupo prevê para 2022 a venda de 20 milhões de garrafas, com faturamento de R$ 800 milhões. Em 2021, a Organização Internacional do Vinho registrou que o Brasil foi um dos países onde o consumo mais cresceu, com alta de 18,4%.
“O consumo continua crescendo e tem ainda muito a crescer, mas não nos limitamos mais ao vinho”, diz Alexandre Bratt, diretor-executivo do Víssimo Group.
O plano, segundo ele, é aumentar o portfólio das lojas com kits de harmonização e demais produtos ligados à gastronomia. Outras apostas são nos canais múltiplos de vendas, com digitalização das lojas da Grand Cru e também a abertura da primeira loja física da Evino, prevista para o segundo semestre de 2022.
Segundo Bratt, o modelo de franchising não deve perder espaço, já que as lojas atrelam o comércio eletrônico à experiência física. Clientes podem, por exemplo, retirar um produto adquirido via internet em um dos estabelecimentos.
A marca Grand Cru possui 120 lojas em todo o Brasil, sendo 103 franquias. A previsão é abrir 35 novos estabelecimentos em 2022 —o investimento em uma franquia da marca começa a partir de R$ 300 mil.
Também no ramo gourmet, um nicho bem específico foi a escolha do empreendedor paulista Raphael Mazzon: biscoitos finos artesanais para presentear. Dono de dez franquias da Biscoitê na capital e no interior de São Paulo, ele foi atraído pela novidade por ter pouca concorrência.
Criada em 2012, a Biscoitê registrou sua maior expansão em plena pandemia, quando passou de 3 para 40 lojas. No ano passado, cresceu 297% em vendas em comparação a 2020, atingindo um faturamento de R$ 40 milhões.
Com um tíquete médio de R$ 55 e cestas de presentes que podem chegar a R$ 350, a marca começou sua expansão em shoppings voltados a um consumidor de maior poder aquisitivo e lojas de rua, e agora começa a chegar a centros de compras mais populares.
O investimento em uma franquia da marca oscila entre R$ 150 mil e R$ 390 mil, a depender do formato (carrinho, quiosque ou loja com café), com faturamento mensal a partir de R$ 60 mil, podendo chegar a R$ 120 mil.
Os prazos de retorno giram entre 18 e 24 meses —a primeira loja aberta em 2018 por Mazzon, em Campinas (interior de São Paulo), deu retorno em apenas um ano, mas era um cenário pré-pandemia.
Fundador e CEO da Biscoitê, Raul Matos apostou no segmento após trabalhar no setor de alimentos. Chegou a ser sócio de uma empresa que produzia biscoitos para grandes marcas, época em que viajou a mais de 30 países para conhecer esse mercado e buscar receitas. “O Brasil é um dos três maiores mercados para biscoitos no mundo, mas carecia de produtos de maior valor agregado.”
Além de embalagens que garantem o apelo para presentear, um dos diferenciais, segundo Matos, é a constância de novidades. A Biscoitê lança 140 produtos por ano, entre biscoitos doces, salgados e que homenageiam países. Panetones e ovos de Páscoa também entram na lista.
A rede prevê chegar a 60 franquias e faturar R$ 70 milhões até o final do ano, um aumento da receita de 75% em comparação a 2021.
O empreendedor que busca investir em franquias de produtos premium deve mapear o público-alvo da marca, além de apostar em localização privilegiada. No geral, contudo, a modelagem do negócio não difere tanto dos demais, segundo André Friedheim, presidente da ABF (Associação Brasileira de Franchising).
Para a consultora em franquias Ana Vecchi, o mercado de marcas de alto padrão requer um franqueado com um perfil menos operacional e mais gestor. É o empreendedor que raramente é visto na loja, mas está nos bastidores, de olho na contabilidade e no retorno dos clientes sobre a experiência de compra.
“As marcas premium atraem um perfil de investidor que se identifica com a marca e seu universo, muitas vezes sendo um cliente”, diz.
Já no setor de luxo, via de regra, marcas internacionais voltadas ao público de maior poder aquisitivo procuram um parceiro estratégico com conhecimento local. A Iguatemi S.A., holding dona de shoppings de alto padrão, tem uma unidade de negócios, a iRetail, especialmente dedicada a trazer grifes de luxo ao Brasil.
A empresa tem no portfólio sete marcas com lojas físicas exclusivas nos shoppings do grupo: Balenciaga, Birkenstock, Christian Louboutin, Goyard, Missoni, Polo Ralph Lauren e Vilebrequin. Também representa outras marcas que são vendidas no marketplace Iguatemi 365.
Segundo Catharina Palmer Pereira, gerente geral da iRetail, esse consumidor é mais resiliente em períodos incertos ou de crise, o que faz com que as vendas não sejam tão afetadas pela instabilidade. “Isso fez com que a pandemia trouxesse oportunidades. Como os brasileiros não podiam viajar, diversas marcas tiveram desempenho recorde de vendas em território nacional no período.”
As marcas não divulgam faturamento nem percentual de crescimento, mas a Iguatemi apresenta recuperação de desempenho em relação ao período pandêmico, de acordo com Catharina.
Fonte: Folha